quarta-feira, julho 10, 2013

aquele corpo

Reconhecer o corpo enrolado naquele lençol branco com fita crepe foi, de longe, a coisa mais deprimente que fiz na vida. meu avô já não tava alí. podia ser qualquer outro. só um corpo abatido empacotado por inteiro em um lençol branco amarrado com fita crepe das grossas. podia ser meu avô, fiscal da receita federal e seus 20 mil reais mensais que vão bancar aquela vagabunda ou podia ser o moço que dorme em frente ao hospital, no chão frio. frio feito o corpo do meu avô. que podia ser o corpo de qualquer outro. mas era o dele. e, naquele hospital, naquela sala tão sem ar, não poderia ser qualquer outro pra reconhecer aquele corpo que não fosse eu, aquele corpo feito de carne - quase podre. a carne é podre, rasa. a alma é vasta. amém.

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