Mas quando digo que minha vida é doida, não me refiro à minha história geral de vida, que é, na verdade, bem bonita. Me refiro à rotina do dia-a-dia mesmo. Começa pelo fato de que não tenho um emprego fixo e, com isso, obviamente, não tenho também uma renda certinha todo final de mês. Isso já me assustou mais do que vem me assustado agora, acredito ter aprendido a conviver melhor com isso. E ver o lado bom dessa vida autônoma. Ao menos por enquanto, que não passei perrengue, não me vi lisa e não deixei de fazer nada por causa de dinheiro.(nada do normal, ok?). E não, não ganho mesada. A cerveja do fim de semana e meus pequenos luxos saem diretamente do meu bolso que saem de algum trabalho. Acontece que, mesmo com esse dinheiro no bolso, tem vezes que o trabalho vem, rende um bom cascalho bons momentos e depois ele vai-se embora, sem pena. E ai eu fico a ver navios. Uns navios aparentemente massa: com tempo, algum dinheiro e sem previsão da próxima aventura. Quando esse tempo é curtinho, é uma beleza! Vou à praia sem culpa, tomo uma cerveja na quinta-feira, viajo no fim de semana. Mas quando o dinheiro, por sorte (mentira, por organização) continua no bolso, mas o trabalho parece tá longe de chegar, dói. (Sempre parece tá longe, afinal, freela chega sem dar muito aviso, meio do nada, meio de um dia para o outro, então, até que chegue, parece tá sempre bem longe). E essa sensação de entre-safra que às vezes demora a passar, dá um vazio infinito. Uma vontade de chorar. De mudar de país, de mundo, de profissão, de renegar os talentos e ir vender brownie. Ou brigadeiro pra ganhar 26 mil reais no mês como li numa matéria dessas que só fazem piorar a cabeça confusa de uma pessoa confusa.
Foco. É o que sempre me dizem quando tô atirando para todos os lados e peço pinico. É o que me digo diariamente ao acordar e gotejar o floral na lingua. Eu e o Brandy, meu novo melhor amigo. E o que seria de mim sem essas gotas de vida diárias que o floral traz? Não sei como vivi 26 anos de vida sem ele, não sei, mesmo.
E ai que pouco tempo atrás tava tudo parado. Tudo no marasmo profissional. Virei, por duas semanas, organizadora de festas: aniversário da minha mãe, aniversário do meu namorado, open house. E eu? Eu tava em tudo isso e com muito amor. Mas, apesar de sempre me delegarem as atividades mais práticas de produção por parecer óbvio que eu sou desenrolada nisso e de fato eu ser, não me basta. Não tenho um botão que alguém aperta pra ligar e aperta novamente pra desligar. Eu tenho meu próprio tempo mesmo sendo a louca do gatilho, tudo pra ontem, pra já. Mas é uma loucura organizada. Só quem pode determinar esse meu tempo, sou eu mesma.
E eis que, nessa semana, tudo aconteceu ao mesmo tempo. Sim, eu já sabia que quase tudo ia acontecer ao mesmo tempo essa semana, mesmo semana passada estando tudo tranquilo. E nada pude fazer pra me ajudar nessa loucura toda, apenas esperar. Um editorial para uma seleção, dois cursos começando no mesmo dia.Um de manhã e um à noite. Dança e audiovisual. E, nesse meio tempo, dedicação total ao meu projeto. E, agora, uns minutinhos pra postar isso antes que eu pire. Por que é difícil sair da aula de dança na Tijuca pensando no texto que preciso escrever do projeto, em casa, e, enquanto escrevo o texto, pensar que ainda não pesquisei sobre o trabalho daquela japonesa fodona que ganhou o oscar como a figurinista mais pica das galáxias. E, enquanto dou o google nela, me lembro que ainda não escolhi a foto do projeto e que preciso decorar duas frases para o exercício teatral da próxima aula no Centro Coreográfico. Agora, por exemplo, estou atrasada. Deveria tá saindo pra ir pra Laranjeiras ficar impressionada com a professora que é sinistra e já me ensiou meia vida em dois dias.
São 17h. Consegui finalizar (quase) tudo. Respiro fundo. Mais 4 gotinhas de brandy pra me salvar. Hora de partir pra aula, mas, antes, vamos fazer a mochila pra pegar estrada amanhã cedo, afinal, ninguém é de ferro, né?
Sem medo. E sem medinho.
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