Há, inclusive, a modalidade de não se deixar atingir diretamente por alguém, no máximo pela tristeza que possa causar ao próximo. Ou a alegria. O reflexo do próprio eu que volta trazendo uma nova informação que só existiu porque você existe e faz questão de afirmar isso em alto e bom som, pra não haver dúvidas. Sim, um tanto prepotente e arrogante esse pensamento, mas humano que somos não escapamos de cair na nossa própria ladainha. O perigo é acreditar de fato nisso, pois a que se pensar que esse tipo de medo, o último a qual me referi, tá mais com cara de quem joga para o outro uma fragilidade que é sua, usando esse artifício bobo, falho e raso de que a mágoa ou o prazer será causado, no fim das contas, apenas por nós mesmos. E o complemento tímido de que espera estar errado, porque fica um tanto esquisito não assumir de alguma forma que somos feitos de carne, osso e um bocado coração. Inatingível e inabalável, duas características que o homem não é por mais fantástica que a ideia pareça. Nem insubstituível. Então vamos com calma.
Agora, conscientes disso, nos damos conta que estamos em um beco sem saída? Aceitamos a condição de viver o outro em sua superfície? Nos jogamos nessa piscina limitada, com pouca água? Vamos embora ao encontro de um mar aberto onde podemos percorrer sem medo de meter a testa nos arrecifes ou que tenha avisos luminosos de Perigo, praia sujeita a ataque de tubarão? Qual seria a solução?
É bem verdade que as pessoas-piscina, quadradas e limitadas coronariamente falando, são menos fascinantes que as pessoas-mar, vastas em sua plenitude, sem formato concreto, pessoas pouco geométricas. Eu sempre fui essa segunda opção e nunca foi importante quantas vezes minha testa tenha partido em mil pedaços. Se quebrava eu tratava de consertar e sair mais forte. Coração quebrado nunca foi uma desculpa ou um dispositivo de defesa pra me fechar no meu mundo que era mar ou rio, pra virar piscina. Nem doce e nem salgada: um negócio artificial e cheio de cloro.
Parece que tudo ficou resolvido e claro. E que sabemos por onde percorrer. Acontece que, além disso tudo, tem uma confusão medonha no meio. É que tem gente piscina se fazendo de mar. E ai fica um negócio forçado, dá uma preguiça e também vontade de sair correndo pela terra o mais longe que se pode. E tem gente mar se prestando a papel de piscininha infantil que enche com a boca e mal cabe a própria pessoa dentro, tudo por um medo que não se concretiza e nem dissolve. Aquele tal do medo que na verdade é um medinho que faz sombra sempre que a pessoa tá sol demais.
É essa gente que mais me preocupa: um universo inteiro comprimido em meio metro quadrado de possibilidades.
Nenhum comentário:
Postar um comentário