terça-feira, dezembro 08, 2015

Prólogo

Chegasse como uma salvação. Eu, em um bote, seguindo numa maré forte e vasta e com chuva e com raios e peixe agulha saltando nos meus olhos. Eu tava quase cega. Quase doida. Eu tava quase. Remando sabe-se lá pra onde, remando e pronto. Ora com força, ora deixando o bote escolher o rumo da próxima onda. Contente comigo, orgulhosa por um bocado de postura tomada nos últimos tempos, desvendando a mim mesma que desconhecia ser tão grande, mesmo dentro de um corpo tão miudinho. E vivendo dentro daquele marasmo raso da solidão. E tão profundo. E tão necessário. Eu via e ninguém me via. Me viam e eu não queria enxergar mais nada. E eu só via o que não devia: desvia, desvia, desvia. Até que tu me viu e eu não te vi. Não te vi por não querer ver, pobres humanos que somos. Te vi, finalmente. Bingo! Finalmente te vi. Te vi do nada. Acordei e te vi e pronto. Será que tu ainda tava me vendo? 

Abri só uma fresta. Tu era luz.