Não importa se enorme, com vários cômodos ou se apenas um quartinho alugado. É o nosso porto seguro. É pra onde voltamos no fim daquele dia cansativo. É onde nos recolhemos pra chorar na água morna do chuveiro quando "deu merda". É onde recebemos as pessoas que mais confiamos e queremos perto. Na nossa casa, como no nosso coração, há espaço pra muito afeto, mas apenas para os de comunhão. Aprendi que, como o coração, não se abre a porta toda hora, pra todo mundo, não é uma fratura exposta que peleje por atenção e quantidade.
Não tem espaço pra energia pesada exterior. Não cabem os olhos gordos. É o nosso canto e tem que ser respeitado como respeitamos a nós mesmos.
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Tem quase um ano que estou de "casa nova" e ela custou a se transformar num lar, no nosso canto, com a nossa cara. Eram paredes e espaços esperando por nós, que nunca chegávamos de corpo e alma. Hoje, quem entra aqui, seja pela sala ou cozinha, consegue sentir o aconchego e a identidade. Quem me conhece um pouco e também conhece mamãe, identifica sem sacrifício que esse é o nosso lar. É a gente em detalhes, em retalhos, em cores e formas. Em cada cômodo tem um pedaço de nós, idealizado e feito por nós. Olha-se uma cadeira e é possível lembrar como ela foi feita, desde a escolha da cor da tinta até a confecção, os reparos. Olho a parede de azulejos e lembro da tarde inteira batendo cabeça na Frei Caneca pra fazer o mosaico mais bonito. Meu quarto, minha mesinha de cabeceira, eu alí. Em tinta, vidro e madeira de rua. O espelho de janela, a mesa de carretel, as subidas e descidas pela rua com materiais garimpados e, depois, repaginafos ao nosso gosto, com nosso toque. A cara de pau pra conseguir esses materiais. "Um eterno ateliê", como dizem os que aqui chegam e acompanham a trajetória da casa que nunca termina, mas que tem sempre espaço entre uma lata de tinta e outra de cerveja pra receber os amigos.
Eu não vejo a hora de terminar. E também não vejo a hora de terminar pra saber o que eu já sei: que ela não termina. Que é ad infinitum, eterna mutação. Igual a gente.
momentos 'finais' |
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