terça-feira, agosto 06, 2013

Um túnel colorido, um túnel de papel

“isso é uma doença, é uma doença consciente!” Mesmo que todas as pessoas que elevo à mais alta classe e confiança me falassem isso, eu não acreditava. Eu não queria acreditar. E questionava a eles e a mim que se era uma doença e a pessoa tinha consciência disso, por que não tratava? “a doença mora justamente aí. Na consciência do problema e no egoismo de, no lugar de procurar ajuda pra se curar, preferir espalhar o tumor. Escolher contaminar quem tá perto. Espalhar.” 

A gente espalha amor. A gente espalha a cura. Ter o prazer de semear a doença por onde passa é a própria doença. No início eu não conseguia compreender como uma pessoa bonita, interessante e inteligente podia fazer isso, traçar dessa maneira o caminho da solidão. Só depois compreendi que era possível justamente por essas razões. Um jogo perigoso, uma arapuca danada que envolve quem tá perto. Que envolve e que depois passa, como sempre é. Sempre passa. Os tentáculos são fracos, os argumentos iguais. Mais cedo ou mais tarde as pessoas atravessam esse caminho, aos poucos dissolvem os resquícios e passam a observar a doença, dessa vez de fora. Passam a analisar a não vontade de cura. Passam a ver que vontade não é dizer que tem vontade. Vontade não é dizer. Antes eu sentia tristeza. Doenças são tristes. Agora sinto apenas pena. Acho triste sentir pena, pena é um negócio pior que raiva, pior que rancor, pior que mágoa. Pena é uma indiferença que não se mantém indiferente. Pena é um sentimento aguado. É a vontade que aquilo fosse diferente. Eu queria muito que fosse diferente. Queria muito, muito! Muito mesmo. E lamento até doer meu peito que não seja.

E vejo as pessoas observando isso de fora. Tomando consciência, tendo choques de realidade mesmo que doa. É não precisar mais falar com ar de experiência que eu disse. É ver as pessoas dizendo.

É não querer que as pessoas digam e ao mesmo tempo não ter argumentos pra defender. É ver a vida de alguém que se ama e muito seguindo, agora, por outros trilhos, mais leves, menos enferrujados. Ao lado de novas pessoas e relacionamentos, mais leves. É poder depois de meses estar em uma mesma roda de conversa e até mesmo sentada na mesma mesa em um bar e esse ser um assunto morto. É poder olhar nos olhos e entender que o outro entendeu o recado dado em outrora. É ver o sorriso brotar tranquilo, real, bonito. E é ver a vida de outro alguém que dei todo meu amor ir se perdendo, cada vez mais. É ver que a vida sempre segue e que é triste, pra não dizer burro, escolher perder tudo por tão pouco, por nada e no fim restar apenas recalque e espaços, vazios. É constatar o prazer por relações superficiais e frágeis construídas por baixo de um túnel enorme, imponente, colorido e ao mesmo tempo tão fraco, desmontável, descartável. Um vento forte não suporta. Um vento forte destrói o que não teve base sólida suficiente pra se manter vivo, porque nunca tem. E nunca vai ter.  

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