quarta-feira, maio 26, 2010

O meu nome

É verdade, às vezes me sinto atrevida quando perguntam meu nome e eu, na cara limpa digo: Anete. E digo sem medo de parecer nova demais para isso. Quando criança tinha um pouco de vergonha mas não tinha como esconder, na hora da chamada os professores não aliviavam: "Anete Carla?". A carteira de estudante, tabuadas, ditados, homenagens ou qualquer outra coisa pública, sempre me entregavam e meu rosto ficava tímido-quente. De fato, eu era menina demais pra carregar o fardo de ser Anete, assim, tão de repente. É que nem uma bêbê, sem aviso prévio, se chamar Vera ou Carmem, não dá. E bem sei: Anetes, Ivones, Lourdes, Veras, Carmens, Amélias, todas elas, já deveriam nascer com pelo menos 58 anos. Eu ainda não tenho idade e nem vivência pra merecer esse nome. É parecido com moço broto usando barba, não é para todos. O mais engraçado é que sempre me fazem perguntas como uma forma de me testar, pra ver se é esse mesmo o meu nome. Certo dia, chegou um colega perguntando: "Teu nome é de origem judaica? pois a única Anete que conheci na vida tinha sobrenome de judeu e tinha uns 100 anos". Isso aconteceu no mesmo dia em que uma menina me perguntou se eu tinha descendência indiana, pelos traços. Era informação demais pra uma Carla qualquer. Com relação ao indiano, eu saberia responder: minha família era um misto de índios com sírio libaneses e ela possivelmente achou que eu fosse meio indiana por conta de algumas roupas e os olhos "gordos no centro, porém, esticados". Ouvi isso a vida inteira. Pior era um namorado que tive, vez por outra dizia que eu tinha uma beleza excêntrica. Até hoje eu não sei se isso era bom ou ruim. Mas sobre Anete, meu nome, não saberia dizer. Lembrei de uma amiga falando que era o nome de uma flor, mas preferi não arriscar, depois ele perguntava sobre a flor... E respondi um "não sei", dissimulado e verdadeiro. Percebi de imediato o ar de decepção no rosto do garoto. Logo tratei de descobrir um pouco mais sobre meu nome. Anete é de origem francesa, simples assim. Anetes são teimosas, criativas, carinhosas e sinceras. Foi o que disse o texto. Bom, tenho até meus 58 anos pra descobrir mais coisas e poder, finalmente, merecer e envelhecer com Anete, Carla e quem mais aparecer.

Um comentário:

Laura Gallindo disse...

E a bailarina rodopia sem parar sem pensar na circularidade da vida, mas na banalidade da filosofia e no gozo do instante perpétuo sobre uma sapatilha.