quarta-feira, julho 03, 2013

à vida

Até hoje eu nunca havia doado sangue. Motivo não me faltava: o peso pena, a anemia, o fato de sempre passar muito mal quando tiro sangue (que dirá uma bolsa de 450 ml) e, por mais vergonhoso que pareça, preciso ser sincera: sei que mesmo que se tivesse o peso e o sangue forte, provavelmente não teria doado por medo, por não ver alguém meu precisando ou pelo dia tá mais bonito pra praia do que pra um consultório médico. Mas era mais confortável dizer que não podia doar por pesar 49 quilos e isso tirava toda a culpa. Hoje o quadro mudou. Meu avô tá internado faz mais de um mês e até agora já usou 68 bolsas de sangue. Sei que ele não vai deixar de receber um sanguezinho bom caso a gente não consiga a quantidade (grande) de doadores que o hospital pede. Mas a consciência bateu pesado, 68 bolsas? Caramba, tem que doar. Todo mundo tem que doar! Como assim as pessoas não fazem desse ato de dez minutos uma rotina de 3 em 3 meses? E, enquanto me perguntava isso, me sentia um ser menor que aquela bolsa transparente sendo preenchida pelo meu líquido vermelho: até hoje eu era parte desse todo mundo. Deixei o medo em casa, aproveitei os dois quilos que angariei em 3 meses de viagem e fui. As médicas me pesaram e, ao verem meus 50.4 falaram que era melhor não. Que 0.4 era só de roupa e que 50 cravado podia ser arriscado, que eu quase não tinha veia (???) e que eu podia passar mal. "Moça, se passar mal, passou, ó minha cara de preocupada com isso", foi o que disse enquanto ela ria e concordava finalizando com um "Tudo bem, a gente tira o mínimo que dá pra aproveitar, que é 360 ml, tá certo?" "tá certo". E, entre um assunto e outro, sotaques, Recife, carnaval, Arrail d'ajuda, emprego, namoro, minha bolsa foi enchendo lentamente. "Seu fluxo tá tão baixo, 20 ml por minuto. Abre e fecha as mãos!" Tonteira. "Mais uma vez." melhorou. "Eita, agora tá ótimo! 45 ml por minuto. Faltam apenas 70 ml." "Coloca o resto, moça, preenche essa bolsinha toda". "seu peso só permite no máximo 400" "manda bala" "meniiina..." "vai, moça, oxe!" "oxe haha ok". Bolsa quase toda preenchida, soro na veia, veia que não aguentou todo o soro, ardor, algodão, gelo, "até logo". "até daqui a três meses!" "Alí tem um lanche gostoso." "Obrigada!"

E aquele suco de laranja desceu com o mesmo sentimento de quando bebemos aquela cerveja estupidamente gelada em uma sexta à noite quando não temos nada de específico pra brindar e simplesmente brindamos a vida! à vida, cheers!   

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