terça-feira, setembro 16, 2014

Controle

Eu sou uma pessoa controladora. Ponto final. 
Não me orgulho, mas saber que sou me ajuda a me controlar pra não controlar. 

Se vejo que uma coisa vai dar errado com o outro, vou lá e aviso que ele esqueceu de fazer algum procedimento para alcançar o sucesso final. Não sou Deus, me refiro a coisas que são mesmo óbvias que passam sem notar na vista acostumada do outro. Mas eu sei que o outro também precisa quebrar a cara pra aprender. E o outro precisa crescer só. E o outro precisa que a casa toque fogo por que esqueceu a torradeira ligada por várias horas. Mas se a casa não pegou fogo, sei que não preciso ligar todos os dias pra lembrar de tirar a torradeira da tomada, do contrário eu que vou torrar com os neurônios da vítima, seja ela quem for. 

Por outro lado, quando largo de mão e a casa pega fogo, me ligam pedindo arrego, pedindo meu controle, pedindo desculpas, pedindo por favor, este arrego que não posso dar porque é errado. Mas já salvei o carnaval de dois amigos próximos que não checaram as datas de seus voos e, por um controle extra meu de precaução, ví que um comprou pra um mês antes, e isso me rendeu de aposta duas caipivodkas do Coelho e o outro, pra um mês depois. E me rendeu a presença da pessoa no carnaval, aliás, dos dois. Também já salvei uma viagem para o exterior por não confiar na cabeça avoada do meu ex amorado. Fui "checar" pagando de chata controladora, voltei como a salvadora da pátria. Isso aconteceu duas vezes em viagem com o mesmo namorado. Detectei as duas. Prova maior do que essa, de que controlar não ensina, não há. Mas acontece que se eu deixasse passar, também sairia prejudicada. 

Acontece que não quero ser salvadora da pátria e nem a chata controladora. Então escolhi ficar na minha. Me roendo algumas vezes em algumas situações, é verdade, mas pra outras, apenas abri mão porque controlar também cansa. Não sou mais a organizadora de viagens e a que passa o release sobre o fim de semana. Abri mão e isso me tirou uns bons quilos de responsabilidade sobre algo que deveria ser apenas lazer: que maravilha que é começar a sexta com os convites chegando por sms, ligações ou facebook no lugar de, na quarta-feira, já estar enviando os convites do que terá pela frente. E que bom ver esses convites e, tantas vezes, apenas recusar porque quero mesmo ficar em casa, de calcinha, vendo filme, tomando cerveja boa e comendo uma comidinha tão gostosa que ele faz. E que bom chegar atrasada, no lugar de ficar esperando ansiosa. Que bom isso tudo acontecer sem que eu me controle para isso. Ao menos no que diz respeito a lazer, to nota dez.

Mas ainda sinto vontade de ligar pra lembrar da torradeira.

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