segunda-feira, junho 27, 2016

É impulsivo ser feliz sozinho

Essa noite sonhei que guardava meus trocados em um aquário de vidro redondo fechado, apenas com uma pequena abertura, e finalmente havia chegado a hora de quebrá-lo com um martelo. Eu mantinha esse aquário com o mesmo entusiasmo que uma criança nutre seu porquinho de barro. Não achei martelo e taquei ele no chão. Acordei com um espasmo de susto e procurando os cacos de vidro pela cama. Olhei para o lado e tava você, deitado com as pernas dobradas, de costas, fazendo seus barulhinhos. 

Te abracei por trás enganchando daquele jeito que eu gosto e, ainda sem saber o que fazer com minha chateação, se verbalizar ou se dissolver, cheirei tua camisa com cheiro de dormida e adormeci mais um pouco. Acordei algumas vezes procurando os cacos de vidro pela cama, com medo que você se machucasse, com medo que sua mão sangrasse. "Foi só um sonho, não tem caco e nem dinheiro e nem sangue." Tem você e tem eu. Nos reconheci ali naquele ambiente novo-antigo tão nosso mesmo sendo teu. 

Bom dia. Bom dia!

Mochila, casacos, mãos dadas, mãos soltas, silêncios, palavras, sorrisos, dúvidas. Um abraço. Um pensamento verde pretendendo ser maduro. Um sentir maduro achando mais simples voltar a ser verde. Foda-se verde e maduro: o que se é e o que se quer e pronto. Mais um abraço e entro no ônibus meio perdida, me sento na cadeira alta, que é a que mais gosto, pego o celular pra ver as horas e vejo sua mensagem: é obra em cima de mim! Finalmente desvendasse o mistério do andar de cima. Estão em obra. E de algum modo desvendei o meu mistério também: estou em obra para melhor me atender/entender. Esse barulho na cabeça, a rigidez no caminhar, poeira por todos os lados deixando a visão meio zonza algumas vezes e te confundindo tantas outras. Eu não sou assim, estou assim. Estar, uma das maiores virtudes que qualquer pessoa pode ter na vida, pois junto dela vem também a possibilidade de mudança. Estou em obra. Um monte de coisa tá achando seu lugar. Daqui vejo uma parede subindo aqui e ali. Ainda tem poeira mas consigo te ver, estou te vendo, só virar o pescoço que você me enxerga também. Eu posso mas não quero caminhar sozinha. Eu quero caminhar com você. Sobe essa escada e vem?

segunda-feira, junho 20, 2016

Verdades

Quando o silêncio machuca mais que qualquer palavra faca.

domingo, junho 19, 2016

Sobre rebuliços e o tempo

Houve um tempo em que tudo parecia concordar. 

Eu e você embaixo de uma coberta em Santa Teresa e uma garrafa com água de gengibre do lado da cama pra molhar a boca quando ela tava seca de amor recém feito. 


"Você está envolvida demais". Foi o que você disse certo dia pra fugir de você mesmo e de suas emoções. Comprou a própria briga e não arredou o pé sobre uma certeza que só eu poderia ter e não te dei. Dai em diante não aceleramos e nem retornamos. Ficamos alí estacionados por um breve período. Um estado de inércia que mata meu coração ariano, agoniado e pulsante muito mais que qualquer não, que qualquer desistência, que qualquer tiro certeiro. Se é pra ficar parada aqui eu prefiro ir embora. Você não quis que fosse assim mas entendeu. A última coisa que você queria era me magoar. Nisso nós dois concordamos.


Depois veio você de volta quando eu já não estava mais alí. Esperavas pelo mesmo braço, o mesmo olhar, o mesmo carinho, a mesma conexão. Não teve. O braço, o olhar e o carinho não são mais pra você, eles já têm um novo destino, endereço, nome e coração. Foi o que te expliquei quando me cobrasse tudo aquilo que poderia ter sido pra você um dia e não foi porque eu, ora veja, tava envolvida demais. 


Se declarasse com a voz trêmula de nervoso. Me desse mil motivos pra retornar. Me pedisse pra reavaliar. Que era outro tempo. Que era outra pessoa. Que era outro Daniel. Que ele, só agora, percebeu o quanto gostava de mim mas tava em outra fase e não se culpa por isso mas que agora tá aberto, disposto a se entregar, a viver sem amarras, a fazer planos e que pensa em mim um bocado. 


Me chamasse pra conhecer sua casa no mato como quase um troféu pra mostrar que agora era séria a vontade de construir qualquer coisa. Trouxesse limão siciliano como um bom motivo pra eu ir te encontrar novamente. E eu fui. Tentei. Uma, duas, 4 vezes quem sabe. Eu não tava mais alí. Eu queria muito ser muito sua amiga mas ainda existia tesão no ar. Ainda existia um abraço mais longo. Um carinho na voz. Um apelido. Expliquei tudo de novo quando senti que estávamos em ritmos diferentes. Que você era a eu de outrora mas muito mais maduro e decidido. E envolvido mesmo sem evolução alguma de minha parte. Mesmo eu dizendo na lata que gostava mesmo de outra pessoa. Você acreditou que isso podia mudar com o tempo mas eu não queria que mudasse e isso muda tudo. Preferi que a gente parasse porque a última coisa que eu queria era te magoar. Concordamos e você pediu que sobre isso você se preocupasse e não eu. Que quando tivesse ruim pra você, saberias ir embora. Concordei. E nunca mais te vi, te retornei. Não queria que o quando precisasse chegar.


Nunca brigamos. Em todas as situações mantivemos o carinho e o respeito e a vontade de um dia se ver de novo, sabe-se lá como.


Até quando a gente vai viver sem poder ser muito amigo? Quando estaremos, finalmente, em conexão? Foi o que me perguntei quando me chamasse pra fotografar seu show. Achei o convite perfeito pra essa nova fase que tanto desejo e suponho: eu e você, amigos. Cheguei meio sem jeito depois de duas semanas sem te ver. E tendo te visto pela última vez depois de mais duas semanas desviando. Você tava ali, lindo e suave, como de costume. Com os braços enormes pra um abraço. Me desarmei. Me aliviei. Falou que eu tava muito bonita, perguntou se por acaso eu iria sair depois do show com aquele tom que você faz quando quer saber uma coisa mas pergunta outra pra ver se chega na resposta certa.  Você pergunta como vai a minha relação, respondo que muito bem, obrigada e sem entender se aquilo era uma alfinetada. E antes que eu perguntasse qualquer coisa sobre você, pois nem saberia o que perguntar, você se adianta e diz que acha que tá namorando. Devo ter feito uma cara surpresa, tal qual a sua quando contou. 


Rimos juntos. Ao mesmo tempo.


É nessa frase que tudo que me perguntei se responde. Ai tá a conexão e o encontro sem desencontro. Você tá feliz e tá bonito por causa disso. Eu to bonita pela mesma razão, para além do macacão e do batom lilás. Estamos bonitos e rindo na mesma risada, no mesmo ritmo, finalmente.


A vida é a arte do encontro embora tenha tanto desencontro pela vida, dizia o poetinha nessa frase clichê e verdadeira. A gente podia ter se desencontrado pra sempre se bobos fôssemos. Mas não somos. E reconhecemos no outro mil e um motivos pra tentar se encontrar mais uma vez e mais uma vez e quantas vezes forem preciso. E eu sou muito contente por a gente ter finalmente se encontrado.


terça-feira, junho 07, 2016

Permanências

As vezes você pinta como um pincel. Faz cócegas nos meus pés, cutuca com a ponta da haste meu peito e faz desenho no ar. A gente senta na mesa de sinuca, meus pés flutuam e balançam. Você olha em frente sem mira. Eu miro teu nariz empinado. A gente se encontra não se encontra. É tudo uma ilusão.

Tem vezes que você surge como mão. Pega um balde e joga a tinta no piso. Escorrego e caio de cara. Mergulha os dedos nas cores e joga em mim, me cega com tinta nos olhos. Eu choro de todas as cores. Fazemos uma lambança só.

Tem vezes que hiatos. hiatos. hiatos.

A verdade é que você nunca foi embora.