sábado, dezembro 21, 2013

Carta de fim de ano

'Eu podia resumir tudo isso a:

eu lembro de você em detalhes e sinto uma felicidade invadindo que nunca senti na vida. nem antes e nem depois.

(teria sido uma carta mais simples!)

Beijos.'

sexta-feira, dezembro 20, 2013

Sem laço de fita

Das minhas paixões: janelas, varais, galhos secos e cobogós.

Se algum dia alguém conseguir colocar tudo isso dentro de uma caixa bonita e me presentear, eu não vou ficar feliz. 

Eu gosto, ou melhor, tenho paixão, tesão, quase que uma obsessão por estes quatro paraisos ao meu globo ocular. Mas tem que ser cada um dentro de sua natureza, sem interferências. 

As janelas têm que servir de suporte pra uma estrutura maior. E quanto mais barulhentas com o saculejar do vento, mais contente eu fico. 

Os varais ao ar livre, cheirando a roupa limpa. E se são roupas surradas que a gente vê nas estradas para o interior ou pra praia, eu choro. Conseguem ser ainda mais bonitas, as cores vibrantes ou a falta delas, um ocre sem fim. 

Os galhos secos nas árvores com uma ou outra folhinha pendurada e um chão recheado delas, laranjinhas, amarelas ou marrons, indicando o fim de um ciclo e, invariavelmente, o início de outro. 

E os cobogós, esses eu até aceito em unidades, mas nada como uma parede cobogozada pra eu passar a pé e ficar um tempão olhando ou pra percorrer com os olhos de dentro do carro, do ônibus ou da bike e abrir um sorriso ligeiro, do tamanho de um palmo.

As minhas paixões eu tenho de graça. Isso é o que eu chamo de sorte!

quarta-feira, dezembro 18, 2013

Das sabedorias que não possuo

Pra minha pequena, saudade é contável. 

No auge dos seus 4 anos, ela não compreende que saudade é uma só e a gente que vai sentindo parceladamente ou de uma vez, no modo contínuo. 

Quando estou em Recife e passo uma noite fora, no outro dia ela diz "eu tou com a tua saudade". Quando estou longe, ela diz "tou com uma saudade tua". No fim das contas, quem não faz a conta certa e consegue compreender a saudade somos nós, adultos. A saudade tem, sim, identidade própria e pecualiaridades. Uma pra cada instante. Pra cada fase. Pra cada tempo e quilômetro percorridos para o sentido oposto, mesmo que destinada à mesma pessoa. 

A pequena tem a minha saudade quando tá um dia distante mas sabe que vai me ver no outro dia. E tem uma saudade de mim cada vez que fala comigo no telefone, lá longe, ou manda recado. E nos demais tempos, nos espaços entre essas saudades, ela corre, brinca, chora, estuda, pinta, aprende. Como se perdesse as contas das saudades que sentiu. E sem se dar conta das que ainda vai sentir.

Eu também corro, brinco, choro, estudo, pinto e aprendo, em outras proporções, mas ainda não compreendi como faz pra saudade existir em um dado instante. 

E não quando quer, assim, sem cerimônia.

segunda-feira, dezembro 16, 2013

O conhecimento milimétrico

                                                                                                                                 A Maurício
Não era você. 

Teu carro, preto, cruzou comigo tão rapidamente, a pé, que não consegui ver teu rosto. Não, não foi porque você virou a cabeça para o outro lado justo neste instante, eu poderia te reconhecer através de seus pés no chinelinho ligeiro, que dirá sua nuca e seu cabelo assanhado. Mas é que o carro passou mesmo muito rápido, quando ví, ele já havia seguido adiante e só me restava a lateral e depois a parte de trás. 

A cor do bracinho era seu. A circunferência dele também. O modelo da blusa e a cor branca provavelmente bufenta, provavelmente escrita "abayomy" também te vestiam com fidelidade. A janela estava aberta e imagino que até hoje seu ar-condicionado siga quebrado junto com o amassado na lataria. 

(Sorri aquele sorriso de quando te vejo sem querer te ver mas querendo) e logo em seguida me dei conta de que não era você. É que você nunca teria a leveza de apoiar o braço esquerdo na janela do carro enquanto comete o pequeno delito de dirigir apenas com uma mão. Isso faz quem tá indo pra um churrasco, pra uma praia, quem tá ouvindo sublime e batendo a cinza do cigarro ou da maconha continuamente no asfalto. (cometendo um outro pequeno delito perdoável). Quem tá programando o feriado, indo pagar a casa de praia ou apenas que tá na rua porque quer estar na rua e não porque tá com fome e precisa descer pra comer, pois não aguenta mais chocolate bis, biscoito e chá. 

Só fica nessa posição quem tem os ombros desbloqueados. 

Por um detalhe milimétrico não era você. E seria muito bom se fosse você por um erro milimétrico meu, que mudaria tudo: um simples colocar de cotovelos na janela aberta de um carro. 

domingo, dezembro 15, 2013

Novo Rio

Depois de mais de um ano eu voltei naquele dois andares de concreto, luz branca, pessoas apressadas e uma cor meio suja. Um dos lugares mais sem graça e sem identidade do Rio de Janeiro e que, só agora, me dei conta do quão presente e marcante foi pra mim e para aquele tempo. 

Desci no ponto final do 178, atravessei a rua e corri para o segundo andar, onde recordava ser o stand da Teresópolis. Mas, no meio do caminho, fui atracada por outras situações e as lembranças se jogaram na minha frente, feito raposa desembestada em estrada de madrugada. 

Rio das Ostras, Paraty, Ilha Grande, São Paulo, Teresópolis e, claro Petrópolis, infinitas vezes. 

Esse lugar, feio e apressado, nos levou a tantos paraisos, a tantos momentos, a tantas risadas. E eu ia passando em frente ao stand de cada um desses nossos destinos e abrindo um risinho de lado: festival de Jazz, de chuva, de vinho e de amor em Rio das Ostras, evento de fotografia que bebemos todas as cachaças e esquecemos do resto em Paraty, ano novo chuvoso em Ilha Grande, fazendo xixi dentro da barraca, o resgate da chave, a moqueca\panqueca, a praia deserta, toda deserta só pra gente e estourando a champagne antes do tempo. São Paulo, a Serra Malte na Benedito Calixto, o frio nas canelas, os dois sanduiches de mortadela que você comeu sozinho. Teresópolis, piscina, fundue, vinho, amigos, música, trilha no Serra dos Orgãos. E Petrópolis. Nem que eu dedicasse um texto inteiro caberia tanta vida, caberia um cheiro tão específico quanto o daquele sofá, daquela mesa, as conversas postas em dia e o strogonoff de murango.  

Comprei minha passagem pra Terê, comi um salgado seco acompanhado de um mate, daquela loijnha que tem no andar lá de cima, peguei meu ônibus sozinha (nem deu tempo pra um stop na livraria ou na loja de doces). E, já na estrada Rio-Bahia, a caminho da fazenda que estava indo, me deparei com milhões de brocolinhos. Imaginei o fio de azeite escorrendo lá do céu. Vi você rindo da minha cara e dando corda pra minha imaginação. Nossas barrigas roncando, eu cochilando em você, pra onde fosse.

Fomos muito, muito felizes, foi só nisso que pensei antes de chegar no meu destino final.

sexta-feira, dezembro 13, 2013

Retrô 2013

Fui madrinha do desfile dos bonecos gigantes no carnaval de Olinda

Andei de chinelo com temperatura de 1º

Viciei em guinness e pale ale

Me apaixonei por Barcelona

Me apaixonei em Barcelona

Me hospedei em uma okupa

Conheci Brecht

Abracei apertado Samantha

Reencontrei Vic e Quentin

Dividi a vida com Talha

Achei a Torre Eiffel nada demais

Tava em Berlim na Myfest

Quase morri de bike atropelada por um trem 

Quase morri nos trilhos de um metrô

Participei de um campeonato de handball sem nunca ter jogado na vida

Aprendi a cozinhar 

Perdi meu avô

Mostrei o Rio aos meus irmãos pequenos e ao meu pai

Me mudei de bairro

Mauricio me trouxe Raica

E depois foi-se embora

Assisti ao show do Herbie Hancock

Perdi alguns amigos

Consolidei outros

Jorge continuou na minha vida

Enviei e recebi cartas

Perdi muitos casamentos de queridos

Voltei a estudar

Conheci Joatinga e Prainha

Provei caldinho de aratu (tardiamente)

Juntei dinheiro como nunca na vida

Fui lisa como nunca na vida

Fui feliz como nunca na vida

Fui triste como nunca na vida

Devo ter bebido como nunca na vida



Vou passar os últimos dias do ano no sol e mar da Bahia.



segunda-feira, dezembro 09, 2013

De otras vidas

Acho que em outra vida a gente não se despediu... 
... é que a gente sempre se despede mil vezes nessa!

Uma alegria excelsa pra você!



Ao meu orgulho chamado Julia

Esse texto vai ser cheio de clichés. 

É que derrota, vitória, superação, admiração e amor são clichés demais, mas são verdadeiros, percorrem as matizes da vida da gente diariamente e justamente por isso se tornaram clichés, mas não menos importantes. 

Desde que conheço essa moça bonita e espevitada, as fases da gente se misturam, se confundem, se alternam. Eu tô bem e ela tá mal. Eu tô mal, ela tá bem. Dificilmente estamos no alto e avante ao mesmo tempo ou afundadas no poço fundo juntas e talvez não seja por acaso. Estamos sempre atentas e com os ombros largos pra segurar a outra ou pra acompanhar e vibrar as coisas boas que, no fim das contas, sempre vêm. 

E é tão bonito te ver feliz assim! Tas vibrante, bela, sorridente e escorrendo luz. Tas chorando, mas de alegria. É bonito, é bonito demais! E esse bonito engloba tanta coisa...  Nem parece aquela loirinha do verão passado, cabisbaixa, sofrida, penando com as alfinetadas da vida, recolhendo as migalhas em troca de tantos atos grandes. É tão grandioso ter te visto tomar decisões importantes, focado em coisas importantes, levando a sério, se esforçado, abrindo mão de coisinhas menores e, principalmente, não ter se deixado derrubar quando tudo era não, um tsunami. 

O mais foda é ver que o mesmo tsunami que uma hora te destrói, te quebra na emenda, é o mesmo que te coloca lá no alto, na crista da onda, e que onda, hein? 

Pois esse verão vai ser diferente. Vai ser em águas caribenhas, vai ser aproveitando cada segundo dessa tua conquista tão fascinante, tão esperada e ainda sendo MESTRANDA CARAI!! E eu tenho certeza que você vai saber aproveitar cada pedacinho de minuto dessa viagem, dessa fase e dessa vida. 

(Parece que esse verão, finalmente, vai ser de sol para nós duas, simultaneamente).

Axé!


Te amo, galega!

sábado, dezembro 07, 2013

Vertigem

Ando com medo de morrer. Ando, no sentido literal e no outro. Ando olhando para todos os lados, pra cima, para o canto. Ando correndo. Ando cansada. Ando ouvindo pelos sete buracos de minha cabeça, atenta, em eterno estado de alerta. Ando com medo, com medo da morte, da falta de sorte, da hora errada. Ando com medo do outro, do mesmo, de mim. Ando com medo da morte. Não da morte morrida, doença. Ou da falta de ar, afogada. Meu medo é da morte matada, covardia detrás de uma arma, armada. De uma faca, afiada. Da gilete, rasgada. Eu nunca tive medo da morte e agora ela me assombra a cada passada, cilada, esquina. Sair de casa é rezar pelo caminho da volta.  É se desejar invisível. É ver bem de perto que aquilo que acontece com o outro não cabe mais em situações hipotéticas. Elas estão do meu lado, elas já me atacam. Estou no meio do furacão, meu bairro mal-assombrado por seu entorno. Sou uma sobrevivente diária das notícias dos jornais. Seja por uma questão de poucas horas ou de uma rua diferente. Dia desses foi o menino saindo da festa, depois o outro atacado pela gangue de travestis, a garota estuprada na rua daqui de perto, meus dois assaltos com arma em punho e ontem nosso querido Gerson. Desci do ônibus pra voltar pra casa e a água vinha no joelho. Enquanto eu esperava desalagar, presa em um bar como refugio, o Gerson respirava seus últimos minutos antes de morrer covardemente. A água baixou, os taxis se negaram a me levar em casa e eu fui a pé, correndo embaixo da chuva, passando em frente ao bar que por muito tempo foi a segunda casa, minha e de meus amigos, com aquela "TV" e o retratinho cafona e contente. Cheguei em casa na hora que o Gerson, naquele mesmo lugar, morria baleado. Nesse instante eu também morria um pouquinho.



Rip Gerson, Rip Lapa, Rip tranquilidade no peito.

quarta-feira, dezembro 04, 2013

TRANSLATE

Traduzindo para o carioquês, 

'Um olho no padre e outro na missa'

fica:

 'Um olho na polícia e outro no ladrão'.

terça-feira, dezembro 03, 2013

Das coisas tristes

Chegar em casa e perceber a presença de minha mãe não pelo cheiro de seu perfume, mas pelo fedor sufocante de seu cigarro.

Não, era?

                                                                                                                                  A Mauricio

Eu não ia à aula hoje. Eu não ia com a roupa que tava, iria demorar mais a me arrumar trocando de vestido. Você não ia deixar a metade da comida no restaurante ruim se o "R$20 reais" tivesse aberto. Você não teria ficado sem sobremesa se no menu tivesse mais do que pudim de opção. 

Se alguma possibilidade dessa tivesse sido efetuada, esse texto não existiria.

Não era pra gente ter se encontrado, ao acaso, eu soltando meus cabelos e você com a mesma blusa de sempre atravessando a rua em minha direção. Não era pra ter aberto um sorriso daqueles e vindo meio sem jeito com os braços estendidos em busca de conforto ou alívio.

Não era pra nosso abraço ser inevitável. 

Não era pra fazer de conta que tá sempre igual, tudo legal, mas quando você vai embora...

Não era pra perguntar pra onde eu estava indo enquanto me olhava de cima a baixo, querendo captar cada segundo da minha existência rápida ali, naquele pedaço de esquina. 

Não era pra eu ter dito pra onde eu estava indo. "Estou indo para a puta que te pariu, camarada", isso ninguém tem coragem de dizer na hora. Não era pra você ter me oferecido uma carona mesmo não sendo no seu caminho. E, óbvio, não era pra eu ter dito que tudo bem, então.

Não era pra você não entender três vezes o que é tá cevadinho e rir do meu sotaque. E não era pra eu continuar falando. Não era pra você perguntar por qual escada eu queria subir e a gente ouvir a voz e a respiração cansada do outro. 

Não era pra eu ter dito que queria muito água. Não era pra você ter dito que também. 

Não era pra eu sorrir tanto. Não era pra você olhar tanto. 

Não era pra ter um pé de pitanga no meio do caminho até o carro e eu achar que isso é um bom sinal. Não era pra encontrar teu amigo no meio do caminho e ido deixá-lo na sua casa. Não era pra ele tá indo pra sua casa. Não era, sobretudo, pra EU estar indo pra sua casa. Não era pra eu subir aquela rampa novamente. Não era pra sua raposinha aparecer ali embaixo se espreguiçando. Não era pra Raica vir até o carro em busca de carinho, me lamber toda e acabar por ai todos os nãos. Amém, ela não veio. Não era pra você ter me oferecido um copo d'água como se ir até a cozinha significasse só matar a sede, essa sede de água. Não era pra eu ter aceitado. E não aceitei. 

Não era pra haver rebuliço voltar alí no teu pedaço de mundo. 

Não era pra ter um trânsito tão grande. Uma tensão tão grande. Uma vontade tão grande de te falar. De te ouvir. Não era pra você me pedir pra falar em um instante de silêncio. Não era pra eu falar qualquer coisa, qualquer coisa, pra não deixar o silêncio machucar tanto. Não era pra você quase que involuntariamente alisar a minha franja como se fosse normal. Não era pra existir essa vontade. Não era pra eu ter te mostrado o papelzinho dentro do caderninho. Não era pra tocar um reggae e você me dizer que o verão tava chegando. Não era pra eu ter demonstrado que sabia. Que só sabe disso quem te conhece. 

Não deveria ter sido um abraço tão apertado na hora do tchau. Não era pra você ficar me olhando enquanto eu descia do carro. Não era pra gente ter ficado pensando nisso tudo até chegar no destino final. 

Não era pra esse texto ter sido escrito. E nem lido. 

Não era pra ter, ad infinitum, um resto de coisa não exorcizada. 

Não era pra gente ter se perdido. 

Não,

Na verdade não era pra gente ter se encontrado, nunca. 

Não, 

era?


segunda-feira, dezembro 02, 2013

Amores descartáveis

O que mais me entristece nesse novo planeta amor, lulu, tubby, whatspp, é ver a alegria ou devoção das pessoas, inclusive a minha, quando cruzam com um casal que se dê bem, que seja bonito junto e que aparente ser feliz, de tão mina de ouro que isso se tornou. O que era pra ser natural, dar amor e receber amor de volta, se transformou em uma carta escrita à mão. Em um sorteio de amigo oculto feito ao vivo, com papelzinho. Na expectativa pra saber se alguma foto queimou na revelação. 

Tem coisa mais moderna que ocupar as mãos com outra mão (ou com o que queira) por ai, enquanto o smartphone se esguela e vibra sozinho no seu bolso, sem atenção?

domingo, dezembro 01, 2013

VRÁÁÁU

Nunca, nuinca vou saber como chegou nisso. Fazia muito tempo que Barcelona tava distante, era outro país, outro tempo, um capítulo à parte e intocável, guardado, refêrencia de alegria mas sem vivência, pra não machucar. pra não indicar que é possível ser mais feliz, mesmo havendo felicidade. Pra mim, aqui. E pra você, aí, no frio. Compartilhamos dessa mesma dor-amor. Um consolando o outro.  E hoje, no meio do nada, no meio de uma festa, uma festa tão boa, esse assunto veio à tona. Fiz nada pra isso, até agora não entendo a razão. Rio de Janeiro, português, um português cheio de frescura. Barça, espanhol, voz alta, as meninas, você. A gente. Todo mundo.

Que doideira. A gente se fala tanto. Trocamos tantas coisas. Nos amamos à distância e com o que temos condição: palavras Tão mais do que paqueras, do que amantes, do que namoradinhos. Eu creio que somos amigos. Mas leio essa palavra e dou uma risada. Te dou dicas com as garotas e você retribui.  E nessas conversas entre letras concatenadas e a imagem do teu rosto embaçado, antigo, hipotético, te ví. Radiante. Como era cada segundo daquela primavera. Olhos esticadinhos. Voz. Um risinho sacana, sempre. Cabelos semi-oleosos.

E aquela velha sensação de como a gente se entendia mesmo que eu não tivesse celular pra comunicação. mesmo que eu, encantada pela cidade, atrasasse um poucco nosso encontro no horário combinado, mesmo que chovesse. Mesmo que fosse quarta-feira.

Lembra que eu te disse que sonhei contigo e foi bem real? Hoje foi mais real que em sonho. Eu revivi. Eu pude ver teu sorriso abril e maio de 2013. 

E isso dá uma saudade maior do que a gente fala. Um choro involuntário que você iria dar uma risada e me mandar parar de frescura.

Relembrar você e a gente me molda o coração. Modela esse musculo maluco que carrego dentro do peito de uma maneira que ele nunca experimentou antes. 

E nem depois.

sábado, novembro 30, 2013

Dos combinados

No ônibus, um apito fino e contínuo atordoava nossos ouvidos, do meu lado, minha mãe reclamando a cada minuto.

- pqp, que porra é essa? (pela terceira vez)
- mama, pra mim vai ser ainda mais chato se além do apito, tu ficar perguntando sobre o apito a cada instante.
- mas é que tá demais, tá demais.
- quer descer do ônibus?
- não.
- então pára.

E o apito continuava. E minha mãe continuava a reclamar.

- Mama, bora fazer um combinado? Vamos tentar ficar sem reclamar de nada da vida por uma semana a partir de agora?
- Uma semana? Acho que um dia já tá de bom tamanho.
- Então combinado. A partir de agora, 11am, a gente não reclama de mais nada. Começando por esse apito.
- Combinado.

Descemos do ônibus, centro da cidade lotado, um calor medonho, lojas entupidas, gritaria, mal cheiro, sacolas batendo na gente e um sorriso irônico na cara "que ótimo não reclamar de nada!"

Volta para casa, meia hora esperando o único ônibus que deixa em casa no ponto errado. "ora, que bobagem, podia ser pior"

Caminhada até o ponto do taxi. Todos os taxis cheios. Um tempão depois conseguimos o nosso. Maravilha, "boa tarde, moço, vamos ao Bairro de Fátima!"

E, próximo ao nosso bairro, dentro do taxi, cheia de sacolas e uma fome de morder pedra, o taxista lembra da feira que acontece no nosso bairro. "Vocês terão que descer aqui, é impossivel passar por alí'.

E eis que mamãe fica roxa "meu deus, que merda, pqp, esqueci dessa porra de feira. Não acredito, andar isso tudinho? era melhor ter vindo a pé. pqp, que feira de merda!" E, enquanto pagava ao motorista, disse:

"Moço, hoje nós duas combinamos que não íamos reclamar de nada, bom, parece que o combinado acabou, né?"

"É. hehehehe"

E mamãe subiu a rua da feira, por entre abacaxis e ervas, falando e gesticulando todos os palavrões que aprendeu em toda a sua vida. Mas sempre com um risinho irônico na cara de quem havia acabado de quebrar um combinado que não passou de duas horas.

Agora, vamos ver até quando eu aguento.






sexta-feira, novembro 29, 2013

Efêmero, solar



Hoje lembrei que foi você quem me ensinou a manha de modelar o rosto na areia da praia, pra ficar um cochilo gostoso.

Por cima da canga, modelei meu rosto na areia, como modelei meu corpo em você. 
Dormir era bom. Acordar era bom.Tudo era bom, 

até
não

ser.

'Já é verão de novo!'



sol de noite. água de côco. mar. sal. morenicidade. cores no céu. cor de rosa. de laranja. de violeta. cerveja gelada. os bares dos morros para serem descobertos. uma praia mais distante. outra. o suor por entre os seios. pedalada. as curvas montanhosas do Rio de Janeiro. a indiscrição do indescritível. o trem do samba, o samba.  

Já é verão de novo e você não se esforça pra ser a minha casa. No calor, sim. mas sem pudor e muito, muito a vontade.

quinta-feira, novembro 28, 2013

segunda-feira, novembro 25, 2013

Artemanhas do amor

Sofia - ô carlinha, mas tu vai simbora de que horas?
Eu - não se preocupe não que eu só vou depois que você dormir
Sofia - de verdade, carlinha? 
Eu - prometo, meu amor. Só depois que você dormir
Sofia - então não vou dormir hoje, visse?

Resolvido

tem vezes
que a melhor 
solução
é não tentar
solucionar
nada

Avesso

Amanheci com o peito no estomago. É que abraço de despedida machuca um tanto, mas a ideia do abraço, aquele que não foi, machuca, descolore e ainda mancha.

sábado, novembro 23, 2013

"Que seja doce?" que seja real!

O medo de azedar um doce que ficou gostoso faz com que muita gente não mexa mais nele. Medo que  comer mais perca o encanto, permita descobrir pequenas falhas na receita, uma borda um pouco mais queimada, um recheio que ficou cru. 

Tem gente que não liga pra isso e mexe mesmo assim, prefere se lambuzar com o doce e correr o risco do azedo do que permanecer no quase intacto, bonito e superficial. Do que morar na lembrança do gosto que foi bom, até que ele se dissolva em outros gostos.

Eu me encaixo nessa segunda estrofe. Vou sem saber como é a volta, sem me preocupar com esse caminho tantas vezes doloroso ou frustrante. Prefiro a dor do que o vazio, "e se" é câncer pra mim. De suposições me bastam as irremediáveis.

Mas aprendi uma coisa cheia de importancia e que serve de lição pra tantas outras na vida. Existem pessoas, situações, coisas ou gostos que nasceram pra serem vividos apenas uma vez. Uma coisa estupenda e de uma vez só, feito fósforo quando riscado. 

O aprendizado é entender que esse "apenas" nunca vai ser uma palavra menor.

quinta-feira, novembro 21, 2013

quinta-feira, novembro 14, 2013

O decreto do peito, fechado

Para as duas estranhas que um dia acreditaram que seriam, sempre


É triste perceber isso, assim, na cara, no duro e direto, um abuso abusado decretado por decreto. Por todos os lados, de mim, de tu, de dentro, de fora, de lado. Não é a primeira vez que acontece (em dez anos, também pudera) mas tem jeito de ser a última. Por uma "coisa boba" que de boba não tinha nada, que se tornou gigante e minou, azedou o que era doce, o que era vivo, acabou. Era amizade e virou palito, afiado. Era choro, era riso e virou buraco. Era beleza, era sadio e deu praga. O que era um silêncio cumplice se tornou puro constrangimento. O transparente ficou fosco, tosco, de plástico. 

E a amizade antiga deu espaço pra uma amizade velha, desbotada e cansada. Demais.


quarta-feira, novembro 13, 2013

Enquadramento

Contra
Plongè

A distância
Limite
Entre
Eu e
Você

sábado, novembro 09, 2013

Pra curar

Quando falta rifocina para o machucado  e sobra unha afiada pra arrancar as casquinhas, a gente divide a dor em duas partes: 

cada um com a sua

em seu canto de mundo


quinta-feira, novembro 07, 2013

Pra guardar no peito

'Cansei de dar murro na ponta dessa faca afiada do Rio de Janeiro'

Foi a frase que disse à tarde com um nó bem preso no miolo da garganta. Essa afirmação foi injusta, injusta até demais, eu sei. É fácil falar isso quando se está desempregada contando as migalhas pra saber em quê pode gastar e quanto. Quando se volta by foot de laranjeiras até a Lapa todos os dias só pra economizar algum dinheiro para o fim de semana (tudo bem, tou achando ótima a caminhada, mas podia ser apenas pela saúde). 

A frase foi injusta por muitas coisas, afinal, foi o Rio quem me trouxe a grande decepção desastroamorosa de minha vida e que me fez crescer cinco anos em dois meses. Que me colocou um menino lindinho e mais maluco e tinhoso do que eu bem no meio do meu já desassossego. E continuou, continua.  Foi a ponte pra conhecer um dos grandes amores da minha vida, que por pouco não se tornou meu marido (quem hoje imaginaria eu, casada, (?) mas foi por pouco). Foi essa cidade quem me deu as maiores oportunidades profissionais e também os maiores contatos. E, pra completar minha injustiça,  foi justamente por estar atuando aqui que cheguei na Europa, por conta própria, sem pedir um real a mamãe e a papai. E foi onde conheci gostos e sensações nunca antes experimentadas. Revivi pessoas e construi novas saudades.

Apesar dessa cidade nunca ter sido muito estável comigo, profissionalmente e amorosamente falando,  tem um negocinho à parte que é gigante e que me fez chorar novamente (hoje tô chorona): os amigos. Pode tá tudo partido, o coração sempre remexido, a variedade nos ramos de trabalho mais instáveis que o câmbio na página da Uol, uma saudade que separa toda a minha família por esse brasilzão, mas quando penso em como era minha vida afetiva quando cheguei aqui e como ela se desenhou durante esses quase três anos, meu peito infla e eu só tenho vontade de chorar. Chorar de agradecimento sincero por tantas conquistas. Por tanto amor. 

No último sábado uma amiga antiga de Recife veio me visitar e, no finalzinho do domingo, antes de partir pra terrinha, me falou com tom de emoção que estava muito feliz por mim, em ver as pessoas lindas que estão ao meu redor. E ver que elas também são merecedoras do meu afeto. Quase choro quando ela falou isso (eu tô de TPM?). E é exatamente assim. Em Recife não tenho do que reclamar, tenho amigos incriveis de lindos. De carregar no peito, de levar pra casa e pra bar. De dividir tuias de lágrimas e agonias, quando por ventura elas aparecem, e os risos sem fim, constantes. E aqui no Rio não é diferente. É tudo mais novo, mas é tão sólido que parece ser antigo. Parece não fazer diferença. Na verdade é até mais intenso, algumas vezes dá a impressão que nós, no auge dos vinte e muitos anos (sem contar com os trintões que são maioria), acabamos de descobrir o que é ter um amigo, um grupo de fé, tamanho é o agarro e a trança que a gente forma, cada dia mais amarrada. 

Massa mesmo é quando os antigos e os novos se misturam , Recife/Rio, e quando isso acontece é um turbilhão, de vida, de luminosidade. Fica difícil distinguir onde termina uma terra pra começar a outra. Deu vontade de chorar de novo (hehe) quando penso em cada criaturinha que hoje faz parte dessa minha vida carioca. Dessa minha vida pernambucana. Dessa minha vida. E a emoção que é vê-los participando de mim enquanto eu faço o mesmo com eles, os sotaques se confundem e eu falo "cara" enquanto eles falam visse. Tem hora que a gente se perde, nas gírias e no amor. Amor transbordante. Na rua, nas festas, em casa, na vida.




Essa foto é de dois amados que representam muito bem toda a equipe a qual me refiro. Eu queria uma foto de todos eles, pra ilustrar essa declaração, como não tenho, transfiro toda a minha gratidão e carinho dessa foto para eles, todos, juntos e um por um. E ainda temos muito o que viver juntos, aqui, lá e em todo lugar!

Amo vocês! 


Beijos no cu,


Carlinha.

quarta-feira, novembro 06, 2013

Quando você deixou de ser sentido e passou a ser lembrança

                                                                                                                           A Mauricio

Qualquer coisa que eu fale ou que você murmure, não passa mais de frase. De letras unidinhas formando qualquer palavra. cebola, alicate, toalha, eu te amo. Todas iguais. O sentido se tornou lembrança. A lembrança se  vestiu de dor, a dor em uma rotina estática, sem malemolência. Dor gosta de rebuliço, um rebuliço que nem existe mais. Coagulou. Pra não me arrepender depois, prendo-a num potinho com medo. A dor não gosta desse lugar comum e tá virando poeira. Escolho a dor à poeira. Porque sei que poeira voa longe. Voa pra bem longe e não volta, se esvai e não se recupera. Por que a dor à poeira? Quando eu conseguir responder essa pergunta e decidir por mim e por você sem piedade, vai ser sua vez de me perguntar isso, querendo decidir contrariamente, cheio de vontade e razão, cheio de palavras descabidas e desconexas para o momento. Vai tentar diferenciar, na emoção, cebola de eu te amo. Como sempre é. Pena que já estarei tão distante.

terça-feira, novembro 05, 2013

Primeira Manhã

                                                                                                                      A Mauricio

Crônica de agosto de 2013




Ele fugia de mim. Pra mim. Mas na verdade era eu quem fugia dele. Pra ele. 

Acho que nunca teremos como saber. 

Eu estava sempre namorando, pra ele. Ele estava sempre namorando, pra mim. E quando não estávamos, fugíamos. A vontade de se enroscar acompanhada do medo era tanta que as desculpas se tornavam infindáveis para o não. Até que a matemática falou mais alto e negativo com negativo se tornou positivo e lá fomos nós. Mentira, lá fui eu, por volta das onze da noite pegar um ônibus e depois uma van de Copacabana diretamente pra Santa Teresa, lá no alto. Endereço escrito em um papel e o coração batendo mais rápido que a velocidade que o motorista percorria aquele caminho que nunca chegava. A hora é agora, pensei. A hora é agora, ele pensou. Finalmente pensamos, sincronicidade. É agora. Um agora que demorou coisa de dois anos pra acontecer. Já era bem tarde e a vontade de protelar aquele momento era tão grande que ficamos no estúdio que ele tem em casa. Alguns amigos chegaram e entre uma bebidinha e outra tocaram umas músicas. 

Pra disfarçar minha cara de sem vergonha envergonhada, peguei minha câmera e comecei a filmá-los, como uma maneira de justificar minha existência nova naquele lugar. Mesmo sendo uma existência antiga na vida do dito cujo senhor das baquetas. O tempo foi passando, a bebida acabando, os meninos dando boa noite e até a própria noite se despediu dando espaço para os primeiros tons indicativos de dia. Era hora de foder. Não tinha mais pra onde correr. Não havia mais como fugir. Éramos só nós dois, Eric Clapton conduzindo a ebriedade do momento e um colchão para nossos corpinhos magros no meio do estúdio. Ele fechou a cortina. 

Corta a cena

Acordamos. Quer dizer, acordei primeiro e parecia que éramos um casal antigo: as pernas enroscadas, o nariz no pescoço, o pescoço babado. Me mexi o menos que pude e ainda tateando aquele lugar não comum (tanto o corpo quanto a casa), procurei pelo copo d'água que tava perto. O estúdio tava bem escuro, derrubei meu celular no chão e ele acordou. Abriu os olhos e um sorriso de satisfação e bem sonolento me puxou de volta pra ele. Uma preguiça danada de levantar, as vozes lentas trocando carinhos sem vergonha do bafinho matinal. Lá fora tava um sol de rachar. Aqui dentro também tava, sol. Parecia que a gente não ia se desgrudar nunca mais. Depois desse dia, nos encontramos algumas vezes e depois fizemos questão de arrumar qualquer novo motivo para o não. 

Agora ele foge de mim. Pra mim. Mas na verdade sou eu quem fujo dele. Pra ele. 

Acho que nunca teremos como saber.

sábado, novembro 02, 2013

Sexta, Miles, água com limão, pijama e palavras

Houve um tempo, não muito distante, em que ficar em casa na sexta-feira à noite era sinônimo de derrota, tristeza e agonia. Era quase que hipotética a cena da rua lá fora, as pessoas, a ebriedade do momento e dos risos e eu não estar participando disso. Só se tivesse doente, não tinha essa de chuva ou coração machucado como fatores impeditivos. Sexta-feira era dia de rua, ponto final. Hoje, quase 1h da manhã deste emblemático dia, estou aqui, em casa, sozinha. Sozinha e contente. Não porque não tinha pra onde ir, aliás, eu tinha inclusive um convite pra um baile muito legal. Mas minha casa me ganhou, o cheiro de colônia, alecrim e manjericão do banho de ervas que fiz mais cedo me aconchegou, me fez escolher aqui pra ser hoje o meu lugar. 

Tem cerveja na geladeira, aliás, têm muitas cervejas na geladeira. E tem vinho na prateleira da sala, mas estou na água com gelo e limão. Não, não é suco de limão, é outra coisa, é essa coisa. Por incrível que pareça, até estou com uns trocados que poderiam ser gastos noite adentro com os amigos, mas permanecem na carteira, que permanece na bolsa, que permanece pendurada no meu espelho de pé, bem lindo, que permanece no meu quarto, que me pertence. E eu pertenço a ele, hoje. Bebo minha água com essência de limão e Miles Davis embala minhas palavras pelo Grooveshark. É tão maravilhoso não precisar baixar música no meu computador com pouca memória e não ter que aturar as propagandas do youtube. Eita, agora começou a tocar "The man i love", me arrepio com essa música. Miles é um danadinho! 

Comecei, finalmente, a escrever uns rabiscos sobre meu projeto. Decidi esquecer essa ideia de que porque nunca escrevi um projeto na vida, não posso começar nunca. Joguei pela janela da sala, que é bem grande, a desculpa de que não sei fazer orçamento e de que não sei qual é a linguagem específica a ser usada. É futucando que se aprende. Depois dei uma parada, comecei a ler a apostila do curso e viajar nos tilts, pans, travelings, chicotes, plongès e contra plongès. Voltar a estudar foi uma das decisões mais acertadas que o desemprego me trouxe. Me assusto em como não fiz isso antes, onde morava minha necessidade de aprender mais e mais e mais? Espero que depois dessa eu tome juízo e não pare de estudar nunca mais, mesmo que um dia eu tenha três empregos, um cachorro e um pomar pra tomar conta, cheio de pitangas graúdas.

Dei um um tempo no projeto e vou aproveitar pra terminar meu livrinho que tá parado tem tempo. Ah, nem queira saber a quantidade de livros que tenho interrompidos faltando 2 capítulos pra terminar, não sei que prazer é esse em não querer saber o fim. Vou mudar essa mania boba e terminar o que estou lendo de uma vez por todas, antes que ele vire estatística. 

E agora, vendo minha cama quentinha e bagunçada, deu vontade que o sono não demorasse a chegar. É tão boinha a hora de desligar tudo e deixar só a luminária de luz ambar iluminando minhas últimas ideias antes de pegar no sono... Não sei como tem gente que não gosta desses instantes finais de antes de dormir, pra mim é quase um abraço. Um abraço deitado, suave e contínuo. Obrigada, sexta, água com limão e gelo, Miles, pijama e palavras.

sexta-feira, novembro 01, 2013

Sobre uma tela que divide. Ou o oceano que separa. Ou não.


A Brecht

'Uma felicidade sem futuro
como qualquer felicidade que se preze'

de Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios

Eu te decorei. Os olhinhos mirando a parte superior esquerda. Os olhinhos, cerradinhos, cheios de brilho. Igualzinho como eu lembro. E o sorrisão querendo engolir esse cristal liquido que separa as nossas vistas do abraço, do aconchego, do cheiro cheirado. Três horas de diferença no relógio e o nosso sono igual. Bairro de fátima, Karlsruher, oceano, halloween, guapa, tas aí? Eu te decorei, o silêncio que precede a caretinha de boca, mostrando parte dos dentes, indicando que minhas bochechas vão ganhar um aperto sonorizado por um "aaaaarrrhhh", mas via isso, esse tal de skype, a caretinha de boca é interrompida pelo não ato e o rosto vermelho, frustração disfarçada. E minha caretinha de cumplicidade em querer tocar tua bochecha também. Eu te decorei. E eu também te colori, com lápis nos olhos e batom por tabela, por beijo. Você também é o mais lindo. E vai tá sempre fazendo bonito no meu coração, obrigada! Pela noite de halloween e pelos sentires incoisificáveis. Seremos sempre essa felicidade sem futuro. Que é como são as felicidades que se prezam: agora.

quinta-feira, outubro 31, 2013

Period

jorrando carmim é a poesia de minha 
menstruação sem fim

segunda-feira, outubro 28, 2013

O maior avanço da tecnologia é a falha

"Dessa vez você não esqueceu o cachecol, mas encontrei meu coração caído no cantinho esquerdo do sofá. Quando te encontro pra devolver?"

A pessoa compra um celular novo e ele magicamente apaga mensagens novas e revive mensagens de dois anos e meio atrás que eu sequer tinha. A tecnologia e seu desavanço em prol das lembranças sensitivas de frescurinhas que precedem um namoro. Bonitinho isso. Sorrisinho.

Essa foi a primeira mensagem (antiga) que (re)lí em meu celular (novo). 

sábado, outubro 26, 2013

É batata

E quanto mais a gente pensa em não pensar, mais pensa. E pensa duas vezes, primeiro o pensamento original, depois o pensamento de não pensar. Então vou fazer assim: não vou mais pensar em não pensar, pra pensar uma só vez. Pensar uma vez só é o caminho mais curto para não mais pensar. 

Pensarei, então, com permissão, tudo legalizado, batendo ponto e sem vergonha. 

Até o pensamento mudar de morada. Ou a morada mudar de pensamento.

Valendo!

quarta-feira, outubro 23, 2013

O céu azul de Barcelona



Barçazul

Voltando pra casa, dei uma olhadinha para o céu que fica em cima da pracinha e lá estava ele, azul, azulzinho. Zero vestígio de mancha esbranquiçada ou de um cinza qualquer. Azul. Olhei novamente e ao fundo enxerguei uma das construções de Gaudi refletida: a Casa Battló. As pastilhas, as curvas, as cores. Depois retornei o olhar apenas para céu e aquele azul já não era tão azul assim. Continuava sem manchas, sem cinza, continuava limpo e uniforme. Mas era um azul diferente. Era bonito, também, mas longe de ser o céu azul de Barcelona.

terça-feira, outubro 22, 2013

CUIDADO

com o vão
entre buceta
e coração

quarta-feira, outubro 16, 2013

A hora do tchau



Ela vem sem atrasos e em estado de falta
Se despedir falta palavra e abraço
É sempre pouco
E sobra no olhar a esmo de depois

Não importa quantas horas ainda restem
ou o tanto de preparo que se tenha pra isso:

A hora do tchau são dois copos vazios
Dois corpos vazios e ao mesmo tempo tão cheios, preenchidos
Duas vontades de ficar, estar e permanecer

Sem vazão

segunda-feira, outubro 14, 2013

É amor

É amor. A gente demorou a entender o que danado era isso. E veio sem susto, amor daquele certeiro e que não mancha mais. Não é posto em xeque, não ameaça, não dá soco no peito e nem murro em ponta de faca. A gente aceitou, é amor. Quando sangra logo trata de estancar. E não importa mais o que aconteça por fora ou por dentro, de mim ou de você, e também não depende mais do tempo (que irremediavelmente vive indo): o sentimento não escapa. Ele tá se encontrando firme dentro de cada detalhe. Respeitando cada espaço, cada passo, na certeza do sorriso demente e dos olhinhos brilhando, latentes.

sexta-feira, outubro 11, 2013

Lembrancinha

Nessa vida doida e cheia de falhas, nos encontramos quando tudo era não. Você vinha com um não estampado em neon antes do nome. Mas não me atingia. Os alto falantes negativos não chegavam até mim, chegavam até meus ouvidos, apenas. E chegar aos meus ouvidos e nada dá no mesmo pra uma mente avoada feito a minha. Você era ideia e ideia no máximo intriga. Aos poucos foi trocando o n por t, por talvez, por s, por sim, aos poucos foi mudando, naturalmente (?). E virou sim. Sim, sem mais e nem meio mais.  Depois repentinamente tudo voltou a ser não. Não antes, durante e depois do nome e até da ideia. Não no bar, não viajando ou quando deslembrada de você e você surgia, em pensamento ou em visão: não. A questão é que mesmo com o não, de algum modo você continuou sendo sim por aqui. Sim no bem querer, na vontade de te ver bem, na instiga de que as coisas tomem um caminho bem leve pra teu lado, que as vias se estendam aos teus pés e que teus pés queiram seguir por essas vias, tranquilas e com um sambinha de fundo tocando em tua homenagem, em homenagem às conquistas e à vida que ensinou e aprendeu com você. Eu te desejo uma primavera larga, bonita e limpa. Eu desejo você para você da mameira menos dolorosa que possa ser possível. E te desejo isso como desejo a mim também e a todos que prezo. Um feliz aniversário!

domingo, outubro 06, 2013

Flechada

teus olhos
tristonhos
descansaram 
nos meus olhos
tristonhos
por três
tristonhos
segundos
e
tristonhamente
escapuliu

quarta-feira, outubro 02, 2013

Olhos ancestrais




No limiar entre o dito e o silecioso. Mistério, candura, fogo, brisa. Abismo. Mergulho. Desvio. Aviso, alerta, perigo. Mistério. Aberto. Abrigo, descanso: infinito. 

Foi isso que me disse através daqueles (também) olhos ancestrais.

segunda-feira, setembro 30, 2013

Pra saber que é amor

                                                                                                                               A Mauricio

Amor não é como a gente escolhe e não vem na embalagem que mais agrada, a embalagem bonita da vitrine. Amor às vezes vem quando a gente tá sujo, tá triste, tá querendo fugir da gente. Tá com a blusa manchada e a alma também. Amor não enxerga a cor da blusa, tampouco a cor do momento. Amor costura. Faz curvas e mais curvas em torno das nossas ideias, das nossas vivências, de nossas falhas, nossas doenças. Amor não escolhe a hora e nem o erro mais bruto. Também não escolhe pelo feliz acerto. O amor não escolhe, ele nasce. Nasce de um terreno capinado ou por entre os matagais em abandono. O amor brota. Ele dá um cadinho de esperança mesmo quando tá tudo errado, quando tem buraco, um espaço mal cuidado. 

Amor é um colo quentinho, os braços agarrados nas pernas e cheiro no ombro de olhos fechados, involuntários. 

Amor é isso e se não for é outra coisa, tão latente quanto, mesmo quando vaza, escorre, catuca. Mesmo quando dor.

sexta-feira, setembro 27, 2013

RIP CAIÇARA






Hoje é dia de luto
Coração em poeira
Restos de história
Por baixo da britadeira

Construtora de cú
No cú do Recife
Quase 500 anos de história
E a mesma canalhice

A casa
Cai
A cidade não sara
Com trocadilho horroroso
Feito Recife,

ALIENADA

quarta-feira, setembro 25, 2013

Central do Brasil

Hoje, cheguei na estação por volta das 15h e, ao invés de pegar o subterrâneo para o metrô, me abestalhei e acabei sendo levada pela multidão, seguindo o fluxo 'sempre em frente'. O portão que é enorme se mostrou pequeno demais pra tanta gente apressada na vida. Pra ir e vir. Sabe-se lá pra onde. Quando me ví finalmente só, a muvuca já distante, realizei onde estava, dei um sorriso engraçado e te encontrei. Você tava perto daquela banquinha cheia de coisas pra vender, de blusinha Huebra e me perguntando o motivo de eu não estar bebendo. Expliquei e então comprei uma água, um salgado e fomos em busca dos seus amigos, do aniversariante e do que parecia com você, "de barba e é mais ou menos da minha altura". O samba já estava fervendo, clima de carnaval carioca, moças bonitas com cara de maquiagem ofereciam pulseira para o trem vip que, em cinco minutos, estaria partindo para Madureira. Achamos seus amigos e corremos pra comprar os tickets. Quando finalmente chegamos na plataforma, o trem partia sem nós, sem pena. 

Foi quando me ví novamente só e tomei o metrô linha dois para Coelho Neto, depois Rocha Miranda.  

Grão e vida ou o desejo de felicidade

Aldeia


Com quantos grãos se faz uma fotografia? Com quantas fotografias se faz uma história? Com quantas histórias se faz uma vida? Com quantas vidas retornamos ao grão? 


Os questionamentos são em homemagem aos assuntos que tavam rolando nesse balcão: fotografia analógica, digital, laboratório de revelação e tudo o mais que duas mentes curiosas podem trocar. 

(gente especial faz aniversário no mesmo dia. Parabéns aos dois librianos! Vida longa à curiosidade por esse negócio vivo e latente chamado vida!)

terça-feira, setembro 24, 2013

A alegria de uma nota triste



Enquanto tento me concentrar no meu livro, identifico a nota alegre das teclas do piano, lá longe. E fico imaginando se é uma criança, um rapaz, uma menina, um senhor. Decerto é alguém treinando um exercício repetidas vezes, não me queixo, é bonito. Até as falhas das notas são bonitas. Mas essas são notas alegres. Aprendi com você, rapaz da fotografia, o que são notas alegres e notas tristes. E como em uma brincadeira, alguns testes de ouvido você me fez. Eu prefiro as notas tristes, me tocam mais. Chegam junto, entram nos poros e ficam por algum tempo. As alegres batem e voltam, correm mundo com certa pressa. 

Eu queria dizer pra pessoa do piano lá de longe, pra essa criança, rapaz, menina ou senhor, que eu ia ficar feliz que só se ela tocasse uma nota triste nessa minha tarde chuvosa.