quinta-feira, agosto 25, 2016

A língua e a pipa

hahahaha ria o menino embaixo da mesa enquanto dividíamos uma quentinha de maneira injusta: eu comendo e ele brincando com meus pés. Vem timbora, senta aqui, vamos comer. hahahaha não, não! Vem, antes que eu acabe com a comida toda! ahahaha tia, você fala errado. Jeferson, Davi, Fernando, olha, olha, ela fala errado! Timbora, Tttttimbora, ela fala assim bem doido! bem doido, bem doido! Oito dedos me apontando enquanto os ombrinhos magros saculejavam dentro de uma gargalhada infantil que já terminou mas ninguém assume o fim primeiro sem conivência. Engata em outra. Em outra. Agora mais leve. Um olhando para o outro na espera pelo sinal do cair no chão de tão cansados que ficaram de rir da cara da tia que fala errado.
Eu não falo errado, eu falo diferente. Vocês não falam errado ou mais certo que eu, vocês também falam diferente. Vai parecer uma loucura o que vou falar mas no mundo inteiro tem muita mas muita gente mesmo que fala diferente. Diferente de mim e de vocês, cada um de um jeito. Um monte de gente diferente.
Que mentira, tia. Eu entendo o Davi, o Jeferson e eles são o mundo inteiro porque eu só conheço eles. Não Lucas, é verdade, tem aquele pessoal que fala de outro planeta, que vem aqui visitar e a gente entende menos que a tia mas eles compram pipa.
Pois é, o Brasil é um país muito grande e tem um monte de gente espalhada por ai que fala diferente, isso se chama sotaque, e a gente entende. Vocês sabiam que fora do Brasil ainda tem vários outros países que falam de um jeito mais diferente ainda e que se a gente não estudar pra aprender é impossível de entender? Não são planetas, são países, igual o Brasil. Se a gente for lá onde eles moram ninguém entende se não tiver estudado também.
Que mentira, tia!!! A tia tá doida!!! A tia tá doida!!! Tia, o Santa Marta fica dentro do Brasil?
Fica.
E por que então esse pessoal de outro planeta que compra pipa só tira foto da gente e fica rindo vermelho quando a gente fala? Eles não estudaram?




domingo, agosto 21, 2016

Sobre o amor e seu trabalho silencioso II

O riso nervoso sobre a tua fala -
Eu te amo
Ama nada



Susto e alívio: você me amando, em voz. Não adorando naquele te adoro que não levo muito a sério porque parece quarta série, não gostando muito que é a frase que sei falar, não doido por mim nas madrugadas em Botafogo: amando. Te amo saindo de sua boca de coração tampada quase que por completa por um bigode não aparado. 

Essas duas palavras mais vastas que um alfabeto inteiro, que inconstitucionalissimamente, que engasgam bem no centro da garganta e causam rebuliço e tremedeira em um ouvido fora de forma. 

Foi pororoca. Rebento. Planctons. 

Acordei. Isso aconteceu. Foi o álcool, foi o momento, foram os astros, errou a palavra, errou a pessoa, falhou no cálculo, era uma música. Quantas desculpas. Criei uma por uma pra te justificar. Te contei. Você já sabia. Era verdade: eu te amo. 

Logo você, quem diria. Segurou na minha mão e foi. Fomos. 2x0 a gente.








quarta-feira, agosto 10, 2016

Sobre o amor e seu trabalho silencioso

A gente vai caminhando sem nem se dar conta enquanto um toque específico, o cheiro, os segredos, a voz e os sorrisos vão trabalhando em silêncio, quem sabe até mangando de nossa cara, e se tornando mais potentes que qualquer palavra amor.



Foto: vidafodona.com

terça-feira, agosto 02, 2016

Dona Rita

Como pode alguém com tanto sofrimento marcado na pele e no peito carregar nos olhinhos apertados, na voz e no toque tamanha doçura?