sábado, janeiro 02, 2016

Diogo, o índio urbano do Rio

Conheço Diogo tem pouco menos de uma semana. Nesse meio tempo nos encontramos 3 vezes: Santa Teresa, praia e na festa de ano novo. 

Deixa contar como que foi:

Era um domingo quente, como todos os dias: sol, mar, um Leme cheio de gente e de acontecimentos. Um calor danado, nossas cangas sendo invadidas por um mar sedento. Tudo molhado. Diogo ainda não existia pra mim mas se fazia presente através das conversas. Sempre havia alguém pra mencionar seu nome, contar alguma história e insistir que eu já o conhecia. "Não, não conheço". "Conhece sim", insistiam, mostrando alguma fotografia. "Não, gente. Não conheço mesmo." 

O fim de tarde chegou junto com um nó bem no meio do sossego: uma saudade antecipada de algo que anunciava que não mais seria. Um anuncio tolo feito por mim e pelo meu coração maluco e desregrado. Entrei de volta no portão de casa com a sensação de que o dia não teria mais jeito, talvez fosse melhor que chovesse como previsto. Que chovesse bem forte até lavar tudo, todos, as almas. E eu apenas dormisse estranha e acordasse lúcida e em paz como costuma ser depois de uma noite turbulenta. Mas não choveu. Pelo contrário: Alex mandava mensagem perguntando se me encontraria. Um sorriso se abria junto a uma esperança. E lá fomos nós pra Santa, pra vida, pra rua, para as possibilidades mundanas. De bate e pronto vejo quem eu não queria. Mesmo que soubesse dessa chance, preferia que ela não existisse. Alex ao lado, sorriso largo e firme, me olhava fixo com os olhinhos de samurai travesso. Resguardada e protegida por um olhar, segui em frente. A atmosfera estranha foi-se quebrando pouco a pouco e minha noite, agora com uma energia bem diferente do fim de tarde melancólico, foi salva. Muito por Alex, pela banda, por Mariah, por aquela rodinha marota de conversa, pelas heinekens e a magia de Santa Teresa, verdade, mas sobretudo por uma presença nova e inesperada: Diogo! 

A noite terminou com promessa de praia, que é o único pacto pessoal que tenho maturidade de cumprir no verão. E lá estávamos nós, um dia depois, em Itacoatiara. Um dia cheio de alegria e sorrisos. E mais risos e jacarés e sanduiches e pasteis e barra de proteína com gosto de bosta de cavalo e cangas que dialogam nas cores e fotos e protetor solar e livros e conversas e mais risos e o fininho que ninguém soube apertar e voltou pra casa, humilhado. A casa dos pais de Mariah, as amoras, o disco Transa pela primeira vez sendo chato, o caldo de cana com limão, o transito do cão, a conexão. 

"Como pode alguém que sabidamente está despedaçado por uma separação que ainda não se concluiu estar tão de boas assim?" Era isso que me perguntava e ainda pergunto quando lembro do semblante tranquilo e a energia tão leve que Diogo carrega em si. E a paz de espírito que transmite para o outro. Que transmite para mim que mal o conheço e já admiro tanto.

São raras as vezes que ele fala de Marcelo e quando fala, fala com uma ternura de causar inveja em qualquer membro de fim de namoro mal resolvido que só sabe ser mágoa. E Diogo fala com ternura mesmo quando conta que ficou até quatro e meia da manhã brigando com o danado e por isso dormiu tão pouco e, aparentemente, está acabado pra esse reveillon. Que nada. Foi o mais animado, do início ao fim. Algumas horas parecia que ia dar uma carreira e voar do terraço para o céu e voltar com uma sacola cheia de estrelas pra distribuir pra todo mundo.

Tinha um bocado de gente naquela casa pra estar perto, pra dançar, pra celebrar e no fim das contas a gente sempre terminava juntos, no mesmo riso, na mesma energia. Na casa, na praia pra ver os fogos, no ônibus, na festa. Até na virada, era ele quem estava do meu lado mesmo que a gente não tenha programado se perder de todo mundo. E ele mais uma vez salvou uma noite que poderia ter sido esquisita entre tanta gente estranha naquela praia também estranha, longe dos meus queridos do peito. E não foi. 

Hoje acordei meio desnorteada e ao mesmo tempo aliviada pela sábia escolha do fim de noite: fui embora do nada, sozinha, sem dar tchau pra ninguém. Simplesmente vi a brecha perfeita onde nenhum conhecido poderia me ver pra me convencer a ficar e fui. Senti que minha hora tinha chegado e simplesmente caminhei pra fora daquela coisa toda. Como venho feito tem tempos. Não sei o que aconteceu no fim da noite de Diogo e nem se aquela festa foi boa pra ele. Espero que ele não tenha brigado com Marcelo e nem feito as pazes, pra não complicar ainda mais a situação. Espero que a ressaca tenha sido mais suave que o previsto e que a gente se encontre muito em breve pra rir do outro e da vida. 

Eu aqui, desejando tanta coisa para alguém que conheci tem menos de uma semana e já me ensinou um bocado sobre a vida sem nem ter noção disso, apenas por existir e ser luminoso como é. Posso dizer que nesse fim de ano Diogo despertou o melhor de mim que tava meio esquecido, que é rir da minha própria cara. E de algum modo me inspirou a ver as situações através de um ângulo menos engessado. E eu me sinto muito grata em tê-lo encontrado na vida nos 45 minutos do segundo tempo do ano. 

Que força pode ir contra as boas energias do mundo que se encontram? Essa conexão é divina. Pra mim, esse tipo de coisa é que é Deus.

Um 2016 cheio de vida pra Diogo. E pra todo mundo!





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