quarta-feira, março 16, 2016

Francisco


Francisco vai nascer. Ele já tem um bocado de apelido carinhoso: Chico, Chicote, Chicória, Chicão e até Afonsinho (que a mãe não nos escute pra puxar a orelha). Pra mim ele é Francisco e pronto! Um nome bonito feito esse não carece de outro.

Ainda não conheço seu rosto e não tem como saber se os olhos serão enormes e famintos como os da mãe. A cor verde é o que menos importa nesses olhões de mundo, feixe de luz no escuro. Mira e tiro certeiro. Um dardo lançado bem no centro vermelho. Não dá pra saber e, ainda assim, não tenho dúvidas de que sim, serão. Aquelas coisas que a gente sabe sem ver.

Francisco não é o primeiro filho de amigas próximas mas é como se fosse. Talvez porque agora parece tudo mais real e palpável que na época de faculdade onde alguém tinha menino e parecia irresponsabilidade.  Ora, mas há pouco tempo alguns amigos tiveram filhos, programadinhos, casais casados, tudo conforme a sociedade espera. Ainda assim é como se Francisco fosse o primeiro.  Por que? Talvez por ser filho de Amanda. Amanda que até pouco tempo tinha como preocupação os cabelos vermelhos, o cigarro encaixado entre os dedos de uma mão e um copo de cerveja ou o que quer que fosse de mais alcoólico na outra. Um texto coerente, outro nem tanto, um genial, um emprego bom, a aula de balé, a São Salvador, as confusões.

Francisco não vem de um casal casado. Francisco não veio esperado e agora a gente só faz isso da vida: esperar por ele. Francisco não preparou ninguém, muito menos Amanda e agora nunca a vi tão preparada pra tudo o que vier em todo o tempo que a conheço. Francisco ainda não tem rosto - pra gente - mas já o enxergamos de sunga na praia dos Carneiros em um verão desses correndo pra lá e pra cá pedindo picolé. Ele ainda não completou 1 ano e a gente já dança um frevinho miúdo com ele no Acho é Pouquinho aos 3. Francisco me faz olhar a janela do ônibus e ter um cadinho de esperança no mundo mesmo estando tudo errado.
Ele não é o primeiro filho de amigos próximos mas é o filho de Amanda, uma mulher que vi  amadurecer, que tenho vontade de estar perto, que escuto com os ouvidos bem abertos e admiro de doer. Falo dela e meus olhos brilham, tenho certeza. Falo deles e meu peito infla.

Do susto em uma mesa de bar na Tijuca veio a surpresa: hoje não consigo imaginar uma dupla mais forte e esperada do que essa.