quinta-feira, agosto 01, 2013

É muito mundo!

'Eu gosto muita das suas fotos'

Valeu! Mas é muito, manni. Com "o".
Não, é muita, pois foto vem de fotografia. Fotografia = feminina.

Manni, português é difícil mesmo, mas quando você gosta demais de uma coisa, você sempre vai gostar muito. Com "o", não importa se é feminino ou masculino. Gosto muito de bola, gosto muito de comer, gosto muito de carlinha.

Eita, é difícil mesmo, e você falou verdade nessa última gostar.

Manni é teimoso, como costumam ser as pessoas inteligentes e escreve português como fala e eu escuto daqui, um sotaque berlirecifense. Manni, ao contrário dos alemães que conheci, sabe ser fofo, quando diz, por exemplo, que se não tivesse namorando na época em que nos conhecemos 'eu ia me apaixonar totalmente em você'. Manni também é curioso, mas se mantém na linha da discrição perguntando o que quer saber de uma maneira menos direta. Levando um questionamento a outro e chegando na resposta desejada. Manni tem os dentes da frente separados e usa um óculos laranja que eu nunca entendi.

Manni é alguém que conheço pouco, tem suas peculiaridades, de fácil acesso e, apesar da gente ser diferente em algumas coisas, nos damos muito bem. Gosto bastante dele. Deve ser porque coração bom atrai coração bom. 

Manni é o amigo do amigo de um amigo que eu conheci muito por acaso. Amigo de um amigo que eu também conheci muito por acaso. Manni é o terceiro grau em uma relação feito teia de aranha. Se não fosse meu amigo original, eu não teria conhecido o amigo dele. Se eu não tivesse conhecido o amigo dele, além de ser o maior absurdo e erro do mundo, eu também não teria conhecido Manni. 

E agora me pergunto, quantos amigos de amigos. E amigos de amigos de amigos não têm por aí pra gente ser amigo também? E me pergunto porque a gente conhece um monte de gente há anos que não é tão próximo quanto pessoas que vivemos por uma, duas semanas? E como é que pode a gente viver uma vida inteira e morrer sem ter conhecido aquela pessoa da áfrica do sul que é nosso número? Aquela galera da Croácia que é que nem a gente? Aquele menino da França que teria sido um grande amor? Ou aqui mesmo, do Rio de Janeiro? De repente vizinho de prédio ou na rua ao lado? Por que a gente não vem com um detector luminoso que faz piscar uma cor específica de cada coração, cada espírito e então os grupos se encontrariam? Por que passamos tanto tempo com alguém que não teria sido da nossa cor no radar se esse radar existisse? Por que agora mesmo estou com vontade de abandonar todas as minhas caixas da mudança e computador e jantar pra descer e bater de porta em porta em busca do restante da minha gente? Por que?  Não tem radar, não tem cor, tem tato e tem uma vida enorme pela frente. É preciso estar atento e também distraído. É preciso estar disposto. É preciso ter braços longos para o abraço e o adeus. É preciso arejar a casa e a cabeça. É preciso, sobretudo, perceber que mesmo não tendo o mundo inteiro ao nosso alcance, já conquistamos um mundo nosso, com nossas cores misturadas e pelo nosso próprio radar ou ainda pelas sortes da vida, o que é ainda mais maluco. Pelos acasos brilhantes e incríveis da vida. Agradecer e manter isso já me parece um bom começo pra dominar o restante do mundo. E qualquer mundo que a gente consiga tocar, mesmo que seja o de três ou cinco pessoas, já é o nosso mundo, já valeu à pena!

Berlin, maio de 2013

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