terça-feira, novembro 23, 2010

A rota mora na noite vazia, encharcada de silêncio teu




ô seu moço, um cadinho de amor, um tantinho de atenção - Pra que eu não me aprume, não me encaderne, não vire bibelô -
Nesses tempos de relógio e pagamento, o amor é preciso, viu?


Senão endoida
Senão engessa
Senão
Se e não

Coração precisa de compasso
Precisa do teu passo
Não caminha só

Só, até caminha
Passeia na esquina
Dobra na contramão
Arrodeia mundo
Bate ponto e solidão

Mas ele não quer, seu moço
Quer não

Porque coisou
Entendeu bem?
Coisou e pimba!
Por que, senhor?
Porque, senhor
Não acerto os porques ortográficos
Mas entendo dos porques sentídotos
E eu também invento palavras, ouviu?
sen-tí-do-tos
Invento os dias
Crio as horas
Estou contigo
Estou agora
Em um parque
Na praia
No quarto
No queixo
Nu
Eixo
No
On
Lábios

Tou com você
Mas se quer saber
Não é festa

Precisa de carinho
Precisa de denguinho
E de uma voz pra amansar
Mas é uma voz bem de mansinho
Pra chegar devagarinho
E eu toda me deitar

E não essa, esbravejada
Toda séria e alternada
Tão danada de danar

Senão tudo cansa, tudo cala
Eu calo
Tu calas
e ele fala
Um calo na voz
Um calo no peito
Calinho que colher quente não dá jeito

Coisa besta, seu moço
O amor é feito de coisa besta, nunca te disseram isso?

Uma letra, um sorriso
Um sinal, um aviso
Qualquer coisa
Que não isso
e ninguém vai derramar

Porque se o amor não é on line
e muito menos off line
É, seu moço, é preciso cuidar

Que o meu querer é feito de doce
É feito de oxe
É feito de hoje

E não do se, do não e talvez

Entende isso, seu moço, entende isso de uma vez

Por que senão fica tudo triste, um borocoxô só
E eu caminho, caminho, caminho nó




9 comentários:

André disse...

Tu se supera a cada texto, cada trecho. Esse tá demais, ta bem curtido. Sem querer ser injusto com os outros, acho que esse é teu melhor dentre os textos que li, claro... (pelo menos dos últimos tempos). Li e reli algumas vezes na tentativa de não te encontrar nele... em vão: tu cabe em cada linha, carlinha. Do mote à entonação. E ele é longo, um longo que não cansa... cheguei na última linha querendo mais.

teve uma frase que serviu pra mim, como se fosse um tapa na minha orelha... e diz assim:

Senão tudo cansa, tudo cala
Eu calo
Tu calas
e ele fala

E, o amor é feito de coisa besta mesmo... mas sem essa besteira (boa,claro), sem o detalhe, não passa de decalque. Eu fico bobo com a forma que tu escreve sobre o amor, o sentir, o querer... É praticamente impossível crer que um texto como esse não possa ser real.

Por detrás da malha fina disse...

tu já leu ele em voz alta? tao musical. ele cabe direitinho numa leitura mansinha e cantada. sem aquelas intonacoes forcadas de uma teatralidade que nao existe. mas sentido mesmo, real.

le ele bem alto, tá? ou mansinho mesmo, porque ele nao pede grito.

Anette Alencar disse...

já, eu fiz ele em voz alta! Fui falando e falando e falando, quando dei por mim, ja tava na metade de uma poesia... ai corri, peguei um papel, escrevi tudo que eu tinha falado e continuei falando e escrevendo. No inicio não era pra ser escrito, eram só devaneios, mas não resisti e corri para o papel. hahaha. Mas não fiz a experiência de ler ele depois de pronto, tendo a consciência que estou lendo algo...

felipe disse...

caramba... sem palavras

Andreane Carvalho disse...

Nesses tempos de relógio e pagamento, o amor é preciso, viu?

Essa é a parte que eu mais gostei!
Lindo demais da conta isso =***

joana liberal disse...

tão lindo. arrancou-me lágrimas. adoro como tu escreve sobre o amor. me faz não desistir dele, mesmo com tanta gente sem coração por ai.

não pára de escrever. mesmo que alguém peça.

linda!

Anônimo disse...

em pensar que esse texto poderia ser pra mim...

Roberto disse...

tu devia publicar um livrinho com teus contos, textos, poemas... eu ia querer um!

Stephanie disse...

OOOOII
menina isso aqui ta MT bom..
encantei, juro! rs
passearei mais por aqui.. =)
beijo.

http://www.clicdaaguia.blogspot.com/