quarta-feira, novembro 04, 2015

Um sertão no peito




Tenho o coração vasto e todo repartido. Tem parte partida em mil pedacinhos. Tem pedaço inteiro e árido feito o sertão, empoeirado, cheio de galhos e gados magros. Tem pedaço farto banhado por um rio de águas claras e bem fresco feito o Itaparica, lá junto do São Francisco e a outra banda pega fogo feito pôr-do-sol no céu sertanejo, de um laranjume e luminância que não têm igual em canto nenhum. Meu coração é feito de estradas, largas, de perder de vista, nuvens espalhadas de vários formatos: um coração brincante. É também igual vela que acende e apaga e acende e tem a chama mexida pelo vento e dança pra lá e pra cá em cima de mesa de madeira pesada e lascada pelo tempo dentro das casas de táipa, naquele lugar que ninguém foi, ninguém viu. Tem estrume também, que ora aduba, ora se deixa merdificar por tempos. Tem, com muita fome, vontade de percorrer todo o pedaço de mundo que puder, pra se repartir em mais pedaços, pra perder o fôlego e a condição de estar sadio e depois, miudinha, se dissolver e voltar a viver dentro de mim. Meu coração é um besta, é argila, é poço fundo, é arenoso, é liquido, é fluido, é travoso, tem de tudo. É um tudo. E o que ele menos é, é um músculo.

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