Parte I – Volver
“Aninha” era como você, agora, me chamava na tentativa de acertar
o Anette tão diferente da Carlinha que você foi apresentado, cinco anos
atrás, em Olinda.
Alegria na vida é poder se retratar e fazer as pazes consigo
mesmo e com o outro, ainda que tantos anos depois. Era sobre isso que falávamos.
E era impossível não relembrar com um carinho enorme aqueles dias de alegria,
música, sorrisos e muito trabalho. Você, na produção da MIMO e eu
cuidando do Jarzy Milewski, ao menos em sua ideia. Eu ali, pequenina, sentada na mesa
daquele restaurante italiano com tantos gigantes ao redor e era só pra você que eu
conseguia olhar, na mesa ao lado. “Qual era o nome mesmo daquele restaurante?”
me perguntasse. Eu, você, o universo e a necessidade de nomificar as coisas pra
trazer elas mais pra pertinho. “Faz quanto tempo que a gente se conhece, que rolou
tudo isso?” “A MIMO é em setembro e essa edição foi em 2010.” “Putz, estamos em setembro de 2015!!!
Faz 5 anos!!! Se cavucar mais um pouco a gente descobre que foi no dia de hoje.” Eu, você, o universo e a necessidade de datar
as coisas pra trazer um pouco de noção sobre tudo.
E sorrimos e brindamos com água com gás. É
que a ressaca daquela manhã de domingo não me permitia mais cerveja. Tava um sol de danar. Você ali todo
importante me apresentando o Maracanã. E eu ali tentando entender que danado
que tava acontecendo.
“Bora se ver de novo!” “Vamos sim!” Fico mais uns 4 dias
antes de ir pra Aldeia Velha, te ligo”. Um abraço, outro abraço. Tchau!
Parte II - 5 anos se passaram
O Amazonas era bem longe e a ideia de sua existência,
sobretudo em mim, mais distante ainda. Você e os índios, era tudo o que eu
sabia através de postagens aleatórias no facebook. E sua voz doce e calma
cuidando e trabalhando com essa gente tão de bem, era o restante que eu poderia
concluir. E fim. E foi assim por anos. Até que você voltou: para o Rio e pra
minha vida. E voltou tão sorrateiro que eu nem percebi, quando me dei conta já
estávamos sentados em uma mesa de bar, depois daquele jogo de futebol falido,
colocando em dia o assunto da vida inteira.
Nem tudo era índio, nem tudo era
só poesia. E eu te ouvia e te ouvia e ficava contente com sua confiança em mim.
Eletrorgânico. Trocasse a palavra índio por essa. Eletrorgânico era mais que um festival de cultura, era seu novo
respiro e nova chance de inserção no mercado, como você falava quase que como um
mantra, querendo acreditar na certeza do sucesso, dessa volta, disso tudo. Mas
no fundo dos teus olhos escuros havia um abismo, uma vontade explícita de água
doce que ficou naquelas terras distantes: "eu quero voltar pro Amazonas, Aninha. E tô
trabalhando pra isso”. [A verdade é que você nunca saiu de lá], pensei. “Aninha,
você virou uma mulher incrível! Que privilégio o meu poder estar aqui
novamente."
E sorrimos. E nos beijamos.
Parte III – O estranho entre nós
Depois do beijo tudo passou a ser não. Eu não estava leve,
eu estava recém separada, coração em reconstrução. Você me queria leve e me queria farta e me queria por
todas as vezes. Sem desculpa e sem demora. Sua necessidade de reconstruir a
vida parecia me incluir no pacote. Um pacote que não me cabia. E nem me cabe. Um SMS sem resposta. Você
tava entusiasmado pela sorte de ter me reencontrado solteira. O timing era perfeito,
era tudo ótimo! Mas não era. “Acho que vou voltar o namoro a qualquer momento”,
foi tudo o que consegui dizer, mudando por completo o seu semblante. E você respondeu cheio de sabedoria que da vida nada se sabe e eu, sempre cheia de certezas tantas vezes falidas, tinha a certeza que não estava errada. Que havia sim a chance da volta. E que era uma chance enorme. Bastava eu acordar e falar que o namoro voltaria e lá estaria ele, o namoro, existindo novamente. Era melhor você sair correndo dali, foi o que ficou mais ou menos no ar.
Você tentou mais um pouco, tentamos, não tivemos sucesso. Ninguém vive na sombra de
fantasmas. Você partiu e não voltou nunca mais mesmo que more no bairro ao lado do meu. Achei justíssimo. Ninguém suporta uma mensagem que não chega.
E eu, até hoje, nunca acordei e voltei o namoro.
E eu, até hoje, nunca acordei e voltei o namoro.
"Da vida nada se sabe."
Já passou da hora de aprender isso.
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