domingo, novembro 15, 2015

Dormir junto



A maior questão sobre dormir junto com quem não se tem o costume de dormir junto, não é a noite, o ato, o quarto escuro e o se virar para o lado em um sono cuidadoso. [Sim, cuidadoso porque estamos ao lado de alguém que quase nunca estamos e pelas próximas horas, sem palavras, só tato ou uma busca por espaço.] 

A maior questão é que dormir junto significa irremediavelmente acordar junto, não necessariamente ao mesmo tempo, mas no mesmo lugar. Com o mesmo raio de sol informando na fresta da janela que o dia amanheceu. E agora? O relógio do celular avisa que já tá na hora de não estar mais ali, mas o corpo dele, morto ao seu lado, diz o contrário enquanto te puxa pra perto de olhos cerrados. É possível que alguém esteja te esperando ou quem sabe dormindo, dormindo com outra pessoa e sentindo a mesma coisa. Da parte dele também. Da parte dela. De todas as partes. Uma conta que não fecha - essa loucura humana que somos. O hálito que tá estranho, a intimidade que se cria e se recria, a quase dor na consciência - ou a completa falta dela. A hora de ir embora. Até logo, até breve. O restante do dia inteiro com a pessoa no corpo, no cabelo, no queixo, no peito. E todo o vácuo no restante, a reconstrução do dia com aquela ausência-presença.

Dormir junto é sim muito mais grave do que qualquer transa gostosa que termina no meio da noite.

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