sábado, outubro 09, 2010

Bota fogo


O que guardei de você
foi aquela coisinha doce que durou tão pouco
como gosto de sete belo depois que já foi engolido junto com água

Não sou movida a mágoas

A lembrança que tenho não dói e nem faz rir
Não faz nada
Ela não é lembrada feito aquelas que acendem
Com um motivo qualquer, tantas vezes inventado,
só para ser lembrado

Não, esse não

Fica dentro de um pedaço nem feio e nem bonito
No cotovelo, talvez nas têmporas

Preciso de uma razão concreta para lembrar
Um motivo bem forte
Como o te ver,do nada, sentado do outro lado da calçada em um buteco de Botafogo
Fumando um cigarro, rindo por entre a fumaça e a áurea da boêmia


Passos tranquilos, seguindo em frente
Sem titubiar, tremer, sem estremecer ou pestanejar
Passar, passou

Como eu queria ter tido vontade de atravessar, te sorrir
e perguntar como anda você

Passar, passou
Tão rápido

Essas palavras foram me guiando até a entrada do supermercado
Precisou de tanto assim para lembrar

E sigo meu caminho até a próxima, quem sabe, forçosa lembrança
Que não faz dor e nem faz rir


Nesse instante em que transcrevo essas palavras de um papel
De um papel escrito entre geléias e copos descartáveis de um supermercado em Botafogo
No dia de ontem
Sinto uma emoção diferente
Sobre uma outra coisa
de olhos firmes
que faz gosto
gosto de filete de vinho no canto da boca

E percebo a falta de luz em todas essas palavras acima

Diante do meu de dentro, agora, transcrito, quem sabe, em outrora.

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu nasci em Bota Fogo, tuas palavras me fizeram LEMBRAR...a Rua da Matriz...

Anônimo disse...

Eu vi quando você me viu
Seus olhos pousaram nos meus
Num arrepio sutil
Eu vi... pois é, eu reparei
...
Foi só por um segundo
Todo o tempo do mundo
E o mundo todo se perdeu