terça-feira, maio 11, 2010

Nosso lar


1. Pessoas dividindo o mesmo teto, as mesmas angustias e vibrações. Não apenas por obrigação, tenho a leve impressão que se cada um deles pudesse escolher os 4 membros pra compartilhar de toda essa loucura que é viver, ou melhor, que é viver nesse nosso mundo, teriam eles, se escolhido. Aquela casa, aquelas cores, aquele cachorro que mais parece gente. As molduras e blocos esculpidos com uma perfeição esquisita. Feitos pra se olhar quantas vezes o tempo permitir. Aquilo tudo me remete passado, um passado antigo e não velho. Pessoas sérias que por baixo da voz tensa, guardam um enorme coração. Guardar não é esconder. Eles não escondem, apenas guardam. Não existe o medo de ferir ou sair ferido, costumam ir até o fim. Por sorte sabem que o fim tem direito a perdão e amor. Por que aprenderam desde sempre que se precisam, que se amam, e,mais que isso, que gostam de sentir essas coisas. Ao contrário do que parece, naquela casa quase não havia espaço para festas e grandes comemorações. Conhecendo paralelamente cada um dos membros, que juntos formam uma família, fica quase impossível acreditar nisso. Mas era assim. Dizem que por terem uma luz tão forte cada um. Uma vibração tão potente, que juntos, não sabiam como administrar isso. Tudo intenso demais, tudo pra sempre ou nunca mais. Ora amor, ora dor. Mas a luz de cada um permanecia intacta. De toda forma, eles se escolheriam. Sim, se escolheriam. Por que o apesar das coisas fazia parte daquilo tudo. Sem os apesares e os pesares, não seriam eles quem são. Não seria ele o patriarca respeitado e admirado e nem ela um beija flor que dança por entre todos, em busca do entendimento. Não seria ele o doce garoto, responsável, protetor. Não seria ela a causadora de amor involuntário, de pulso. Enquanto um pesa o outro flutua, tem espaço pra tudo.

- Eles se completam, disse ela baixinho.

2. Tenho tanta propriedade pra falar dessa família que fico sem jeito. É tudo tão profundo, é tudo tão expansivo e detalhado. Cheio de retalhos, de emendas. Os corações foram costurados com fios de ouro várias vezes. É tudo tão tão, que fico sem saber como falar. Na verdade, eu sei que toda família é assim. Mas como tenho intimidade demais com essa, fica tudo maior. Principalmente quando visto de dentro, sem uma grandeangular pra me ajudar. Mas o que importa é onde tudo isso, toda essa loucura nos levou e nos transformou no que somos hoje. Cada um. Família precisa morar junto pra ser família?? Acho que o pai dos burros não entende que esse significado é obsoleto. Talvez eu precise inventar uma nova palavra para o meu estilo de família. Mas no final de tudo isso, tudo o que me restou foi uma imensa soma de afetos, maior do que quando eramos a familia do dicionário. Eu precisei da distância pra medir o tamanho do amor pela minha mãe. Foi quando conheci na pele e na vera o real sentido da frase "amor de mãe não se mede". E precisei da decepção pra saber que o que eu sinto pelo meu pai é mesmo amor. amor simplesmente por amar. O amor mais puro. Com meu irmão as coisas não mudaram muito. A saudade aumentou e ficou mais gostosa. Ele sempre vai ser meu exemplo. Eu continuo querendo ser ele quando crescer, o problema é que eu já cresci, os 4 anos de diferença já não contam como desculpa. O outro vai ser sempre o meu desafio. Ele tem medo de amar só por amar. Acho que ele precisa de porques, de explicações e motivos concretos. Eu achei que nossa história, por sí, já era um motivo. Tenho o resto da nossa vida pra conquistar isso ou tentar entender. E no meio disso tudo, ainda paguei a lingua. Sempre acreditei que não se ama a primeira vista. Pois eu amei alguém com uma rapidez recorde. Nunca amei alguém tão rápido em toda vida que nem minha sofia. Quando eu coloquei ela no braço pela primeira vez, ainda no hospital, senti uma coisa estranha. Uma vontade de chorar e de agradecer, assim o fiz.
Não é convencional, mas é essa a minha família.

3. No início, parecia estranho pensar que eu sou adulta. Pensar e agir como adulta. Ainda sei pouco sobre, mas tou aprendendo dentro de cada descontrole, de cada conversa, de cada dia. Pela primeira vez estou construindo uma família e não apenas fazendo parte como sempre foi. Não existe o pai, a mãe, os filhos, o marido e a mulher. Mas existe a gente e somos todos. O nosso casamento. O casamento dos três. Na verdade, o meu com vocês que cheguei de intrusa querendo fazer parte de pedaço do coração. Não quero fatiar um pedaço pra mim, não sou gananciosa, mas o pedaço que for, eu quero sincero. Acho que a gente conquista isso um pouco mais a cada dia. Nós três estamos nos preparando para o mundo. Parece besteira, mas algum dia, mais que hoje, a gente vai pensar no quanto isso foi importante. No quanto esse início de vida adulta e compartilhada foi decisiva para muitas outras coisas que venham a aparecer. Tem uma morena bonita que me disse que outra morena bonita tinha a fórmula da felicidade. Amar o defeito do outro. Ter a sabedoria de tentar mudar o que pode ser mudado e a de aceitar o que não pode ser mudado. Sempre achei que amar as virtudes é papel fácil demais. Mas nunca tinha pensado que amando os defeitos eu poderia ser feliz. Clarice que dizia que é na soma das incompreensões que se ama verdadeiramente. Vocês me fazem ter mais certeza a cada dia que essa fórmula é possível e é saudável.
Minha família. Minha primeira família, nosso lar.

5 comentários:

Clareana Arôxa disse...

Lindo isso.
O bonito é que tu tem família por todo canto.

Andreane Carvalho disse...

Que lindo :)

Giovanna Campos disse...

é esquisito ser gente grande. ainda não me acostumei com isso.

estou sempre por aqui, apesar de sempre 'falar'

Livinha disse...

Carlita, ou seria Carla, a carioquinha do meu coração! ;D hoje estou eu no trabalho, pensando sobre amor, perdão, ..., sem muito o que fazer, mas tendo que completar as benditas horas e lembrei que minha irma dos cabelos cacheados tem um blog muito "versátil"... e li, só agora, teu texto sobre família.. fiquei um tanto sem reação (a gnt nao so aprende coisas legais com os outros, tem alguem que eh assim mesmo), mas feliz.. feliz porque temos Famílias tao diferentes,mas tao próximas em essência...e isso nao impediu de construirmos a nossa, com todas as particularidades de três mentes em ebulição, mas com muito amor..., agradeço até hoje a pessoa que nos "reencontrou" para esse laço, pois mesmo sem saber, me mostrou uma outra metade (tais tantas que temos) que faltava pra minha felicidade. obrigada, obrigada a ele, a você, a mãe carilinha, a meus pais, a nossos irmãoes, a nós! e que seja sempre assim, mesmo depois, quando a vida adulta for "normal". beijos

livinha disse...

sim, tirando os erros de digitação do comentário anterior....

o título foi muito bem escolhido, é de um dos melhores livros...

beijos