segunda-feira, dezembro 19, 2011

Vai com as outras, e, se puder, não volte aqui

Maria era toda preenchida de mundo e vazia de lembranças. Dentro do seu corpo fino e de ombros largos, por conta da natação que praticou durante a infância, não havia espaço para um balãozinho que fosse remetendo ao seu passado. Com Maria não tinha disso. 


Maria era toda compacta, hi tech e enfeitada de iphone, ipod, ipad e imac. I tudo. Aliás, não havia frase de Maria que não iniciasse com I alguma coisa. Com I, eu, comigo ou aqui. 


Maria não lanchava misto quente, salada de frutas ou pudim. Só pedia yogoberry, yogofruit ou yogofrozzen. Maria não aparava as pontas dos cabelos, ela arrasava. 
Maria assiste aos filmes em blue ray mesmo sem saber do que se trata.


Maria comprou uma câmera daquelas bem grande que não sai do automático. Seu cabelo era lindo, luminoso e cacheado, mas por conta da novela, mudou o penteado! 
Maria ganhou uma caixa de bis, me deu dois e deixou de lado. 


Deixar de lado, era isso que regia sua vida. Tudo descartável, substituível, efêmero. O namorado deixou de lado, os papéis de carta, as cartas. A primeira amiga, o telefonema de aniversário. 
De lado deixou também o dom de sorrir por coisa besta, apesar de falar besteira o tempo inteiro. 


Maria não vai à padaria sem antes passar um corretivo nos olhos, mesmo não tendo para quem olhar. 
Corretivo nos olhos, para os olhos. Era disso mesmo que Maria precisava.

Nenhum comentário: