quarta-feira, novembro 30, 2016

Buraco da Lacraia, uma Tatuagem no peito

* esse é um texto/carta que tá aqui não com o objetivo de todo mundo ler, já que só envolve duas pessoas - mas pra que daqui muitos anos ele continue existindo. *

Há pouco mais de três anos eu entrava naquele buraco que mesmo com trocadilho uó, não esperava que um dia fosse ser tão embaixo, tão fundo. Tão intenso.

Entrei em uma festa, era festa do povo de cinema. Já fui achando que seria blasé, que seria chata, que o povo ia ficar fazendo pose, que eu ia trabalhar bastante pra que aquilo apenas fosse. E eu tava certa. Mas cheia de ficha de cerveja de graça, ainda que Itaipólvora, podia ir todo mundo embora. Meus amigos foram, um a um, eu não. Seus amigos também, um a um, você não. Eu ali cantando Fagner no Karaokê, blusa de zebra laranja e preta. Cabelos bem longos presos para o alto. Uma franjinha tímida. Você ali embaixo, no balcão, provavelmente de blusa preta. O livro com a lista infinita de músicas nas minhas mãos. Brota você. 

Há pouco tempo esse dia se tornou muitíssimo importante pra mim e mesmo que ele nunca tenha sido importante até então, acho que lembraria por muito tempo de você me dando mole naquele balcão e eu em um ato de susto com seu quase beijo, me esquivando e perguntando se você tava doido. 

Seguimos colegas coniventes daquela noite, afinal, precisava de alguém pra dar cabo de tanta cerveja. E você precisava de uma foto saltando. Um costume, uma tradição, blá blá. Na hora achei bem Q? mas já tinha sacado a câmera, quem sou eu pra julgar?

Dia feito, já era bem de manhã. Um pulo em frente a um caminhão. Foto tirada de primeira. Você mentindo que foi a foto mais foda que já fizeram de você saltando. Eu fingindo que acreditei porque discordar e engatar em mais papo a essa altura seria motivo pra permanecer ainda mais ali naquele buraco que parecia não ter fim. Você na porta com um bico pedindo pelo menos um selinho pra ir embora - isso eu tinha deletado e rolou mesmo! E fico toda toda que você com sua bosta de memória lembre disso. 

Tu perguntando meu whatsapp pra eu enviar a foto. Eu dizendo que não tinha whatsapp mesmo sabendo que você ia achar que é mentira mesmo sendo verdade.  Eu perguntando se tu tinha facebook que mandaria por lá. Você dando seu facebook enfatizando que era com dois G`s. Eu dizendo que ok, mandaria por lá. Você dizendo que eu não mandaria em tom de desafio. Eu desafiando que mandaria em alguns minutos. Eu te mandando em alguns minutos. Você respondendo horas depois que só agora (já era noite) havia chegado em casa de um after que nunca terminou. 

Umas boas semanas seguintes puxando uns assuntos aleatórios. Perguntando qual a boa. Se não ia mais me encontrar por aí. Onde me encontrar por aí. Eu não queria encontrar o playboy pedante que criei baseado em uma vida de buatxis nas redes sociais. E no quase beijo roubado sem meu OK. E naquele corte de cabelo meio sei lá.

Tempos depois o playboy pedante re-reaparece em um janeiro quente e molhado e dá uns sete tapas na imagem rasa e leviana que criei. E também no meu sossego. Ainda bem!

Hoje voltei pela primeira vez no Buraco da Lacraia, depois de todo esse tempo, olhei aquele balcão e veio um turbilhão seguido da pergunta:

Não era playboy, não era pedante, por que caralha não te beijei antes?

<3









quarta-feira, novembro 23, 2016

Engatinhando

Meus olhos famintos engolem cenas casos cores.
A voz ansiosa se destrambelha e vomita o verbo coisar as coisas, coisificados, coisados, coisando tudo.
A palavra escrita ainda é minha maior aliada. Voltei a escrever.

quarta-feira, outubro 26, 2016

Doce cinza

O amor vai circulando junto com as cuecas que passam entre minhas pilhas de roupas limpas. Vem uma preta, vai  uma preta, vem com uma preta, volta com uma preta, larga uma preta na escrivaninha, pega uma preta da gaveta, chega com uma cinza e é quando percebo que esse ciclo existe há meses e eu só saquei agora porque você só usa preto e demorou 8 meses pra deixar uma cinza.

Peguei-a nas duas mãos e naquele ato de fechar os olhos pra sentir melhor, cheirei tão cheirosinho de amaciante: cheiro de amor novinho que carrega por ali pedaço de história. 

segunda-feira, setembro 12, 2016

Nem tudo tem que ser conversado

Eu sou a pessoa do tim tim por tim tim. Preto no braco. Águas claras. Sempre fui. Esses dias vi que talvez não seja assim pra sempre. Esclarecer demais pode ser porta pra confundir. Diálogo é importante mas palavra a mais azeda. Tem coisa que acontece e que não tem que virar conversa. Aguarda. Dissolve. Entende. Ou entende e dissolve. Resolve. Resolve-se.

quinta-feira, agosto 25, 2016

A língua e a pipa

hahahaha ria o menino embaixo da mesa enquanto dividíamos uma quentinha de maneira injusta: eu comendo e ele brincando com meus pés. Vem timbora, senta aqui, vamos comer. hahahaha não, não! Vem, antes que eu acabe com a comida toda! ahahaha tia, você fala errado. Jeferson, Davi, Fernando, olha, olha, ela fala errado! Timbora, Tttttimbora, ela fala assim bem doido! bem doido, bem doido! Oito dedos me apontando enquanto os ombrinhos magros saculejavam dentro de uma gargalhada infantil que já terminou mas ninguém assume o fim primeiro sem conivência. Engata em outra. Em outra. Agora mais leve. Um olhando para o outro na espera pelo sinal do cair no chão de tão cansados que ficaram de rir da cara da tia que fala errado.
Eu não falo errado, eu falo diferente. Vocês não falam errado ou mais certo que eu, vocês também falam diferente. Vai parecer uma loucura o que vou falar mas no mundo inteiro tem muita mas muita gente mesmo que fala diferente. Diferente de mim e de vocês, cada um de um jeito. Um monte de gente diferente.
Que mentira, tia. Eu entendo o Davi, o Jeferson e eles são o mundo inteiro porque eu só conheço eles. Não Lucas, é verdade, tem aquele pessoal que fala de outro planeta, que vem aqui visitar e a gente entende menos que a tia mas eles compram pipa.
Pois é, o Brasil é um país muito grande e tem um monte de gente espalhada por ai que fala diferente, isso se chama sotaque, e a gente entende. Vocês sabiam que fora do Brasil ainda tem vários outros países que falam de um jeito mais diferente ainda e que se a gente não estudar pra aprender é impossível de entender? Não são planetas, são países, igual o Brasil. Se a gente for lá onde eles moram ninguém entende se não tiver estudado também.
Que mentira, tia!!! A tia tá doida!!! A tia tá doida!!! Tia, o Santa Marta fica dentro do Brasil?
Fica.
E por que então esse pessoal de outro planeta que compra pipa só tira foto da gente e fica rindo vermelho quando a gente fala? Eles não estudaram?




domingo, agosto 21, 2016

Sobre o amor e seu trabalho silencioso II

O riso nervoso sobre a tua fala -
Eu te amo
Ama nada



Susto e alívio: você me amando, em voz. Não adorando naquele te adoro que não levo muito a sério porque parece quarta série, não gostando muito que é a frase que sei falar, não doido por mim nas madrugadas em Botafogo: amando. Te amo saindo de sua boca de coração tampada quase que por completa por um bigode não aparado. 

Essas duas palavras mais vastas que um alfabeto inteiro, que inconstitucionalissimamente, que engasgam bem no centro da garganta e causam rebuliço e tremedeira em um ouvido fora de forma. 

Foi pororoca. Rebento. Planctons. 

Acordei. Isso aconteceu. Foi o álcool, foi o momento, foram os astros, errou a palavra, errou a pessoa, falhou no cálculo, era uma música. Quantas desculpas. Criei uma por uma pra te justificar. Te contei. Você já sabia. Era verdade: eu te amo. 

Logo você, quem diria. Segurou na minha mão e foi. Fomos. 2x0 a gente.








quarta-feira, agosto 10, 2016

Sobre o amor e seu trabalho silencioso

A gente vai caminhando sem nem se dar conta enquanto um toque específico, o cheiro, os segredos, a voz e os sorrisos vão trabalhando em silêncio, quem sabe até mangando de nossa cara, e se tornando mais potentes que qualquer palavra amor.



Foto: vidafodona.com

terça-feira, agosto 02, 2016

Dona Rita

Como pode alguém com tanto sofrimento marcado na pele e no peito carregar nos olhinhos apertados, na voz e no toque tamanha doçura?




domingo, julho 24, 2016

Drone

- Fiz uma declaração e você nem ligou 
- Qual?
- Eu não consigo ficar sem você
- aaah consegue sim
- Consigo? Pera ai que eu vou fazer uma foto aérea pra te mostrar 

quinta-feira, julho 07, 2016

Um sonho, uma aposta

Sonhei com bonsai e apesar disso só significar que sonhei com bonsai, acordei confabulando. Quando sonho com algo que confabulo, tenho vontade de jogar no bicho. Mas bonsai não é bicho. Imaginei as raízes presas naquele vasinho inibindo o crescimento de uma árvore que tinha tudo pra ser forte, enorme e com uma copa de falar caramba! Imaginei novamente as raízes dentro daquele pequeno vaso de cerâmica dando voltas e mais voltas querendo ser algo que não se pode ser. Voltas e mais voltas que nem uma cobra. Cobra! Joguei no bicho, ganhei. Minha sorte tá virando.

Apanhador só

Na hora de dobrar as roupas pra guardar de um lote que demorou uma vida pra ser lavado, me deparei com essa camisa. Na hora pensei que não era possível estar pegando nela justo agora quando a última vez que usei foi te mostrando contente que você não tava presente na aula mas de alguma forma estaria. Antes de cair na cilada da tristeza, vi que havia uma frase no fundo da camisa que dizia: "antes que tu conte outra" e soltei um riso. 

É sempre bom lembrar que sou privilegiada em ser espirituosa no lugar de amargar.

quarta-feira, julho 06, 2016

O meu sofrer

Um desespero, um desalento, um descontrole. Não guardo sofrimento pra próxima temporada, para o próximo acontecimento. Largo tudo agora. É tanta da lágrima que quase me afogo. Bebo o copo inteiro em uma só golada. Não deixo pra amanhã o que posso chorar agora. Choro hoje e choro amanhã. Libero. Liberto. Choro, choro mais um pouco, me questiono, questiono o outro. Pretendo dormir um dia inteiro, olho minha cara e minha falta de próprio zelo. Choro mais um pouco, vou até o fim do poço e durmo. 

Acordo, transformo lamento em resignação, força e luto: morreu o boi, Inês é morta e é ali a porta.

segunda-feira, junho 27, 2016

É impulsivo ser feliz sozinho

Essa noite sonhei que guardava meus trocados em um aquário de vidro redondo fechado, apenas com uma pequena abertura, e finalmente havia chegado a hora de quebrá-lo com um martelo. Eu mantinha esse aquário com o mesmo entusiasmo que uma criança nutre seu porquinho de barro. Não achei martelo e taquei ele no chão. Acordei com um espasmo de susto e procurando os cacos de vidro pela cama. Olhei para o lado e tava você, deitado com as pernas dobradas, de costas, fazendo seus barulhinhos. 

Te abracei por trás enganchando daquele jeito que eu gosto e, ainda sem saber o que fazer com minha chateação, se verbalizar ou se dissolver, cheirei tua camisa com cheiro de dormida e adormeci mais um pouco. Acordei algumas vezes procurando os cacos de vidro pela cama, com medo que você se machucasse, com medo que sua mão sangrasse. "Foi só um sonho, não tem caco e nem dinheiro e nem sangue." Tem você e tem eu. Nos reconheci ali naquele ambiente novo-antigo tão nosso mesmo sendo teu. 

Bom dia. Bom dia!

Mochila, casacos, mãos dadas, mãos soltas, silêncios, palavras, sorrisos, dúvidas. Um abraço. Um pensamento verde pretendendo ser maduro. Um sentir maduro achando mais simples voltar a ser verde. Foda-se verde e maduro: o que se é e o que se quer e pronto. Mais um abraço e entro no ônibus meio perdida, me sento na cadeira alta, que é a que mais gosto, pego o celular pra ver as horas e vejo sua mensagem: é obra em cima de mim! Finalmente desvendasse o mistério do andar de cima. Estão em obra. E de algum modo desvendei o meu mistério também: estou em obra para melhor me atender/entender. Esse barulho na cabeça, a rigidez no caminhar, poeira por todos os lados deixando a visão meio zonza algumas vezes e te confundindo tantas outras. Eu não sou assim, estou assim. Estar, uma das maiores virtudes que qualquer pessoa pode ter na vida, pois junto dela vem também a possibilidade de mudança. Estou em obra. Um monte de coisa tá achando seu lugar. Daqui vejo uma parede subindo aqui e ali. Ainda tem poeira mas consigo te ver, estou te vendo, só virar o pescoço que você me enxerga também. Eu posso mas não quero caminhar sozinha. Eu quero caminhar com você. Sobe essa escada e vem?

segunda-feira, junho 20, 2016

Verdades

Quando o silêncio machuca mais que qualquer palavra faca.

domingo, junho 19, 2016

Sobre rebuliços e o tempo

Houve um tempo em que tudo parecia concordar. 

Eu e você embaixo de uma coberta em Santa Teresa e uma garrafa com água de gengibre do lado da cama pra molhar a boca quando ela tava seca de amor recém feito. 


"Você está envolvida demais". Foi o que você disse certo dia pra fugir de você mesmo e de suas emoções. Comprou a própria briga e não arredou o pé sobre uma certeza que só eu poderia ter e não te dei. Dai em diante não aceleramos e nem retornamos. Ficamos alí estacionados por um breve período. Um estado de inércia que mata meu coração ariano, agoniado e pulsante muito mais que qualquer não, que qualquer desistência, que qualquer tiro certeiro. Se é pra ficar parada aqui eu prefiro ir embora. Você não quis que fosse assim mas entendeu. A última coisa que você queria era me magoar. Nisso nós dois concordamos.


Depois veio você de volta quando eu já não estava mais alí. Esperavas pelo mesmo braço, o mesmo olhar, o mesmo carinho, a mesma conexão. Não teve. O braço, o olhar e o carinho não são mais pra você, eles já têm um novo destino, endereço, nome e coração. Foi o que te expliquei quando me cobrasse tudo aquilo que poderia ter sido pra você um dia e não foi porque eu, ora veja, tava envolvida demais. 


Se declarasse com a voz trêmula de nervoso. Me desse mil motivos pra retornar. Me pedisse pra reavaliar. Que era outro tempo. Que era outra pessoa. Que era outro Daniel. Que ele, só agora, percebeu o quanto gostava de mim mas tava em outra fase e não se culpa por isso mas que agora tá aberto, disposto a se entregar, a viver sem amarras, a fazer planos e que pensa em mim um bocado. 


Me chamasse pra conhecer sua casa no mato como quase um troféu pra mostrar que agora era séria a vontade de construir qualquer coisa. Trouxesse limão siciliano como um bom motivo pra eu ir te encontrar novamente. E eu fui. Tentei. Uma, duas, 4 vezes quem sabe. Eu não tava mais alí. Eu queria muito ser muito sua amiga mas ainda existia tesão no ar. Ainda existia um abraço mais longo. Um carinho na voz. Um apelido. Expliquei tudo de novo quando senti que estávamos em ritmos diferentes. Que você era a eu de outrora mas muito mais maduro e decidido. E envolvido mesmo sem evolução alguma de minha parte. Mesmo eu dizendo na lata que gostava mesmo de outra pessoa. Você acreditou que isso podia mudar com o tempo mas eu não queria que mudasse e isso muda tudo. Preferi que a gente parasse porque a última coisa que eu queria era te magoar. Concordamos e você pediu que sobre isso você se preocupasse e não eu. Que quando tivesse ruim pra você, saberias ir embora. Concordei. E nunca mais te vi, te retornei. Não queria que o quando precisasse chegar.


Nunca brigamos. Em todas as situações mantivemos o carinho e o respeito e a vontade de um dia se ver de novo, sabe-se lá como.


Até quando a gente vai viver sem poder ser muito amigo? Quando estaremos, finalmente, em conexão? Foi o que me perguntei quando me chamasse pra fotografar seu show. Achei o convite perfeito pra essa nova fase que tanto desejo e suponho: eu e você, amigos. Cheguei meio sem jeito depois de duas semanas sem te ver. E tendo te visto pela última vez depois de mais duas semanas desviando. Você tava ali, lindo e suave, como de costume. Com os braços enormes pra um abraço. Me desarmei. Me aliviei. Falou que eu tava muito bonita, perguntou se por acaso eu iria sair depois do show com aquele tom que você faz quando quer saber uma coisa mas pergunta outra pra ver se chega na resposta certa.  Você pergunta como vai a minha relação, respondo que muito bem, obrigada e sem entender se aquilo era uma alfinetada. E antes que eu perguntasse qualquer coisa sobre você, pois nem saberia o que perguntar, você se adianta e diz que acha que tá namorando. Devo ter feito uma cara surpresa, tal qual a sua quando contou. 


Rimos juntos. Ao mesmo tempo.


É nessa frase que tudo que me perguntei se responde. Ai tá a conexão e o encontro sem desencontro. Você tá feliz e tá bonito por causa disso. Eu to bonita pela mesma razão, para além do macacão e do batom lilás. Estamos bonitos e rindo na mesma risada, no mesmo ritmo, finalmente.


A vida é a arte do encontro embora tenha tanto desencontro pela vida, dizia o poetinha nessa frase clichê e verdadeira. A gente podia ter se desencontrado pra sempre se bobos fôssemos. Mas não somos. E reconhecemos no outro mil e um motivos pra tentar se encontrar mais uma vez e mais uma vez e quantas vezes forem preciso. E eu sou muito contente por a gente ter finalmente se encontrado.


terça-feira, junho 07, 2016

Permanências

As vezes você pinta como um pincel. Faz cócegas nos meus pés, cutuca com a ponta da haste meu peito e faz desenho no ar. A gente senta na mesa de sinuca, meus pés flutuam e balançam. Você olha em frente sem mira. Eu miro teu nariz empinado. A gente se encontra não se encontra. É tudo uma ilusão.

Tem vezes que você surge como mão. Pega um balde e joga a tinta no piso. Escorrego e caio de cara. Mergulha os dedos nas cores e joga em mim, me cega com tinta nos olhos. Eu choro de todas as cores. Fazemos uma lambança só.

Tem vezes que hiatos. hiatos. hiatos.

A verdade é que você nunca foi embora.

domingo, maio 29, 2016

Terça-feira

A gente costumava se encontrar nas quartas, que era o meinho da semana, o ponto perfeito pra acumular uma saudade e depois ir embora esperando pelo fim de semana que logo chegava. Promoção no cinema, jantar e alguma desculpa pra justificar o encontro, quando na verdade a gente só queria se ver, sem desculpa alguma.

Faz um tempo que as quartas viraram terça-feira. Um dia cheio de motivos. É tanto do motivo que chega explode de energia! Agora o encontro vem acompanhado de frevo. De suor. De ponta de pé e calcanhar. De risadas e estafas físicas. De risos e aprendizados e diversão. Um calor que domina a sala de aula seguido da brisa fresca de Copacabana que deixa a prosa no meio da rua mais agradável. A gente devia marcar uma cerva no fim da aula! Sim!  Aqui tá massa mas a gente tem pressa. Quem vai pra onde? Daqui eu vejo e vivo o caminho até o metrô alegre por entusiastas a passistas, todos cansados. A capinha do Super Homem sempre escondida doida pra voar.

Tem Masterchef, tem fome, tem roupa grudando no couro de tanto suor. Tem aquele banho esperto e garoto que deixa o cheiro de sabonete nas tuas mãos. E eu cheiro. Você na cozinha pegando água. Vem logo que vai começar! Tem o sofá onde me dissolvo, toda torta. Tem teu colo e duas mãos pra um cafuné exausto, vagaroso, espaçado. Movo minha cabeça bem rapidinho na tentativa de chamar tua atenção e conseguir algum carinho mais avançado daquele braço cansado de sombrinha que eu mesma causei. Não tenho muito sucesso. Olho ao redor e vejo tua perna. Levanto a blusa e cheiro teu buchinho. Fome. Domino`s! Catuperoni e La Bianca. Ruivo atento e quase mudo. Agora Renata, faladeira igual a gente. Um pouco de coca-cola que ficou na geladeira, um beijo e outro. Sorvete. Os celulares apitando freneticamente no mesmo grupo. 

Teu colo de novo.

segunda-feira, maio 23, 2016

Cinzas

O fogo
Queimou a palha
E sobrou um bocado
De nada

terça-feira, maio 03, 2016

Inspiração

Meu mapeando de maio, além de uns sacolejos mais palpáveis que os dos últimos meses, dá também uma alfinetada em uma mente que se acha brilhante tantas vezes, cobrando criatividade. Quede sua criatividade, querido áries? Mais ou menos por ai. Ele, o mapeando, tá redondamente correto. Quede minha criatividade? Onde a enfiei? Virei uma máquina de produzir o que me pedem, sem quase questionar e entregar no prazo solicitado em troca de dinheiro? Sim. É o que me parece. Respondo triste mas não surpresa. Há tempos que venho vivendo assim, quadrada como um cubo nada mágico.

No andar de cima de meu armário tem um papel pardo enorme que comprei há quase 1 ano. A ideia era escrever nele tudo que pretendo fazer, projetos, ideias legais mesmo que soltas, uma palavra de incentivo, possibilidades dentro de minhas competências. Comprei também um pilot preto pra ajudar nesse brainstorm de mim mesma. Em julho completa um ano que ele tá ali, em branco, se eu nada fizer pra mudar isso. Estou quase largando esse texto aqui pra continuar ele lá, já era alguma coisa... mas sinto frio, sinto sede, sinto sono. "Amanhã sem falta eu faço isso". Amanhã sem falta dou continuidade no livro que é base pra o ensaio que quero fazer. Amanhã. Amanhã é sempre a esperança por um ontem muito falido. Amanhã quem sabe.

Volto a questionar: por onde anda minha criatividade, ponto alto da característica de minha pessoa? Nem esse blog estou conseguindo manter. Paixão. É por isso que sou movida, só que da pior maneira. Se estou apaixonada, não costumo escrever grande coisa. Se não estou apaixonada, não consigo nem escrever. É preciso estar apaixonada e com um rombo no peito, fodida, catando os cacos pra brotar e ser belo. Deveria, então, buscar por isso? O fim daquele livro depende do fim de minha alegria? Seria isso uma crise criativa?

quinta-feira, abril 28, 2016

Guerra de cheiro

Ir sem pensar em voltar
Voltar já querendo ir
Querendo com medo de ficar
Ficar com medo de ferir
Ferir se ferir e catucar
parar, respirar e

quinta-feira, abril 07, 2016

O erro

Quando você quer que o outro faça e sinta como você faz e sente e esquece que você é você e o outro é outra conversa. E você ainda fica chateado. E a única coisa que te faria não ficar chateado é o outro fazer o que você faria. E você faz de tudo pra pessoa fazer o que você faria mas ela não faz porque ela é ela e não você. E então você lembra que você é você e o outro é o outro e essa é uma conta que só fecha quando a gente cresce e olha além das próprias vontades.

Eu, definitivamente, ainda to engatinhando.

Essa mania de querer me relacionar sempre comigo.


terça-feira, abril 05, 2016

Abril de 2016


Eu ainda tenho dificuldade em mexer no mac e sempre me pego surpresa, para o bem ou para o mal. 

Quando passo fotos da câmera pra ele, por exemplo, um programa que nem conheço e já não gosto abre rapidamente quase me obrigando a importar pra lá enquanto eu só queria abri-las no lightroom.  

O Itunes que me faz dar um pulão da cadeira toda vez que começa a tocar sozinho. Ou quando eu falo pra finalizar o programa e tempos depois ele volta a tocar sem que eu faça nada.

Há pouco fui gravar um dvd com músicas, coisa que pensava ser como vencer as olimpíadas, e por isso mesmo sempre adiei o momento e foi ridículo de simples. Depois ainda ejetei o disco e ele continuou tocando a música que tava rolando até o fim. Magias da maçã.

Agora exportei uns vídeos que foram parar num buraco negro com outros vídeos que eu não fazia nem ideia que estavam nesse computador e, entre eles, um em especial que eu tinha certeza que havia se perdido no tempo e espaço. Talvez o vídeo mais bonito que eu já tenha gravado na vida, pelo menos pra mim. Vi aquele quadradinho ali e tomei um susto: de alegria e desconforto. E agora, que devo fazer? Ignorar e guardá-lo em uma pasta pra não mais perder? Ver esse vídeo que foi visto por mim apenas uma vez em 2013? (não consegui mais assistir depois que passei o restante do dia inteiro chorando no chão frio da sala fria em Copacabana). 

Sim, foi a minha resposta. Peguei então um copo de água, respirei fundo e dei o play, pronta pra receber a sensação qualquer que o universo e aquele vídeo pudessem me trazer hoje, em abril de 2016. Talvez uma noite inteira chorando no Bairro de Fátima, talvez absolutamente nada ou talvez um texto, como tá acontecendo. Corri o risco, como de costume.

Vi o vídeo e ri junto com ele, de alegria e alívio. Em cada balançar de cabeça, sorriso envergonhado, dancinha de mãos, voz, olhinhos apertados e leveza no ar eu acompanhei junto fazendo a mesma coisa. Sorrindo junto, balançando junto, achando bonitinho.

Quando o vídeo acabou e só me restou clicar no X pra fechar a tela, me dei conta de que te coloquei numa posição inferior depois que voltei de Recife. Que ficou um ranço. Que por mais que eu tenha me esforçado pra não sentir isso, te achei menino e bobo. Posição que não bate com a enormidade que você sempre ocupou desde que peguei o avião de ida pra Barcelona, três anos atrás quase que exatamente.

Teu sorriso livre de toda preocupação me perfurou novamente. E só ai tive a certeza que nossa maior bobagem foi tentar ser o que já fomos, mesmo já sabendo que não havia condições. E forçar o que não se pode é triste, é doloroso e até covarde com a história que escrevemos e que é só nossa, apenas nossa, de mais ninguém. 

Fui injusta contigo. Você não foi menino e bobo, ao menos não como eu guardei. Você foi apenas humano e confuso, como somos. Não tenho dúvidas de que esse ranço foi algo mútuo. Os dois querendo algo que não pode e, assim, agindo de maneira estranha. Um corte com faquinha amolada bem no meio do sossego. O relembrar e comparar, se frustrar e não saber o que fazer com isso. Fugir disso. Correr o mais depressa que se pode pra um lugar seguro. O lugar seguro que não sou eu. Eu sou o campo de perigo, a gota de limão que azeda o doce. Algo que precisa ser bem escondido pra não ser lembrado, mencionado, posto em cima da mesa. Isso é o que provavelmente represento agora pra você. E até então você ficou, pra mim, como o óbvio ponto perfeito do bolo que deu errado. Que bom que esse vídeo retornou e que bom que eu ví esse vídeo. 

Hoje finalmente minha ficha caiu e deixei sem dor aquela história bonita e "jogo duro de comparar" em 2013, de onde nunca precisaria ter saído. Aquilo foi aquilo, não volta e nem continua. Não quero ser a gota de limão, você não é o ponto errado. Somos mesmo muito mais.

E é essa carinha leve do vídeo que quero continuar carregando de você, não importa em que ano ou mundo a gente esteja, cada um.

Com amor sempre,

Carlinha.


quinta-feira, março 31, 2016

Nu peito

Coração que anda na mão
Escapole antes no chão

Então suspendo, coloco na boca: engulo
Engasga no esôfago
Falo o que falo que não falo e empurro

Coração de volta ao peito

Onde enterrar palavras que morrem na ponta da língua?

quarta-feira, março 30, 2016

Por favor, não me chame de flor

Chamei de flor porque você não deixa eu chamar de amor.

POF

Eita mlk

Uma semaninha só. Eu me aviso. É bom que dá saudade! 

Como se precisasse da ausência pra isso. Quando juntos, arianinhos, ela existe no durante. No ato. Encostados pele com pele e já saudade. Abraço, carinho, cheiros: acabei de chegar. Eu tava com saudade... aliás continuo com saudade, menina. Avalie no depois. Oito dias de depois. Um celular morto e triste sem SMS. Lacuna na quarta-feira de toda quarta-feira. 

Colchão fofo todos os dias com ciúme do tatame: tão pertinho, tão distante.

quinta-feira, março 24, 2016

Picuinha:

um veneno tão daninho quanto o ciúme.

quarta-feira, março 16, 2016

Francisco


Francisco vai nascer. Ele já tem um bocado de apelido carinhoso: Chico, Chicote, Chicória, Chicão e até Afonsinho (que a mãe não nos escute pra puxar a orelha). Pra mim ele é Francisco e pronto! Um nome bonito feito esse não carece de outro.

Ainda não conheço seu rosto e não tem como saber se os olhos serão enormes e famintos como os da mãe. A cor verde é o que menos importa nesses olhões de mundo, feixe de luz no escuro. Mira e tiro certeiro. Um dardo lançado bem no centro vermelho. Não dá pra saber e, ainda assim, não tenho dúvidas de que sim, serão. Aquelas coisas que a gente sabe sem ver.

Francisco não é o primeiro filho de amigas próximas mas é como se fosse. Talvez porque agora parece tudo mais real e palpável que na época de faculdade onde alguém tinha menino e parecia irresponsabilidade.  Ora, mas há pouco tempo alguns amigos tiveram filhos, programadinhos, casais casados, tudo conforme a sociedade espera. Ainda assim é como se Francisco fosse o primeiro.  Por que? Talvez por ser filho de Amanda. Amanda que até pouco tempo tinha como preocupação os cabelos vermelhos, o cigarro encaixado entre os dedos de uma mão e um copo de cerveja ou o que quer que fosse de mais alcoólico na outra. Um texto coerente, outro nem tanto, um genial, um emprego bom, a aula de balé, a São Salvador, as confusões.

Francisco não vem de um casal casado. Francisco não veio esperado e agora a gente só faz isso da vida: esperar por ele. Francisco não preparou ninguém, muito menos Amanda e agora nunca a vi tão preparada pra tudo o que vier em todo o tempo que a conheço. Francisco ainda não tem rosto - pra gente - mas já o enxergamos de sunga na praia dos Carneiros em um verão desses correndo pra lá e pra cá pedindo picolé. Ele ainda não completou 1 ano e a gente já dança um frevinho miúdo com ele no Acho é Pouquinho aos 3. Francisco me faz olhar a janela do ônibus e ter um cadinho de esperança no mundo mesmo estando tudo errado.
Ele não é o primeiro filho de amigos próximos mas é o filho de Amanda, uma mulher que vi  amadurecer, que tenho vontade de estar perto, que escuto com os ouvidos bem abertos e admiro de doer. Falo dela e meus olhos brilham, tenho certeza. Falo deles e meu peito infla.

Do susto em uma mesa de bar na Tijuca veio a surpresa: hoje não consigo imaginar uma dupla mais forte e esperada do que essa.

sexta-feira, março 11, 2016

Os filhos que não tive

Tereza e Maria, que seriam nossas crias, ficaram no meio do não.

Larali e Laramora, dois sucos e uma história, foram criadas em memórias mas não nasceram em Laranjeiras. E nem vão.

Menina, nossa filha pequenina, bateu asas e ficou.


Aurora, Maria ou João, no último relacionamento tão sedento, se perdeu em andamento e deu de cara com o chão.

Caetano, um filho apenas meu, ainda não nasceu.

Rua, uma menina do futuro, doida pra ser irmã de Caetano, agora vive em mim. 

Estou grávida de uma Rua que nem preciso parir pra ser larga e bonita, 

como todas por aqui.


quarta-feira, março 09, 2016

Antes de entrar, espere sair

Elementar.

Vale pra relacionamento, metrô e até sentimento: antes de entrar, espere sair.

terça-feira, março 08, 2016

Feminino, masculino

- (...) mas esse desodorante é masculino!
- Masculino?
-Sim, cheiro masculino.
- Mas o que é cheiro masculino? Minha mãe usa perfume "masculino" e é mulher.
- É, a minha também.


Até domingo eu achava normal separar o cheiro por masculino e feminino. E não só caí nessa como verbalizei tamanha loucura sem achar estranho durante todos esses anos.
Agora sinto-me tola. E aliviada.
Perfume masculino e perfume feminino é tão deprimente quanto o esquema azul e rosa para crianças. Ora, não pode um homem ter cheiro doce, cheirar a flores e frutas? Não pode uma mulher se agradar pelos amadeirados? Se gosto do cheiro no outro, não posso gostar em mim também?
Quem foi o danado que inventou que cheiro tem sexo?
Doido como a gente luta por igualdade e por um monte de coisa e, na entrelinha da rotina, ainda se pega caindo nessas armadilhas impostas desde sempre, grudadas na gente, difíceis de desgarrar.
Me entristece ver que ainda sou machista em deslizes que tantas vezes nem devo perceber ou que custo a sacar e que a estrada é longa, pra mim e pra um bocado de gente. Por outro lado me alegra bastante escolher estar atenta a isso dia a dia. Todos os dias.
A luta pela igualdade é nossa e mais que nunca é preciso estar atento e forte!
Feliz dia pra mulherada que escolheu educar e também reeducar-se. Vamos juntas que assim somos mais fortes!

segunda-feira, março 07, 2016

O cheiro de minha mãe

Quando chego em casa, antes mesmo de colocar o segundo pé pra dentro, brotam duas possibilidades: 

1) Reconhecer que mamãe tá presente pelo odor de seu cigarro, que sugere que ela tá quase morrendo no CandyCrush ou toda curva sentada numa cadeira qualquer jogando paciência em um notebook todo lascado pela maresia.

2) Reconhecer que ela não tá em casa pelo cheiro de seu perfume largado no corredor que me transporta pra imagem dela bonita, cacheada, bem sucedida e decidida mirando-se no espelho do meu quarto pra ter certeza que aquela roupa tá a altura de sua energia - solar.

Adoro quando minha mãe não tá em casa!

A chicória e o tempo

Eu sou do mato: de mato eu sou, do mato eu vim.

Serei mato sempre e sempre mesmo quando tênis, mesmo quando fumaça de carro e não de madeira queimando. Pra onde eu vou, carrego ele comigo. No jeitinho de falar, de olhar, nos pés calejados e descalços. No chão que eu sento. Nas pernas "sem modos" que se acomodam em cadeiras de restaurante, bancos de praça, poltronas de ônibus, avião e de sala de espera de laboratório médico. Pernas cruzadas, desalinhadas, suspendidas ou soltas por baixo de um vestido fino em uma festa de casamento.

É o meu jeitinho. Acho que vai ser sempre. Mas tem vezes que minha Aldeia fica distante e as memórias vão se perdendo com o passar dos anos, com a urbanização mental que sou exposta diariamente nessa cidade tão grande e tão caos que é o Rio de Janeiro.

Quando penso nisso fico meio muxoxa. Lembro daquela garotinha que andava na estrada de barro pra pegar a kombi e depois mais uns ônibus e muita caminhada com a mochila nas costas que era o mesmo que uma casa. Que não tinha uma escrivaninha pra ler. Ela lia deitada em cima de uma tábua que seu pai encaixou em um pé de caju, lá no alto. Do alto ela lia, alcançava uma fruta doce e travosa e por vezes cochilava ali mesmo naquela madeira que era de sua largura.

Agora, lembrando, me impressiono com o fato de que eu nunca caí lá de cima mesmo quando apagava, algumas vezes, por horas. Só despertava com o cíu-cíu-cíu das cigarras lá para as cinco da tarde, quando era hora de voltar.

~ ~

Em meio a rotina acelerada e doida de cidade grande, o alívio que vez por outra vem: uma memória até então guardada saltando na minha frente.

"Chicória!" Era o que a senhora ao meu lado pedia para o rapaz da feira. Quero dois punhados de chicória. Na hora eu travei a respiração, larguei os saquinhos de cenoura e tomate no tabuleiro e direcionei toda a minha atenção para a chicória que na verdade representava um pedaço de minha infância. Ali, fui transportada para os domingos de peixada.

"Mala, cata umas chicórias pra mim!", meu pai pedia com as mãos sujas de carvão e o peitoral, forte e bronzeado, suando em frente à churrasqueira. E lá ia eu, contente da vida, catar aquela folhinha de beirada crespa que nascia no meio da grama e dava o gosto do domingo. Me soltava no meio do mato e só voltava com as mãos cheias dela.

"Se ninguém plantou, como que ela nasceu aqui?" Eu me perguntava aos 9 anos. Me perguntei novamente agora, aos quase 28.

Domingos e mais domingos me sentindo a salvadora do peixe. Sem chicória o tempero não seria o mesmo. Sem meu minucioso trabalho de procurá-las em meio ao mato, também não. Mas o que me instigava mesmo era ver o orgulho de meu pai que transformava qualquer ato simples em uma grande gincana: missão dada e missão cumprida significavam a mesma coisa.

Sábado peguei a chicória nas mãos mais uma vez e senti Aldeia bem de perto.

O mato que me habita.

quarta-feira, março 02, 2016

Sobre paciência

De grão em grão a Carlinha enche o saco.

segunda-feira, fevereiro 29, 2016

Você

Recorte no tempo ou uma colagem?

terça-feira, fevereiro 23, 2016

Pedacinhos

- Minha panturrilha é linda! É a parte do meu corpo que eu mais gosto. 
- A parte do teu corpo que eu mais gosto é o beijo, pensei.

- É bonita mesmo. Tua perna toda é bonita!

24h e uma vida - Final

O bar fechou. Tudo fechou. 5am. E agora? A gente tem que ir embora, né?

CA-RA-LHO, olhe isso. PQP, bateu. Será que só bateu agora? O que é isso, po?! Que água é essa? Que céu é esse? O que é isso? Bora ali ver de perto? Bora! Ei, bora subir nessas pedras e ver de perto mesmo? Sim! Silêncios. Sorrisos. Fotos. Não sei quanto tempo passou até que a gente decidisse que já tava bom de pedra, que a bunda tava doendo, que bora pra calçada. tirei meu tênis. Fiquei só de meias. Cuidado pra não escorregar! A onda quebrava nas pedras e espirrava na gente uma água gostosa. Vou escorregar não, fica peixe. Vou levantar! Queres ajuda? Segura aqui! E tu se levantava e, em seguida, caída de bunda nas pedras. Eita carai, tas bem? Uma crise de riso respondia que foda-se, to feliz. Sim, tas feliz mas tas preso. A bunda encaixou perfeitamente entre as pedras. E agora? Me dá cá a mão. E cadê força? Quem tem força dentro de uma crise de riso? Levanta, carai. Levantei. 

E agora, tá na hora de ir embora, né? Os ambulantes todos dormindo juntinho de seus isopores. Po, bora dar um relax aqui na calçada. Deitei. Deitasse. Deitamos. Riso e mais riso. Bora cochilar? Não, a gente vai acordar meio dia tostados, vai ser foda. Tá. Bora dar um tempo aqui, tá massa. Tá massa. Bom dia, gente! Falava uma alucinação ou um rapaz fazendo cooper em plena 7h de um domingo de carnaval em Olinda. Bom dia, a gente respondia sem entender. Ei, a gente tá há quase 24h em Olinda, po! Que do caralho! Nunca fiz isso. To compensando todos os anos de carnaval que perdi. Foda. Foda, mas bora nessa? Amanhã ainda tem mais farra. Po, pela hora, talvez valha a pena a gente ficar direto. Será? Po, não sei, a gente vai ficar muito fodido, né? É. A bronca é que a gente quer ver o show de noitão ainda, não vamos aguentar se emendar. E se a gente dormir ali junto dos ambulantes? Po, mas eles vão acordar jaja. E vai tá aquele sol mais foda do que já tá. E a gente tá cheio de lama desde 9h de ontem, po. A gente precisa dormir se quiser aproveitar hoje/amanhã. Então vamo nessa? Vamo! 

Que parede F-O-D-A. Foda. Porra, vou ter que gastar mais um foto dessa câmera. Já tirei 9, po. Ainda tem vários dias. Foda-se, a gente vai ter que fazer essa foto. Vai pra lá, pra tu sair nela! Beleza. Vou subir na janela, tá? Oxe, e tem como? Me dá um help ai que eu subo. Mas não tem onde segurar, porra. Quase não tem onde colocar os pés. Dane-se, dou meu jeito. Só saio nessa foto se for aqui em cima. Eita, tem dois pregos. Vou me sustentar nesses dois pregos. Clica logo! Tá! Ei, vira, po. Pra sair teu rosto. Clica logo carai, vou cair! Foi! Me ajuda a descer. Que cena linda. Tu em cima de uma janela só de meias e essa blusa escrita Carlaum. Espero que essa foto saia. Também!

Vamo nessa? Vamo!

Eita, tas ouvindo essa música? To. Porra, tem gente ouvindo música uma hora dessas? Vou bater na porta. Não, po, dispense. E então empurro a janela como quem não quer nada. E ela se abre. Uma casa, um bar? Que é isso? Querem tomar a saideira aqui? Pergunta um moço que surge na janela. R$5 a heineken. A gente avalia os bolsos: cada um tem 15 reais. E decidimos gastar o dinheiro do taxi em bebida. Po, separa o do busão, pelo menos. Duas cervejas, bate papo, uma luz linda. Vou ter que gastar outra foto desse filme, foda-se. Eu olho aquele canto, ele também. E se a gente dormir ali? Já tá na hora de voltar pra Olinda e a gente ainda nem saiu, po. Cara, a gente tem 5 conto no bolso cada um e estamos sem cartão, o que vamos fazer em Olinda ainda? Verdade. Vamo nessa. Vamo nessa.

Eu, de meias, agora imundas, caminho com os tênis nas mãos enquanto você sugere: se passar um bloco é um sinal - a gente fica. Combinado. Não passou bloco. E nem ônibus. A gente vai ter que caminhar até a pqp. O sol queimava demais as canelas. Só as canelas. Muito as canelas. Que louco! Tá queimando muito, porra! Tá foda. Eita, Cruz Cabugá, é o meu! Te estalei um beijo, não deu tempo para o abraço e pulei dentro do ônibus. Moça, você tá apenas de meias, alertava o motorista com o riso no canto de boca. Eu sei, moço. É que tá doendo demais meu pé. Você passa perto da Aurora, né? Sim, eu te deixo na Rua da Saudade.

Desco do ônibus, olho a placa: Rua da saudade. Rio e choro sozinha. Caminho em direção à Aurora tendo a certeza que sou a pessoa mais sortuda que conheço. Agradeço por tudo. Choro mais um pouco. Dou mais uma risada.

Rua da Saudade, dou um riso sacana. E o carnaval tá só começando!




24h e uma vida - Parte IV


*relatos sobre o sábado de carnaval dividido em fragmentos.



Ladeira da Misericórdia. Te puxo para o degrau: preciso falar com você agora! Gente, olha o arrastão! A gente precisa ir embora daqui agora! Podem ir, a gente vai conversar. Gente, tá vindo um arrastão. Foda-se, a gente vai conversar, podem ir indo, galera. Te puxo para o canto do degrau. Aqui ninguém vai roubar a gente, podemos conversar em paz. 

Encostados, ficamos ali, arrastão passando, o mundo se acabando e nós dois abraçados. Monólogo, lágrimas: uma tuia. Minhas e tuas. Seremos, então, só amigos. Não somos paquerinhas. Somos mais que essa porra toda. Não vamos agir assim, vamos ser como sempre fomos, parceiros e sem frescura, mesmo que em outro formato. Menos do que a gente era não tem condições. Somos muito mais que tudo isso. Sim, sim. Concorda? Concordo, mas não é fácil. Não é, ninguém disse que seria. Então estamos combinados, eu não te beijo mais. Chega. 

Um riso descontrolado: caramba, a gente teve uma DR no meio de um arrastão! Pqp, só podia ser a gente. Só podia. Vamo nessa? Vamo! Cacete, tá vazio aqui. Segura minha mão, bora descer essa ladeira correndo, assim ninguém nos rouba. Sim. Mãos dadas, firmes. 1, 2, 3 e já! Carreira. Riso. Carreira. Não tropeça pelo amor de deus. E agora? Bora pra Siba? Oxe, bora! Será que ainda tá rolando? Bora sacar. Siba, uma roda enorme, a galera animadíssima. Ele gostando sem conhecer, eu me esbaldando e entrando na roda de pogo, pra variar. Ele também. 

O show acaba e começa uma roda de côco com a xêpa carnavalesca. Eu no meio da roda dançando com minha saia imaginária. Que lindo isso! Tu dançando comigo. Que lindo isso! Eita, Beth! Bora entrar na roda? Bora! Que massa, tu aqui! A moça do ganzá foi embora, e agora? Agora eu pego o ganzá e seguimos o baile. E o côco não para. Alguém puxa uma música, depois outra, depois silencia e eu lanço Lia. Todo mundo na roda que agora virou de ciranda. Que lindo isso! Teus olhinhos assistiam a tudo brilhando sem parar. Fim da roda. E agora? Cerveja de garrafa naquele bar. Não pode mais entrar, gente. Ah, por favor, só uminha! Não pode. Puxa, nem comprar no balcão e sair com os copos cheios? Não, só vendemos sentado na mesa. Então deixa a gente entrar, é só uminha. Não. Po, libera ai só pra gente comprar uma, então. Ok. Uma cerveja, por favor! Litrão que dura mais? Sim! Eita, olha uma mesa ali. Ainda tem gente sentado. Senta ai. Sentamos. Eu, você, um litrão e dois sorrisos gigantes estampando aquela mesa. Tu me olha, eu te olho: caralho, eu te amo! Eu também, porra!!!

Barcelona, pis Joanic, eu, você. Sempre é assim. É inesgotável a conversa. E o sentimento. E as lágrimas. Teus olhinhos agora estourando de tão vermelhos. "É que é jogo sujo nossa história, po. É foda, nenhuma dá pra comparar. É difícil pra caralho pra mim, porra", você dizia entre lágrimas e um olhar distante, em 3 anos atrás. E eu do lado, entre um gole e outro, não tendo como não concordar. É foda mesmo. 
É foda, po! 

Um litrão, uma retrospectiva, o amor ali mais visível que osso em fratura exposta. 

Coração exposto. 

24h e uma vida - Parte III

*relatos sobre o sábado de carnaval dividido em fragmentos.



Demorei uns bons segundos pra entender que eu tava no chão. Pé no chão e mente flutuante. O carnaval é mesmo uma beleza! Cada ano mais. Como é bom estar aqui novamente. Aqui, exatamente aqui e desse jeitinho. 

Mangueira descendo a ladeira, um universo verde e rosa e minha vista endoidecida de cores e alegria. Isso podia durar pra sempre. Eu sempre me levando a sério. 

Partiu Acho é Pouco? Sim, não, sim, pera ainda, jájá, só mais um cadinho, não! Bora! Vocês vão? Sim, não, vou se ele for, vou se todo mundo for, bora, pera, não. Fui. Fomos. Cadê o dragão? Tá no Carmo, tá chegando no Carmo, faz tempo que não vejo, já acabou, claro que não, só acaba lá pra onze horas. Bora, apressa o passo! A gente vai pegar esse dragão. Ó ele ali! Eita, bora, bora. Cordão, banda, dragão, alegria. Alegria. Alegria. Aperto, aperta. Garganta, pulmão. Vermelho e amarelo. O vermelho e o amarelo morrendo no Carmo. Rodrigo tá chamando pra ir pra Gravatá ver o show de Jards, bora? Carai, a gente vai viajar a essa hora até Gravatá? Sim, po, Rodrigo passou o dia em casa, não bebeu e vai dirigindo. Vamo nessa? Vamo! Eita, o show já foi, era mais cedo. Bora em Juju, então? Bora! Desce 4 caldinhos de sururu e uma cerveja bem gelada. Sururu médio, cerveja quente. SMS. Ligação. Brecht brotando em juju, ajoelhado do meu lado. Uma alucinação. Um sonho. 

A galera tá ligando! Bora encontrar todo mundo? Bora! Todo mundo junto, todo mundo. Quando o dia parecia ter terminado, ele só tava começando. Bora no Fortim sacar o que tá rolando? Bora! Show médio, pessoas empolgadas. Cerveja, bora comprar uma cerveja ali. Um frevo animado tocou. Atravessei a avenida frevando como se o mundo fosse acabar. Quanto custa a cerveja? Pra você é de graça, estás trabalhando igual a mim, animando com tua dança o carnaval. Puxa, obrigada! Cerveja na mão e amigos orgulhosos. E agora? Casa de Amanda ali no Bonfim pra dar um tempo, bora? Bora! Violão e um bocado de gente cantando. A gente cantando. Fagner, Molejo, Djavan, o que viesse. Bora comprar cerveja? Bora! Um saco enorme de arroz daqueles bem brutos de feira cheio de cerveja e skol beats azul chegando na casa. Eita porra! Que instiga! E ai, galera, bora no Homem da Meia Noite? Sim, não, sim, não. SIM. Bora, tá na hora. Alguém sabe chegar lá? Eu sei! Porra, o gringo vai guiar a gente? Oxe, ele é o mais maloqueiro de todo mundo, minha gente, se enganem com essa carinha não.

Homem da Meia Noite. Um beijo. Uma frustração.Tiro, porrada e bomba. Cadê ele? Que demora danada! Ele vem mesmo? Vem! Ele passa por aqui mesmo? Sim, ele passa por aqui, nos informou uma menina dando toda uma aula sobre o Homem. Lá vem ele. Eita peste. Lá vem ele. Emoção, correria, quero ver de perto. "Só deu tempo de ver o nome Carlaum correndo atrás do homem, tu és muita instiga, Carlinha!" 

O Homem demora que só a passar e quando passa é tão rápido! Já acabou mas já tá tarde pra cacete. Vamo embora? Vamo! 

quinta-feira, fevereiro 18, 2016

24h e uma vida - Parte II

*relatos sobre o sábado de carnaval dividido em fragmentos.


A tatuagem corre pra lá e pra cá. Começa de manhã cedo, palhas enrolando minha cabeça e a pouca noção de tudo que tava por vir. Bom dia! Bom dia! Um riso frouxo sonolento me avaliava e sorria de alegria ao perceber que era sábado de carnaval. Até já! Até! Tas linda!

Um ônibus para o melhor dia do ano. Um ônibus para as ladeiras. Chegamos, nem acredito! Ainda tímida e em frente ao Mosteiro de São Bento, os barris de lama eram pura benção! Queria mergulhar ali como quem mergulha no carnaval. Aperto, aperta, aperto! Prefeitura. Aperto, mais aperto! Bora respirar! Bora comprar um axé! 


Um axé na mão e mil ladeiras na cabeça. Mac. Bowie. Que boniteza, que enormidade! Você ali. Você e a câmera de plástico, eu com o celular. Tchau, até já. A gente se encontra. Os bloquinhos são os mesmos. Sim, a gente se encontra, relaxe. Sim. Tchau, tchau! 

Sobe o MAC, desce o MAC. Encontro Paca que pergunta por Dumbo. Uma crise de riso me invade informando que bateu. 

"Tu tens noção que tem MUITA coisa pra acontecer hoje?" me perguntava Nath cheia de sabedoria. "Sim. A gente tá aqui agora, 11h. Mais tarde a gente corta a cena e pensa em tudo o que aconteceu", eu respondia entre um gole e outro do Axé.


Mangueira. Quanta gente querida. Que alegria desesperada! Purpurina, uma chuva delas. Um saco de um quilo rosa voando pelas mãos de Thales e pelas nossas mentes. Quanta gente querida! Que beleza que é esse bloco. Sim, mas tá parado. Tá morgado. Tá blasé. Ainda custa a sair. Que beleza de bloco! Sim, mas preciso andar, você também? Sim! 


Aperto, aperta. Caipi de Siriguela. Um riso, uma gargalhada, uma crise - mais uma. Um total descontrole, um derramamento. Uma barriga doendo de tanto sorrir. Bora voltar, o bloco já deve tá saindo! Bora ficar aqui em cima dessa calçada alta pra esperar o bloco descer. Bora! Eita, olha Lucas ali! Eita, ele tá vindo aqui! Braços abertos. Braços abertos de volta. Um abraço no ar. Um giro de 360 graus. Meus pés flutuando - literalmente - um beijo giratório. Sou devolvida para o mesmo local, mesma calçada e segue o carnaval.

"Que beijo bonito da porra!!!", é o que todos falam sem parar enquanto ainda me sinto flutuando. "Isso sim é um belo beijo de carnaval!", alguém completa.

24h e uma vida - Parte I

Meu sábado de carnaval não acabou. 

É verdade quando digo isso e vai além das 24h que passei em Olinda. Eu, que até então não tinha tatuagem no corpo, agora tenho uma que cirurgia nenhuma seria capaz de passar por cima mesmo que algum dia eu viesse à loucura e me arrependesse dela. 

Tem uma tatuagem bem bonita grudada em cada pedacinho de mim e quando paro pra avaliar com lupa, a tatuagem gruda mais um cadinho. Ela não tem forma definida, ela é líquida e gasosa e flutua sem parar em cada poro. Entra e sai de mim em cada respiração. Batuca e reverbera em cada batida no peito. Dá um passo a frente cada vez que me desloco. 

Meus pés, pequenos e grosseiros, carregam essa força toda. 
Meu coração, enorme e frágil, também. 

*relatos sobre o sábado de carnaval dividido em fragmentos.

quarta-feira, fevereiro 17, 2016

No ar (texto de 21 de Janeiro de 2016)

Você vai me encontrar no aeroporto. A primeira pessoa do Recife que vou encontrar e logo no aeroporto e logo você. Me surpreendo e em seguida penso que não haveria mesmo motivo pra ser diferente. Só então me dou conta da dimensão de tudo. Que irônico, sempre precisei passar por aeroportos pra te encontrar com uma felicidade de explodir o peito. E depois por eles novamente pra levar comigo e deixar contigo o gosto amargo do “adios”. 

Agora escrevo de dentro do avião e em menos de 1h vou ver esses olhinhos apertadinhos mais uma vez. Eu não acredito. Eu acho que é mentira. É mentira? Me pergunto muito seriamente. Percebi que não desgrudo o sorriso da boca nem por um segundo. Fechei os olhos e deixei o sol de fim de tarde corar meu rosto pela janelinha do avião. E meu sorriso largo continuava lá. Dei um cochilo e, entre a voz sensual da aeromoça no microfone e a cadeira que não acomoda muito bem o corpo, me vi sorrindo novamente. Pagar R$15 reais por um sanduíche sem graça também não me chateou. Ver que estou de blusão e short e sem nenhuma maquiagem e nem pompa pra te rever também não me desanima, sei que estou tão radiante que essa luz ultrapassa qualquer batom. Nada, nada tira meu sorriso da cara. Nem o aviso de que o voo atrasou 1h. Ainda assim o sorriso permaneceu.


Acho que quando a gente se encontrar, se olhar e caminhar em direção ao outro cada passo chegando mais perto, vai ser tanto do sorriso mas tanto do sorriso que o universo inteiro, de alguma forma, vai sorrir junto também.