terça-feira, janeiro 19, 2016

Quinta - ou o dia depois de amanhã

Arrisco dizer que depois de amanhã é o dia que mais esperei que chegasse durante quase três anos. 

Não, a razão para isso não é minha chegada em Recife. Sem querer desmerecer o reencontro com a "menina dos olhos do mar", não é por isso. É que duas vezes por ano em média estou por lá matando a saudade dos meus, dos gostos, cheiros, cores, de tudo. 

Dessa vez é diferente, a razão é outra. Faz quase 3 anos que não vejo uma pessoa muito querida e, finalmente, nos abraçaremos em nossa terra natal. Quem diria. Dois recifenses em Barcelona, 20 dias. Três anos depois: dois recifenses em Recife. Imaginamos e falamos tanto sobre esse momento e agora, tão perto, não consigo imaginar e nem sentir nada, nem mesmo euforia ou embrulho no peito. Faz tanto tempo que o tempo fica perdido no ar. A voz fica esquecida. O rosto fica turvo. Sem querer desmerecer esse encontro esperado durante 3 anos, agora sinto-me mais ansiosa pra comer caranguejo e sururu, por exemplo.

Os amigos tentam arrancar de mim um choro, um riso, uma emoção maior, igualzinho como sempre foi quando o assunto era você. E falam que vou chorar quando te encontrar pra ver se eu choro enquanto me falam isso. Ora, óbvio que devo chorar quando te encontrar! (Ou não, vai saber). Apenas não me sinto em rebuliço como previsto por todos. Claro, fácil falar isso agora, ainda distante de tudo. E ao mesmo tempo tão perto de estar próxima. Vai ver entrei em um estado de inércia forçado em relação a isso pra não entrar em erupção. Será?

Hoje trocamos telefone. Você com código 81 e eu, 21. Foi uma sensação engraçada salvar seu número, dessa vez tão curto, e escrever seu nome no meu celular: real demais. Nunca tivemos isso. A gente já deixava amarradinho local e horário de encontro. E se eu atrasasse pra chegar no Macba ou no Pis Joanic, distraída pela cidade como sempre, você já achava que eu tinha encontrado um catalão pelo caminho. E me recebia choramingando: "demorasse muito, po! tava com saudade já, faz mais isso não!" E dava uma risada com rosto todo vermelho. E eu invariavelmente voltava a fazer, fascinada pelos becos de Barça, me perdendo e me achando em cada nova esquina. E você voltava a me desculpar, porque  sabias que era bom demais me ter livre ali, voltando pra você por uma única razão: vontade. E então você vinha com esses braços enormes em minha direção prontos pra me fisgar. E era tão contagiante que a vontade que dava era de saltar pela janela e sair voando! 

Depois nos transformamos em postais. Em e-mails. Em fotografias no flickr. Facebook. Readaptamos nossa energia explosiva para letras. Foi bem duro. No início, skype vez por outra: na hora era mágico, depois era trágico meu estado de calamidade emocional. Cortei. Sem voz e rosto, nos sustentamos através de letras durante esse tempo todo.

Hoje escrevo esse texto pra deixar registrado o que sinto agora e tenho a intenção de me achar sensata demais daqui um tempo quando reler. Ou achar uma grande graça de mim, em ver que tudo virou de cabeça pra baixo novamente em um piscar de olhos - ou de dias -  e meu blog voltar a ser, praticamente, uma grande carta aberta e sem fim para você. 

Pode ser. Só que agora, teimosa que só uma ariana, digo duvido. Meus amigos diriam: vamos ver?

Um comentário:

Unknown disse...

saudade em forma de texto! <3