sexta-feira, junho 29, 2012

Renúncia

Faz tempo que quero escrever um texto sobre isso, mas sempre deixo pra depois, com medo de doer demais. E nós, seres que somos tão humanos, sempre escolhemos deixar para depois as dores que não são urgentes. Pra mim, dores não urgentes são aquelas que, apesar de se manterem vivas diariamente, vêm com proporções e cargas menores que a metade de nossa capacidade de sentir: dor. Mas é quase metade, só não chega a ser porque nós sustentamos. Ou até é, mas como as surportamos, pelas experiências da vida, pelo amadurecimento e pelo "outro lado" bom disso tudo, acabo pensando que é menos que 50%, dentro de minha humildade e também otimismo.


Se passa disso, dos 50%, vira dor emergente, ao menos no psicológico. Procuro manter minhas questões, as administráveis, dentro do limite, dentro do meu suporte, e, graças a Deus ou o que quer que o valha, vem dando certo, há muitos anos. Quando passa do limite, eu sugiro dentro de mim mesma que fudeu e pronto, é "só" sofrer. E é o que nos resta nessa vida além da felicidade ou ostracismo. E depois, perceber, analisar o sofrimento que tivemos, sem medo, por uma causa maior: a de evitar um próximo problema se for possível ou de reutilizar as armas de força que angariamos no decorrer da situação: de dor.

Mas, como estava falando, esse é um texto não urgente, um texto diário. Como ouvir o despertador pela manhã, pegar o ônibus, dar e receber os bons dias matinais, ainda que o dia nem esteja tão bom assim. Às vezes essa dor se torna tamanha, uma espera maior, um final de semana. Um sono prolongado, um pijama, um bordado. É isso, eu bordo a minha dor conforme o tempo passa, conforme os dias passam dando espaço para outros - sempre tão curtidos.



Como posso eu chamar isso que sinto de dor? Saudade é tão mais poético. Acontece que saudade em excesso, saudade diária, saudade de cheiro e tempero, quando reunidas, se personificam em dor. Nessa dor não urgente que tanto falo.


E é como ouvir o despertador pela manhã, pegar o ônibus, dar e receber os bons dias matinais, ainda que o dia nem esteja tão bom assim: nós, seres humanos que somos, sempre nos acostumamos.

Acostumamos com a saudade e até mesmo com o amor e manifestações de afeto a distância.

Só não me acostumo com os altos preços das passagens.

Se Maomé não vai a montanha... : )


terça-feira, junho 26, 2012

Sonhos





Hoje o neguinho Gil comemora seus setentão e faz poucos dias que escrevi aqui sobre a dorzinha que tava por não ter ido ao show classudo e cascudo que teve no Municipal. Nesse mesmo post, ainda falei do meu sonho (infantil e adulto) de ir a um show do Caetano.

 
Não sei se foi merecimento ou coisas do destino, costumo dizer que foi sorte, apesar de saber que foi muito mais que isso, foi muito batalhado: poucos dias após esse post sobre o show no Municipal, em menos de uma semana fui a dois shows: primeiro do Caetano e depois do Gil. Parece mágica mesmo, mas foi real. E os dois foram de graça e eu estava sentadinha enquanto meu coração parecia que ia voar da boca. O de Caetano foi em uma quarta-feira, no Forte de Copacabana e começou às 19h30. A questão é que eu largo do trabalho às 19h e com o detalhe de ser na Barra. Ah! E o detalhe principal: os ingressos seriam distribuidos no dia do show, a partir das 18h para 400 pessoas. Claro que isso dá margem pra você saber que às 15h a fila já estaria batendo na tok Stok. Meu namorado aproveitou que estava de licença do trabalho e decidiu fazer essa ação do ano pra mim: ficar na fila pra pegar meu ingresso. (sim, quando falo meu, é porque só podia pegar um por pessoa, logo, ele não iria.) e assim o fez. Chegou na fila às 15h e era o número 200 da fila: beleza!

Uma hora depois ele fica sabendo que não é ingresso, mas sim pulseira: fudeu! (com o perdão da palavra). Mas eu não desisti (claro, muito fácil não desistir quando se está fazendo a mesma coisa que sempre nesse horário: trabalhando). Mas ele, que poderia tá dormindo, no cinema, na praia ou fazendo qualquer outra coisa de mais emocionante, escolheu ficar na fila até o fim, o tal do "pagar pra ver", já que era gratuito, já que estava lá e já que sabia da alegria maior que a fila que eu ficaria em ver esse show. E acabou acreditando na minha lábia de que era possível tirar a pulseira, caso ela fosse de adesivo. Que uma vez fiz isso em uma festa, etc e tal. Bateu o horário e lá estava ele, com a pulseira de adesivo super coladinha no seu pulso. E agora se eu só largo às 19h e se ele precisava ir embora porque tinha compromisso às 18h40?

Primeiro pedi pra sair meia hora mais cedo do trabalho e expliquei todo o meu amor pelo show que "talvez" eu conseguisse chegar a tempo. E depois, o mais difícil: tirar e esconder a pulseira em algum canto. Bom, com toda uma delicadeza que sabe-se lá de onde ele arrumou, naquele instante mais carregado que arma, pelo tempo que tava passando, pelas pessoas que estavam olhando, pelo compromisso dele e pela tensão de perder tudo justamente no final do segundo tempo, ele conseguiu tirar a pulseira e ela ficou intacta! O adesivo saiu perfeito, sem rasgar nenhum balãozinho daqueles que completam um quadrado colante da infelicidade, que te impedem de tirar. Mas não impediu a ele. Agora era a parte dois: onde esconder a pulseira? "Esconde no Caymmi" foi o que sugeri. Acontece que tinha o Caymmi e a orla inteira alí perto, sem contar com as pessoas que iriam ao show. O tempo estava chegando ao fim e ele precisava ir embora e foi quando o danado escondeu a pulseira dentro de uma folha de milho rasgada e colocou dentro de um orelhão que tinha por alí. Em uma partezinha que só eu e ele poderíamos saber. E então me passou as coordenadas.

Após um trânsito absurdo no túnel (largar às 18h30 é pior que largar às 19h), desci perto do Forte às 19h30, em ponto. Mas ainda teria que fazer a missão orelhão. Me senti parte de uma gangue, sentimento de tráfico. Peguei minha pulseira, colei no braço e sai correndo para o show. Ultrapassei todas as portas feito louca, arranjei ainda uma cadeira pra sentar, e, cheia de suor, descabelada e impressionada com o tempo e o atraso de 20 minutos do show que foram gentis comigo, pude respirar e em cinco minutos ele entrou no palco dizendo que eu era linda, mais que demais. E aí eu chorei no início, e, se não bastasse, chorei no fim.

Na terça-feira da outra semana, o BNDES estava em meio as comemorações de 60 anos e o músico convidado a fazer o show foi o Gilberto Gil. O namorado, também em ação, arranjou um ingresso pra mim e lá fomos nós. Assistimos ao Concerto de Cordas e Máquinas de Rítmos, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Mágico.

Agora me diz se não parece mentira?

Às 19h de hoje, em homenagem aos 70 anos do Gil, será exibido o concerto que ele fez no Municipal:

http://www.youtube.com/user/gilbertogilmusic?feature=watch

segunda-feira, junho 25, 2012

Chumbaquito de chumbinha

Gangue quase completa e reunida


Uma das coisas que mais tenho orgulho nessa vida é de ter sido nascida e criada em um lugar, que entre tantos outros no Brasil e no mundo, carrega um punhado maior que o das mãos de cultura. E quando falo isso, por mais difícil que pareça, deixo o bairrismo de lado. A questão é de fatos. Ou melhor: de conhecer. Quem é de Recife ou quem conhece a terrinha sabe bem do que estou falando. Vai além do passa na TV ou do que o guia turístico vai te mostrar por lá, caso não tenhas a sorte de ir em grupo e com conhecidos locais.

autêntico cuzcuz


Essa introdução de texto foi só pra dizer o quanto penei na semana passada, ou melhor, penamos: eu e os pernambucanos moradores do Rio e os cariocas que estavam tontos de nos ouvir falar... Não é possível que faltando 1 semaninha para o São João a cidade não oferecia uma progrmação bacana para a festividade. Parecia muito fora da nossa realidade, um sentimento de lástima mesmo. Como assim aqui no Rio de Janeiro não é comemorado São João de maneira decente? De opção, apenas a Feira de São Cristovão, infernal nessa data.




as melhores dancinhas


Em Recife, a festa só não é comparada ao carnaval, por ter apenas um dia oficial de folia: a noite do dia 23 de junho. Mas esse dia é tão esperado e tão bem programado, que é o mesmo que um carnaval, só que junino. As pessoas levam a sério. Fazem festas enormes, em clube, na roça, na rua, em casa, não importa.

Os interiores do Estado ficam cheios de turistas e nativos, cheios de gente animada atrás de um arrastapé. Não tem classe social, não tem idade, São João na minha terra é unanimidade.

É feriado, pra se ter uma ideia.


E as comidas? Passo mal! Milhões de bolos, mungunzá, milho assado, milho cozido, canjica (é outra coisa, diferete da que come no Rio), pamonha, queijo de coalho, pé de moleque (pé de moleque é um bolo de amendoim!) e zilhões de outros quitutes.

Sem contar com os fogos. Passar o São João sem um rojão ou um peido de véa não dá.





isenta de descrição

Pois é, a questão é que não tinha uma festa decente pra gente poder matar um pedacinho mínimo de saudade que fosse. Então o jeito foi fazer o nosso próprio arraiá. Só foi bater o martelo na decisão, que começaram as manifestações. Não ia ter fogueira e muito menos competição da fogueira mais alta. Não ia ter concurso de quadrilha e nem barraquinhas, mas teve muita comida típica, bandeirinhas, balões, sanfona, mini quadrilha, cachaça, vinho, cerveja e muita gente animada!


o matuto mar lindo!


 Arraiá Salvador (esse foi o nome, por ter salvado nossa noite e por ter sido nas redondezas da São Salvador), ano que vem tem mais!

Olha a chuuuuuva.. Passooouuu


terça-feira, junho 19, 2012

Sobre ele e o tempo que só serve pra passar

Há quem diga que ele não foi um bom marido, apesar de viril.
Que não foi um bom pai, bom filho e tampouco um bom irmão.


Há quem diga muita coisa.

Que ele errou quando mudou a rota, ainda novo, com um mundo à sua frente.

Que entre o rock, as drogas e o amor, ele escolheu mesmo foi o dinheiro. (e talvez o rock e as drogas).

Que ele foi a decepção de irmão que sempre foi espelho e deixou de ser quando a porta precisava ser trancada, por medo. Quebrando o espelho e, com isso, o olhar de cumplicidade.
Há quem diga que ele não dá valor as coisas importantes da vida ao passo que há quem diga que ele tem um gosto pela vida, como mais ninguém ao  seu redor.


Há quem diga que ele não soube ser amigo. Que não soube ser parceiro. Que egoísmo é a palavra preferida do seu dicionário.

Há quem diga muita coisa.


Pra mim, foi e é o melhor tio. Soube ser tio entre tantos "há quem diga" por aí. Mais tio que os próprios tios de sangue que tenho. Tio de fazer brincadeiras, inventar apelidos e suas variações, de fazer almoços deliciosos com atraso de horas. Mas era alí naquele lugar que me sentia em família, mesmo entre tantas brigas. Criança é inteligente demais pra se apegar a bobagens. Tio de deixar a mim e aos meus irmãos felizes, por saber que ele tava chegando pra mais um churrasco dominical e talvez com um pote de sorvete napolitano embaixo do braço. Ele e seu vozerão cantando Tim Maia sem faltar o show. Ele nunca foi de faltar o show, ele cantava sem vergonha e com uma intimidade que até o Tim devia se chocar. E cantava no microfone, acompanhado de uma batucada e muitas cervejas. Com os braços abertos, braços ernormes e quase sempre em pé. É assim que o vejo: em pé e com um sorriso que compensava toda a sua falta de beleza. Um sorriso maior que os braços de homem magro, alto e que já tinha e ainda teria tantas enfermidades que eu sequer saberia contar.

Há quem diga que ele é forte. Eu diria que isso é unanimidade. Acho que essa palavra nem deve ser a preferida de seu dicionário atualmente (apesar de nem cogitar qual que seja, entre tantas que imagino), mas ele é forte. Não, forte é uma palavra fraca perto do que aquele corpo que já não canta e nem dança, que não sorri e muito menos é viril, é.

Ele é uma palavra de ferro e esse é o texto mais difícil que já me atrevi a escrever.

segunda-feira, junho 18, 2012

Inverno astral

Pra mim já é inverno. Não me bastam mais as copas das árvores que balançam ou o chão coberto por folhagens amarelas e vermelhas. Quero gotas a escorrer dos troncos, quero chuva pra molhar meu rosto. Eu quero isso vezes dois. Quero vento vezes dois. Quero frio, brigadeiro de panela, pipoca, filmes, música, comida gostosa e muito vinho, mesmo que eu já tenha. Eu quero uma desculpa besta pra não precisar sair de casa. Quero que o sol durma até mais tarde, que ele durma durante a noite também, para que não tenha sentimento de culpa por estar em casa. Por estar feliz e em casa. Quero simplesmente fazer nada.

quinta-feira, junho 14, 2012

Telefone sem fio

Considero ouvir a conversa dos outros uma falta do que fazer danada e é justamente por isso que o faço com bastante competência quando nada tenho pra fazer.

Não, não venho por meio deste texto assinar meu atestado de curiosa, apesar de ser, mas em se tratando dos assuntos alheios, não é bem uma escolha: quando me ocorre de ouvir, é simplesmente por uma questão de ouvido ou de gente que fala alto demais. O cenário perfeito é ônibus, já que sempre esqueço de comprar a pilha recarregável do negocinho de ouvir música. Nessa semana eu já descobri que tem um restaurante mexicano na Voluntários que é ótimo, precinho camarada: rodízio custa trinta e poucos e um tapas, por exemplo, 9 pratas. Nesse mesmo assunto, pesquei que o da Cobal é um pouco caro e que a Sandra não queria segurar vela da amiga com o namorado e nem forçar uma barra com o amigo do namorado da amiga. Bom, esse final, a partir de "Sandra..." realmente não importa, mas as dicas foram boas.

Ontem também fui vítima de ouvidos que não escolhem o que ouve e presenciei uma briga entre pessoas que o ouvido escuta de menos. Foi na hora do meu almoço. Quando fui pagar, as duas atendentes entraram no maior quebra pau sem o mínimo de elegância de perceberem que além de estarem no seu ambiente de trabalho, tinham também vários trabalhadores e ouvidos que nada tinham com isso.


Em meio a gritos e alfinetadas, uma delas falou:

"Eu vou mimbora pra casa"

"Como é?? você vai dar na minha cara?"


E a briga continuou, paguei e fui embora. Confesso que fiquei curiosa pra saber o fim.

Mas pra mim o melhor e que sempre ativa minha imaginação que transborda de fertilizantes, são as frases passageiras. E o que seriam as frases passageiras? São aquelas que ouvimos quando estamos andando na rua e cruzamos com pessoas conversando. Já ouvi cada coisa! Entre elas, as melhores: "ela é gordinha, mas fode que é uma bele.."  ou ainda "Eu vou acabar com ela pra ficar com as outras duas pra comer..." O resto não deu pra ouvir, a frase foi passageira, mas a pessoa fica imaginando, num fica?

E é quando me pego pensando nas frases passageiras que já ouviram de mim. O mundo deve ter um acervo. Indiscreta que só eu, de cair no chão, literalmente no chão, na rua, de tanto rir...

Eu e essa minha espontaneidade toda.

Mais cuidado. Ou não. Sou a favor da expansão.

terça-feira, junho 12, 2012

Capitalismo selvagem, ôô-ô!

- Pô, nego mete a mão no preço das flores no dia dos namorados. Se importa de receber flor em um outro dia menos previsível?


-Até prefiro, como você sempre faz.


Simples assim.


Zero paciência para mais um dia de capitalismo. Dia dos namorados é em cada acordar e fechar de olhos, juntos.


Mas o fundue em casa (restaurante nãããão), com vinho delícia eu não abro mão :D

E, pra quê esse lero-lero de tantas lojas se a gente pode ser um tanto criativo?

Abaixo, um dos meus presentes de 1 ano, acompanhado de uma pipoqueira em forma de carrinho de pipoca de verdade. Orgulhinho mode on:


Detalhe para as mini pipoquinhas em alto relevo
 e o marcador de página com nossa foto



A primeira das várias páginas do nosso filme,
assistido com pipoca feita no carrinho!


Sobre constrangimento, fome e poeira

Hoje eu tinha pautas para muitos textos e divagações. Hoje é dia dos namorados, poderia falar sobre o café da manhã surpresa ou sobre sexta, que completei 1 ano de namoro em grande estilo... E o final de semana que foi incrível e repleto de comemorações e banhos de chuva em Rio das Ostras. Ou ainda sobre a empolgação de ir pra São Paulo no próximo final de semana. Também tinha um texto para meu avô... mas tudo travou quando precisei fazer uma matéria sobre o recuo do trabalho infantil no Brasil e as pesquisas por imagens deixaram o monitor do meu computador sujo de preto e branco, senti daqui a poeira. O mais esquisito e que me causa até constrangimento é falar em recuo e ao mesmo tempo observar ao meu redor, sem nem mesmo precisar ir mais distante, em lugares esteriótipos que as imagens mostram: lixão, sertão, não! Na esquina da minha casa, em um bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro já basta.


Recuou quanto? quantos por centos? É pra comemorar? E o restante?


É como se cada uma daquelas pessoinhas fossem todos os por centos, todos os 100% s em cada uma e por isso é praticamente uma piada comemorar. Gostaria de ter estudado sociologia ou qualquer coisa dessas que te dão propriedade de falar sobre esses assuntos delicados, desse modo eu poderia encher esse texto de baboseiras e dados, de teorias, opiniões arrogantes e palavras difícies, pra convencer qualquer leitor leigo no assunto, assim como eu, de como as coisas acontecem ou o motivo pelo qual elas não mudam, ou o por que das coisas mais urgentes passarem sempre por um processo tão lento.


Acontece que dentro da minha ignorância, agradeço por não saber de nada disso, afinal, todos os sociólogos que conheço ou pessoas que teriam toda a propriedade do mundo pra escrever uma análise crítica sobre o tema, se pegam em situação de constrangimento tanto quanto eu na situação mais banal, mais comum: Alguém te pedindo dinheiro na rua. E sempre que estou ao lado de uma dessas pessoas, com propriedade ou não no assunto, e depois pergunto se o "certo" é dar ou não o tal do dinheiro, eles me dão um sorriso mais amarelo que o dente do pedinte e falam que não sabem ou que dão pra se sentirem bem ou que não dão por que vão comprar drogas, ou que só dão se a pessoa for mais velha ou se tiver com receita médica.


"Mas gente, uma pessoa com uma receita médica não pode também ser viciado em drogas? e usar esse dinheiro pra isso?"


É, pode... E é quando vem a velha e boa resposta quase que pálida: "mas eu fiz o que a minha consciência mandou, se ela vai fazer outra coisa com o dinheiro, a culpa não é minha".


A culpa nunca é nossa. A culpa é de quem mesmo? Ah, do governo. Outra resposta mais desbotada que a própria fome. E como não sei desenvolver nada bacana sobre a culpa do governo e qualquer coisa que eu venha a  falar acabará sendo tão comum quanto qualquer matéria da veja ou do jornal da banca, encerro esse texto com a reflexão do ato de pedir, do ato de negar, do ato de dar ou de fazer o blasé:  passando direto como se não fosse com você.

sexta-feira, junho 08, 2012

Há um ano...




... a alegria cotidiana de te ter ao meu lado.



quarta-feira, junho 06, 2012

Cartório






‘Eu, fulaninha de tal, portadora da cédula de identidade XXX, e do CPF XXX, venho por meio desta... zzzzzz’

Pois é, gostaria de desvendar os mistérios que giram em torno dos cartórios desse Brasil tão brasileiro. Mas, antes de tudo, gostaria de informar que é óbvio que venho por meio desta e não de outra, caso contrário, não estaria eu (ou você), escrevendo no bendito papel e sim em outro, mas, bem, isso é o que menos importa. O que eu gostaria de entender mesmo é a razão dos cartórios serem sempre tão rabugentos. Falta de dinheiro é que não é, tá pra nascer um comércio mais próspero que esse de carimbar papéis.

Mas é sempre assim: um ventilador grudado no canto do teto para propagar ainda mais o calor que faz dentro daquele espaço pequeno e com aspecto de sujo, de coisa velha, que já passou. Além do suor das pessoas, também esbarramos com o mau humor dos atendentes. Tudo bem que o trabalho não é lá dos mais emocionantes, mas isso também seria desculpa para quase todos os trabalhos do mundo. Cafezinho? Nem pensar. Quadros pendurados na parede, mesmo os mais bregas, também nunca vi. Até as pessoas que vão ao cartório costumam estar bagunçadas, descabeladas e, de antemão, impacientes. Tudo culpa da estética implantada em nossa mente que esse ambiente traz: estética de preguiça e de deixar pra depois ou pra nunca mais. Até arrastamos por alguns dias, mas só não fazemos o que manda a nossa mente, simplesmente descartar esse instante de vida, porque normalmente se vai ao cartório em situações emergenciais.

Outra coisa que também gostaria de entender sobre esse local tão feinho que gente de toda classe social frequenta, é o motivo de taxas tão caras justamente para quem não tem condições. Não conheço nenhum amigo ou alguém de classe social parecida que já tenha pagado para o cartório fazer, escrever a procuração. Normalmente já chegamos com ela escrita apenas para autenticar, pagamos apenas por esse serviço. Mas já vi muita gente humilde pagando caro simplesmente pela ignorância de não saber fazer sozinho o documento ou por não ter acesso à internet (ou por não saber que existe isso na internet), onde existem esses modelos prontos. Já cansei de fazer procuração pra porteiro de prédio e até mesmo para uma senhora que vi em estado quase que de desespero porque tinha que pagar um absurdo para escrever isso que sabemos praticamente decorado, esse bla bla bla batido de ‘Eu, fulaninha de tal, portadora da cédula de identidade XXX, e do CPF XXX, venho por meio desta... zzzzzz’



segunda-feira, junho 04, 2012

Dá saudade

Saudade é cavar na memória e ainda achar tesouros perdidos de uma história já batida.
É fazer e refazer versões para um mesmo fato e perceber que são inesgotáveis as possibilidades e todas felizes só pela beleza de ter o mesmo protagonista. 

Saudade é não ter medo de embarcar em uma viagem sozinha, bancada apenas por você.


Saudade é um choro em desalinho dentro do ônibus, um balãozinho no lado esquerdo do pensamento, uma vozinha tentando falar em seu ouvido e que você ouve, mesmo com todo o barulho que faz na cidade. 

As buzinas, os motores, as pessoas, nada disso: apenas a vozinha em seu ouvido como se fosse cantiga de ninar em plena rua, em plena vida, em pleno dia que custa a passar... por causa de uma saudade daninha e tão difícil de matar.


Das minhas trapalhadas

hoje (enquanto escrevia uma matéria)


Moradores de 15 capitais brasileiras pagaram mais caro por sexta básica no mês de maio.

Isso é a pessoa que, em plena segunda, já sonha com a sexta-feira.

Sábado:

After show

-Por favor, duas cervejas
-Encerramos o bar, senhora.
- (com cara de frustração nos direcionamos para o sofá do "lounge")
-Namorada, tô vendo um monte de gente com cerveja, ó... ó... ó... (apontando).

E então eu levanto e sigo para o bar, dessa vez para o balcão e não para o caixa.

-Olha, não tou entendendo, fui comprar bebida e a moça falou que o bar encerrou, mas estamos vendo um monte de gente bebendo.

-O que a senhorita quer?
-Beber.
-O que? Cerveja, refri, vod...
-Cerveja.

E eis que o rapaz abre uma stella artois e serve dois copos, pra mim e pra meu namorado.

E só então percebemos que não estava mais vendendo antarctica porque na verdade o after show, além da presença dos músicos da banda, contava com stellas liberadas.

Então tá, né?

Matuta!

sexta-feira, junho 01, 2012

Viviane Mosé ou seria Musa?

 

Linda.

 

'Eu queria dizer uma coisa que eu não posso sair dizendo por aí... É que eu tenho medo que as pessoas desequilibrem de si, que elas caiam delas mesmas quando eu disser. Eu descobri que a palavra não sabe o que diz. A palavra delíra, a palavra diz qualquer coisa. A verdade é que a palavra nela mesma, em si própria, não diz nada. Quem diz é o acordo estabelecido entre quem fala e quem ouve.

Quando existe acordo existe comunicação.

Quando esse acordo se quebra ninguém diz mais nada, mesmo usando as mesmas palavras...'

 



Recital no Midrash, 31 de maio de 2012.