Lembro-me de quando era adolescente e carregava uma frase de Caio Fernando Abreu quase que como um mantra. Eu e metade de minha turma: "que seja doce." A gente achava aquilo uma delícia, poético, profético, profundo. Hoje, depois de mais de dez anos, reli essa frase, que fica dentro de um texto que eu também adorava, que reside dentro do livro de crônicas que eu deixava reservado em cima de minha mesa de cabeceira, o Morangos Mofados, e hoje ela não me disse nada. Ou tão pouco.
Que seja doce? Me perguntei achando tão bobo e superficial. Quase leviano, como se só de doce fizesse a vida. Como se só o doce salvasse, só o doce fosse bonito a ponto da gente desejar ele como um mantra. Hoje é tudo tão diferente, minha língua se atrai pelos salgados, azedos e até amargos. Pelo doce também, apenas não o semeio mais que os demais sabores. É o conjunto de sentires que faz a gente ser o que é, a querer o que queremos, a saber receber o que nos é dado. Não vou desejar o doce se sei que receberei também salgado.
Que seja real, isso sim!
E fechei o livro deixando guardado ali pedaço de minha vida - que se foi.
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