terça-feira, dezembro 09, 2014

No mesmo taxi

Eu queria ser a Leila Diniz pra ser amiga de todas as pessoas com as quais me relacionei amorosamente. E queria ainda que eles fossem amigos entre sí. Todo mundo, uma grande roda, um churrascão, piscininha e alegria, brindes e mais brindes à vida e aos encontros. Mas a verdade é que a gente sabe que não é assim, que não tem como ser tudo tão puramente leve e bem resolvido entre os ciclos, sobretudo quando se trata de fim. Isso de transformar o fim de uma coisa em início de outra não é tarefa fácil, ainda mais quando não depende só de uma parte, nesse caso, só de mim. Posso dizer que, apesar de não ser a Leila Diniz, meu saldo tá mais pra positivo que pra negativo, se a gente for avaliar que os fins costumam ser cheios de cortes, de porradas. No fim das contas, posso encher a boca pra dizer que um dos meus ex é hoje um dos grandes amigos que carrego no peito. Ok, podem dizer que já que ele hoje em dia é gay é fácil demais mas eu discordo, pois foi um dos finais de relacionamento mais alardados que já fiz parte. Cheio de dramas, de demoras pra se curar, de cartas gigantescas, de posts enormes e cheios de dor em fotolog, de noites sem dormir, de aulas de matemática matadas mesmo estando dentro da sala de aula, no meu mundo particular da dor de cotovelo que aquela djabo de olhos coloridos me deixou. Sem contar com o peso no ego de ter sido a única vez até hoje que acabaram comigo e não o contrário. Os outros, entre esse namoro e o último, nada além de cordialidade. Ou notícias através de postagens em facebook. Sem perda, sem ganho. Não brindamos juntos, mas não há o que se falar de mal.

Hoje em dia namoro alguém que é bastante querido pelo ex que é meu amigo e vice versa. Isso pra mim é uma vitoriazinha. Não dá pra fazer um churrascão mas já vale um espetinho. E meu atual namorado gostaria de ser próximo do meu último ex por uma questão de identificação. Morou na serra, gosta de cerveja, gostava de umas bandas estranhas quando jovenzinho, é do bem, tem coração bom e além de tudo tem alguns amigos em comum, o que atrapalha algumas vezes a logística nos encontros. Ou desencontros de caso pensado - pela outra parte, que não é a minha. Eu queria a todo custo ser amiga dele. Forcei isso durante um bom tempo e depois desisti. Vi que não adiantava isso de chamar pra aniversário, eventos, o que for, mesmo com nossos amigos em comum lá, se ele não se sentia confortável em estar no mesmo ambiente. O tempo passou e esse desconforto, que já não me cabe em mente a necessidade de existir, me parece ter se transformado em uma mania, um hábito. Insisti mais um pouco alegando tudo isso e, apesar dele parecer entender o que falo, não obtive sucesso, ao menos na prática. Mas tem algo bastante curioso que me dei conta nesta semana e que desconstruiu toda essa minha necessidade de ser amiga novamente: eu não deixei de ser. Nunca. Talvez nem por um segundo. 
O que me doía era a não presença física. Era ouvir histórias com amigos meus e com ele e que eu queria estar fazendo parte, como foi por um ano e meio ininterruptos. Era uma espécie de ciúme de gente que tinha uma importância bem reduzida à que eu tinha naquela vida continuar fazendo parte e eu não. Não poder rir junto com todo mundo da bermuda quadriculada que eu escolhi achando tá fazendo um bem para o visual e, na verdade, virar um uniforme e motivo de piada. Eu tinha saudade de ser socialmente amiga e não me dava conta de que, a coisa mais importante, continuou intacta mesmo nos momentos de caos. Eu não sei qual o bar preferido dele atualmente ou qual banda está ouvindo com mais frequencia. Não sei se ainda come semanalmente no Lamas e no Luige. Ou se comprou mais e mais e mais miniaturas de android. Se as capas das almofadas são as que escolhi na Lavradio: uma vermelha e uma listrada. E se o relógio de cubo mágico que deixei na separação de bens continua funcionando. Não sei de nada disso e isso, hoje, absolutamente não tem a menor importância. Me dei conta de que, o que de fato mede a importancia da pessoa em nossa vida, que é a confiança, afeto e respeito que temos por ela, nunca falhou ou mudou. Não sentamos mais na mesma mesa de bar, mas quando o negócio aperta, sabemos bem onde encontrar um ombro amigo. E disso não posso reclamar, sempre chegou até mim todas as informações importantes em relação a ele e todas elas vindas diretamente de sua boca ou teclado. Sem que eu precisasse perguntar. Apenas porque ele quis compartilhar. Das lamúrias, dos problemas, das doenças às conquistas. Na época em que namorávamos, ele me alertava vez por outra que a gente tava no mesmo taxi. Quando eu dava a louca, brigava ou quando parecia que disputávamos algo e que aquilo não fazia sentido algum, pois queriamos a mesma coisa, queriamos estar bem. "Estamos no mesmo taxi, não esquece". E é isso. No fim das contas, todas as pessoas que nos importam - perto ou longe - estão no mesmo taxi que o nosso. Essa frase nunca fez tanto sentido. E isso me deu um alívio enorme.

Um viva aos relacionamentos, aos laços, aos encontros e aos aprendizados. E viva também ao tempo que é sempre curandeiro e, do mesmo modo que carrega, também devolve a paz.


Nenhum comentário: