terça-feira, fevereiro 23, 2016

24h e uma vida - Final

O bar fechou. Tudo fechou. 5am. E agora? A gente tem que ir embora, né?

CA-RA-LHO, olhe isso. PQP, bateu. Será que só bateu agora? O que é isso, po?! Que água é essa? Que céu é esse? O que é isso? Bora ali ver de perto? Bora! Ei, bora subir nessas pedras e ver de perto mesmo? Sim! Silêncios. Sorrisos. Fotos. Não sei quanto tempo passou até que a gente decidisse que já tava bom de pedra, que a bunda tava doendo, que bora pra calçada. tirei meu tênis. Fiquei só de meias. Cuidado pra não escorregar! A onda quebrava nas pedras e espirrava na gente uma água gostosa. Vou escorregar não, fica peixe. Vou levantar! Queres ajuda? Segura aqui! E tu se levantava e, em seguida, caída de bunda nas pedras. Eita carai, tas bem? Uma crise de riso respondia que foda-se, to feliz. Sim, tas feliz mas tas preso. A bunda encaixou perfeitamente entre as pedras. E agora? Me dá cá a mão. E cadê força? Quem tem força dentro de uma crise de riso? Levanta, carai. Levantei. 

E agora, tá na hora de ir embora, né? Os ambulantes todos dormindo juntinho de seus isopores. Po, bora dar um relax aqui na calçada. Deitei. Deitasse. Deitamos. Riso e mais riso. Bora cochilar? Não, a gente vai acordar meio dia tostados, vai ser foda. Tá. Bora dar um tempo aqui, tá massa. Tá massa. Bom dia, gente! Falava uma alucinação ou um rapaz fazendo cooper em plena 7h de um domingo de carnaval em Olinda. Bom dia, a gente respondia sem entender. Ei, a gente tá há quase 24h em Olinda, po! Que do caralho! Nunca fiz isso. To compensando todos os anos de carnaval que perdi. Foda. Foda, mas bora nessa? Amanhã ainda tem mais farra. Po, pela hora, talvez valha a pena a gente ficar direto. Será? Po, não sei, a gente vai ficar muito fodido, né? É. A bronca é que a gente quer ver o show de noitão ainda, não vamos aguentar se emendar. E se a gente dormir ali junto dos ambulantes? Po, mas eles vão acordar jaja. E vai tá aquele sol mais foda do que já tá. E a gente tá cheio de lama desde 9h de ontem, po. A gente precisa dormir se quiser aproveitar hoje/amanhã. Então vamo nessa? Vamo! 

Que parede F-O-D-A. Foda. Porra, vou ter que gastar mais um foto dessa câmera. Já tirei 9, po. Ainda tem vários dias. Foda-se, a gente vai ter que fazer essa foto. Vai pra lá, pra tu sair nela! Beleza. Vou subir na janela, tá? Oxe, e tem como? Me dá um help ai que eu subo. Mas não tem onde segurar, porra. Quase não tem onde colocar os pés. Dane-se, dou meu jeito. Só saio nessa foto se for aqui em cima. Eita, tem dois pregos. Vou me sustentar nesses dois pregos. Clica logo! Tá! Ei, vira, po. Pra sair teu rosto. Clica logo carai, vou cair! Foi! Me ajuda a descer. Que cena linda. Tu em cima de uma janela só de meias e essa blusa escrita Carlaum. Espero que essa foto saia. Também!

Vamo nessa? Vamo!

Eita, tas ouvindo essa música? To. Porra, tem gente ouvindo música uma hora dessas? Vou bater na porta. Não, po, dispense. E então empurro a janela como quem não quer nada. E ela se abre. Uma casa, um bar? Que é isso? Querem tomar a saideira aqui? Pergunta um moço que surge na janela. R$5 a heineken. A gente avalia os bolsos: cada um tem 15 reais. E decidimos gastar o dinheiro do taxi em bebida. Po, separa o do busão, pelo menos. Duas cervejas, bate papo, uma luz linda. Vou ter que gastar outra foto desse filme, foda-se. Eu olho aquele canto, ele também. E se a gente dormir ali? Já tá na hora de voltar pra Olinda e a gente ainda nem saiu, po. Cara, a gente tem 5 conto no bolso cada um e estamos sem cartão, o que vamos fazer em Olinda ainda? Verdade. Vamo nessa. Vamo nessa.

Eu, de meias, agora imundas, caminho com os tênis nas mãos enquanto você sugere: se passar um bloco é um sinal - a gente fica. Combinado. Não passou bloco. E nem ônibus. A gente vai ter que caminhar até a pqp. O sol queimava demais as canelas. Só as canelas. Muito as canelas. Que louco! Tá queimando muito, porra! Tá foda. Eita, Cruz Cabugá, é o meu! Te estalei um beijo, não deu tempo para o abraço e pulei dentro do ônibus. Moça, você tá apenas de meias, alertava o motorista com o riso no canto de boca. Eu sei, moço. É que tá doendo demais meu pé. Você passa perto da Aurora, né? Sim, eu te deixo na Rua da Saudade.

Desco do ônibus, olho a placa: Rua da saudade. Rio e choro sozinha. Caminho em direção à Aurora tendo a certeza que sou a pessoa mais sortuda que conheço. Agradeço por tudo. Choro mais um pouco. Dou mais uma risada.

Rua da Saudade, dou um riso sacana. E o carnaval tá só começando!




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