terça-feira, janeiro 19, 2016

Epílogo

Eu podia seguir com você nesse jeito meio destrambelhado e funcional que criamos de compartilhar afeto. Um mais sincero que o outro. Parceiros no crime. O cuidado com o passo, uma explicação sobre algo que aconteça e que ultrapasse nosso controle, uma mensagem sempre com resposta. O encontro marcado. O namorico no banco de trás do taxi. A noite quente de corpos quentes e de mil lençóis no chão. A noite fria de mil lençóis no corpo e camisa e nó(s) nenhum que desse jeito pra aquecer. A chuva na janela. A música na cama e você por trás do violão: Assim falou Santo Tomaz de Aquino. A moldura sem pintura no teto da sala. A aquarela de presente de natal do eu-frevo por enquanto bem guardada (e com data!) criando coragem pra ser parede. "A magia do dia a dia, que é a mais bonita". As ladeiras de Santa, os sapatos dentro da caixa, o móbile celestial pendurado no teu porta-chave. Os mesmos livrinhos que você me mostra todas as vezes perguntando se já me mostrou antes. As músicas e suas histórias. As histórias. 

Pensei que talvez eu devesse ficar pelo cuscuz com ovo e queijo de coalho que você adorou ou por Cosmos que paramos no primeiro episódio. Ou pela sua tapioca que é uma mistureba maluca e que no fim dá certo e é bom pra burro. 

Acontece que o mundo é tão imensamente grande que lembrei que coração é feito pra voar. Pra inflar. E não pra ficar numa esfera tão limitada da saudade por algo que não foi e ninguém sabe se será. Uma hora essa conta iria bater na minha porta e o pagamento seria altíssimo. Contas que se pagam com o coração. 

Mirei, então, os três maguinhos que a gente mesmo criou. 

"Cansei de vocês". 

Pulei a janela e fui.

Um comentário:

Unknown disse...

"Acontece que o mundo é tão imensamente grande que lembrei que coração é feito pra voar. Pra inflar. E não pra ficar numa esfera tão limitada da saudade por algo que não foi e ninguém sabe se será. Uma hora essa conta iria bater na minha porta e o pagamento seria altíssimo. Contas que se pagam com o coração."

Arrasou na conclusão. Existe uma verdade sobre o copo metade vazio: a capacidade de dizer basta! ;)

Vida longa à sensatez, vida longa aos riscos e ao salto necessário pra o lado de fora! =)