Pessoas escrevem o que nem sabem, e, sem saber, continuam escrevendo. Juntando fonemas. Espremendo,colhendo,catando,por vezes inventando amor, afeto ou qualquer outro sentir materializado dentro de um papel. Um, dois, cinco. Folhas inteiras preenchidas de letras.A madrugada e a bebedeira passam. Muitas vezes nem tem bebedeira, só a loucura ou a perfeita sanidade. No outro dia o papel é rasgado. Isso acontece com a tal da Clara, da Joana,da Maria e até com o tal. Comigo não. Eu remeto, remeto sempre. Mas é preciso admitir, a pessoa que recebe corre o risco de ler excessos, de ler momentos. As vezes crio caso e histórias se elas por ventura ou aventura não existirem. Nem sei quantas vezes as palavras me conduziram e não eu a elas. Tenho necessidade disso, essa é a água que mata minha sede. E eu nem me importo com a repercussão que pode causar. Eu gosto que achem a mais ou a menos. Pra mim, a dúvida e o mistério moram na carta remetida, no bilhete enviado e não o contrário. E também, como é bom depois de anos poder pegar naquele papelzinho novamente e sentir um calor por dentro, um incomodo que elevará o pensamento por instantes que podem até durar um dia inteiro. Certa vez, depois de ter mandado uma dessas coisas que a gente escreve com medo de entregar, deixei claro logo depois do retorno:
"Queria ser a dona do acervo do mundo das coisas não remetidas. Imagine só a danação: cartas de amor,de ódio, desculpas e declarações, em várias linguas diferentes, com várias assinaturas distintas,letras opostas, cores de tinta e a força da mão no papel: uma leve, outra cruel."
Eu queria ser dona desse acervo o qual não faço parte.
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