domingo, outubro 31, 2010

Como no princípio, o feto: em busca do sim, do não, do gesto.


Morenamente leve o coração abre e fecha, abre e fecha... Em um eterno estado de porta, em um eterno estado de mulher. A busca tranquila por alguma coisa que preencha, que esvazie, que busque junto. Que junto. Em uma sequência de vida que leva a não busca mas ao encontro. De dois. As vezes de mais. Que passa, ora que segue, ora que fica, que finca. Que parte. Que parte no meio, em dois pedaços esfarelados. Em dois pedaços baleados. Em dois pedaços sadios. Em dois pedaços pensativos. Em dois pedaços adultos. Em dois pedaços incansavelmente prontos para serem costurados novamente por dentro do peito, por dentro do meio, por um meio, um meio de. que. hein. como. onde. cadê. o que.
Como no princípio, o feto: em busca do sim. do não. do gesto,

explicou Maria para a psicanalista.

terça-feira, outubro 26, 2010

Insônia é o mal do tempo, para a cura: poesia!


Primavera aqui dentro
Chove lá fora
Cato o vento

Verniz nos teus olhos
Pintado e insano
Desejo contido
Contigo eu chamo

O dia que passa
A hora que chega
O sono perdido
No livro da mesa

Vida que segue
Vida que breve
Leve,
leve,
leve...

Meu santo é forte
Meu santo é forte
Me livre da dor
Me risque do corte


S O R T E

Saravá!


sábado, outubro 23, 2010

Eu tenho fome

Hoje acordei com flashes do meu sonho: a calçada da Boa Vista repleta de gente pedindo dinheiro, pedindo arrego, pedindo esmola, pedindo atenção, pedindo... Acho que foi um pouco do reflexo de ontem, que passei por aquelas ruas... com mormaço, chuva,calor, agonia,gritaria e gente com fome.

Hoje quando levantei, percebi que existia um trecho na minha cabeça. Não é poesia e nem nada, mas ela amanheceu de forma direta, como se já existisse antes. Chegou direitinho,sem insegurança, sem forçar a lembrança, sem palavra faltando e um pouco desconexa, sim. Mas na ponta da língua, como seu eu já tivesse escrito antes:

É tanta gente com fome
Que meus lábios prendem entre os dentes

É tanta gente com fome
Que meus laços pendem

Que meus lábios prendem entre os dentes
Que meus lábios pedem

e soltam

cheios de um sangue qualquer

E isso me fez lembrar um texto que fiz há muito tempo sobre o Centro do Recife com a visão de um menino de rua, já publiquei ele aqui, mas tá valendo rever:


No Centro do Recife

Acordei antes que o sol saisse e queimasse meus olhos quase sem sonhos. Percorri ruas e avenidas cobertas pela neblina de um dia que tava para chegar. Logo as padarias fariam cheiro de pão fresco e meu cheiro não era dos melhores. Já nem sei se meu desejo é comer esse pão ou o galeto que não para de rodar na "televisão de cachorro" (e minha).

Ando pelas ruas e ninguém me vê. Será que sou feio? Acordei mas ninguém me vê. Acordei e o mundo não acordou pra mim...


Já é dia feito, dia claro. Por entre sinais e avenidas meu dia vai correndo, a televisão para cachorro vai rodando, o pão vai saindo e aquela mulher vai chegando. Aquela mulher... Todos os dias ela vem nesse mesmo horário comprar o jornal.
Nunca entendi pra que comprar jornal, um bolo de papel sujo que mais parece jogo de repetição: bala perdida no Rio de janeiro, briga entre gangs, polícia matando gente inocente, homicídio em Casa Amarela, gente morrendo de fome no Coque,o náutico perdendo, show de nação zumbi no Marco zero e o horóscopo que é a mesma coisa todos os dias. Mas eu nem digo, ninguém me ouve mesmo. Aliás, ninguém me vê,né?

É hora do almoço e no Centro da cidade fica uma danação de gente gritando fora dos restaurantes o prato do dia, o pf que custa 5 reais. Eu nem sei se pra esse povo isso é caro ou barato.

Na ponte fica gente vendendo peixe nos saquinhos com água. Tem um menino galeguinho que sempre vai comprar, ele gosta de ver a briga das betas brabas. Tem outro que tira a hora do almoço pra ver o sol e acaba comprando um doce ou um pedaço de queijo manteiga.

Na padaria da Imperatriz sempre parece uma festa, meu sonho é comer aquela pizza de queijo que transborda. Já comi queijo uma vez, no natal passado ganhei uma bola de queijo do reino da senhora do jornal. Fui mordendo e mordendo até chegar na parte de ferro, rasguei minha boca e o gosto azedo do queijo misturou com o amargo do sangue. Nunca levei um corte com tanta felicidade no mundo!! Eu gosto de queijo, acho que gosto. Queijo é uma palavra engraçada,né? Queijo, queijo, queijo, queijo. O bom é que eu posso falar coisa besta que ninguém me escuta mesmo, aliás, ninguém me vê, né?

O sol começa a cair e eu gosto de ver a movimentação da turma saindo do trabalho. É tanta gente que fica ali na parada dos correios. É mulher com menino e sacola, é menina pedindo informação, todo mundo querendo chegar em casa pra comer... Queijo? (acho que diferente de feijão, arroz e macarrão eu só tou lembrando de queijo mesmo... assim.. de coisa diferente, né?)

Ai quando o sol vai simbora, as luzes do Recife começam a acender. Essa é a hora do dia que eu mais gosto. Como são bonitas as lâmpadas amarelas. É diferente daquela que eu vejo naquele prédio bem grande que tem do outro lado da ponte. Ah, falando nas pontes, essa é minha maior diversão. Atravessar todas as pontes contando quantos peixes a turma conseguiu pescar. Tem uns meninos que ficam contando quantos carros preto passam, mas eles só sabem contar até dez... Ai ficam repetindo a sequência dos números e nunca descobrem quem ganhou. Eu prefiro contar quantos patos (nem sei se são patos), aquele bicho branco que voa que nao é pato, ali do outro lado da Aurora fica um bucado, parado, dormindo.

Depois eu me canso. No final do dia minha canela não consegue ser mais fina e minha barriga nem tem graça. Mas eu vou dizer a quem? Ninguém me ouve mesmo, quer dizer... ninguém me vê,né?

O que me resta é dormir

Antes que o sol saia e queime meus olhos quase sem sonhos.

Carla Alencar.

segunda-feira, outubro 18, 2010

Software livre do vírus, do custo, do peso... (do Windows)!


Fazia um tempo que eu ouvia falar sobre o software livre, mas admito que não dava muito cartaz. Achava que era papo de gente cultural/tecnológica/sustentável e que funcionava apenas na teoria. Afinal, se o negócio fosse bom mesmo, a grande maioria já teria aderido e o nosso querido Windows teria ido para o espaço, como foi o caso do meu.


E sim, esse questionamento a respeito da difusão do software livre ainda tá na minha cabeça, vou procurar saber mais sobre isso.


Ontem fui facilmente convencida a fazer um backup e instalá-lo no meu notebook, por várias razões: Livre do vírus, livre de ter que baixar tantos programas (ele contém, pelo menos até agora, tudo o que preciso e não estou tendo dificuldade em mexer em editores de texto e imagem, por exemplo). Os programas possuem nomes diferentes, mas funcionam iguais aos do Windows, a diferença é que você não precisa correr riscos e ficar baixando nada, ele já tá lá. O computador ganhou em velocidade, e, agora, contém um sistema de segurança bacana, onde só é possível navegar passando por alguns testes e senhas, sem contar com o design moderno e limpo, parecido com o do MAC.


Ainda é cedo pra afirmar que sou total adepta ou pagar o maior pau pela liberdade, mas já é notável, mesmo que prematuramente, as mudanças positivas.


Windows, bye bye!

Bruno, thanks!




sábado, outubro 09, 2010

Bota fogo


O que guardei de você
foi aquela coisinha doce que durou tão pouco
como gosto de sete belo depois que já foi engolido junto com água

Não sou movida a mágoas

A lembrança que tenho não dói e nem faz rir
Não faz nada
Ela não é lembrada feito aquelas que acendem
Com um motivo qualquer, tantas vezes inventado,
só para ser lembrado

Não, esse não

Fica dentro de um pedaço nem feio e nem bonito
No cotovelo, talvez nas têmporas

Preciso de uma razão concreta para lembrar
Um motivo bem forte
Como o te ver,do nada, sentado do outro lado da calçada em um buteco de Botafogo
Fumando um cigarro, rindo por entre a fumaça e a áurea da boêmia


Passos tranquilos, seguindo em frente
Sem titubiar, tremer, sem estremecer ou pestanejar
Passar, passou

Como eu queria ter tido vontade de atravessar, te sorrir
e perguntar como anda você

Passar, passou
Tão rápido

Essas palavras foram me guiando até a entrada do supermercado
Precisou de tanto assim para lembrar

E sigo meu caminho até a próxima, quem sabe, forçosa lembrança
Que não faz dor e nem faz rir


Nesse instante em que transcrevo essas palavras de um papel
De um papel escrito entre geléias e copos descartáveis de um supermercado em Botafogo
No dia de ontem
Sinto uma emoção diferente
Sobre uma outra coisa
de olhos firmes
que faz gosto
gosto de filete de vinho no canto da boca

E percebo a falta de luz em todas essas palavras acima

Diante do meu de dentro, agora, transcrito, quem sabe, em outrora.