domingo, janeiro 03, 2016

O primeiro mergulho de chuva

Antes do ano acabar eu já programava o primeiro mergulho de 2016. 

Depois de tantos últimos mergulhos do ano, ficou a promessa daquele que seria o de entrada, o mergulho de cabeça e nado peito, que é como quero embarcar no ano do Macaco de Fogo, um ano que promete fortes emoções. 

Meus planos foram por água abaixo, literalmente. O ano começou mais vagaroso, sem sol e com muitas nuvens. Se por um lado isso me frustrava, também me causava um enorme alívio a não vontade de sair de casa e repor um pouco dessa energia não-solar. E ontem, que seria o dia do mergulho, o Rio nos presenteou com um tempo mais fresco e nublado no lugar de um mar verdinho. 

Eu, que ciceroneava colegas de Recife, me vi fugindo deles lá pelas tantas: mal entrei na festa e já fui-me embora, agoniada que tava com tanta gente, voz, fila, vida. Fui descendo aquelas ladeirinhas rumo casa até que o Bar do Gomes se joga na minha frente me chamando pra uma cervejinha solitária, sentada de boas naquela calçada pra depois descer tranquila. Solitária, quanta pretensão a minha! Foi chegar no balcão e dar de cara com Mauricio, sem chance de desviar o que quer que fosse. Um abraço desnorteado, feliz ano novo! Que coisa esquisita. No meio de tanto turista e nenhum conhecido: logo ele. De algum modo intrigante que não cabe em algoritmo algum: ele. 

Estamos brigados, ou melhor, não o vejo mais como o via, o que torna tudo mais grave que uma briga e, ainda assim, como um milagre de inicio de ano, dividimos a cerveja sem grandes prejuízos, intrigas e sem trocar uma palavra sobre todos os mal entendidos e desgostos dos últimos tempos. Duas pessoas maduras, uma ao lado da outra compartilhando da mesma garrafa e até do mesmo sorriso desconfiado, ainda que uma não faça mais parte da vida do outra. 

Finalmente choveu a chuva prometida. Chuva, muita chuva. Foi a deixa perfeita! Estava na hora de cumprir minha promessa: não tinha banho de mar, é bem verdade, mas tratei de dar um jeito nisso e logo fui pra casa descendo aquelas ladeiras embaixo de uma chuva torrencial, que ensopava o vestido, os cabelos, o corpo inteiro, por dentro e por fora. Chuva daquelas que mistura lágrimas com gotas de céu e ninguém seria capaz de identificar ou julgar. Dei uma volta completa no mundo que é a minha cabeça, em 78 por segundo rotações.

Alma lavada, acho que era mesmo isso. 

As coisas são como devem ser. Não teve banho de mar - ainda - mas teve o banho mais importante do ano: o do perdão ao próximo e, principalmente, a si mesmo.











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