sábado, dezembro 07, 2013

Vertigem

Ando com medo de morrer. Ando, no sentido literal e no outro. Ando olhando para todos os lados, pra cima, para o canto. Ando correndo. Ando cansada. Ando ouvindo pelos sete buracos de minha cabeça, atenta, em eterno estado de alerta. Ando com medo, com medo da morte, da falta de sorte, da hora errada. Ando com medo do outro, do mesmo, de mim. Ando com medo da morte. Não da morte morrida, doença. Ou da falta de ar, afogada. Meu medo é da morte matada, covardia detrás de uma arma, armada. De uma faca, afiada. Da gilete, rasgada. Eu nunca tive medo da morte e agora ela me assombra a cada passada, cilada, esquina. Sair de casa é rezar pelo caminho da volta.  É se desejar invisível. É ver bem de perto que aquilo que acontece com o outro não cabe mais em situações hipotéticas. Elas estão do meu lado, elas já me atacam. Estou no meio do furacão, meu bairro mal-assombrado por seu entorno. Sou uma sobrevivente diária das notícias dos jornais. Seja por uma questão de poucas horas ou de uma rua diferente. Dia desses foi o menino saindo da festa, depois o outro atacado pela gangue de travestis, a garota estuprada na rua daqui de perto, meus dois assaltos com arma em punho e ontem nosso querido Gerson. Desci do ônibus pra voltar pra casa e a água vinha no joelho. Enquanto eu esperava desalagar, presa em um bar como refugio, o Gerson respirava seus últimos minutos antes de morrer covardemente. A água baixou, os taxis se negaram a me levar em casa e eu fui a pé, correndo embaixo da chuva, passando em frente ao bar que por muito tempo foi a segunda casa, minha e de meus amigos, com aquela "TV" e o retratinho cafona e contente. Cheguei em casa na hora que o Gerson, naquele mesmo lugar, morria baleado. Nesse instante eu também morria um pouquinho.



Rip Gerson, Rip Lapa, Rip tranquilidade no peito.

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