terça-feira, setembro 14, 2010

Doc_ Eu tenho pressa_ Parte I




Tudo despertou com a história de Neilton, um jovem nascido e criado em uma das comunidades mais pobres do Recife: O Alto José do Pinho. Já tinha ouvido falar que ele era pintor, construía amplificadores de alta potência e que montou sua própria guitarra a partir de sucatas e materiais recicláveis. O mais incrível é que ele é autodidata em tudo o que faz. "Nunca vi impedimento em ter um bom instrumento, se alguém fez a primeira guitarra, por que eu também não poderia fazer? A galera da revista Trip veio aqui e ficou perguntando sobre a guitarra, já não agüento mais falar da guitarra... eu não fiz pra chamar atenção, fiz porque eu queria um instrumento e não tinha dinheiro", disse Neilton.

"Esse cara tem muito o que falar", pensamos. E realmente tem, o depoimento dele daria pra fazer tranquilamente um longa,cheio de detalhes, cuidado e cores. Neilton é de pura sensibilidade. Segundo Hugo Montarroyos, repórter e critico de música do site Recife Rock "Neilton é o Da Vinci da guitarra". E o camarada destrói mesmo, no bom sentido, claro!

Acontece que outras coisas foram chamando atenção e costurando em um lance mais amplo e instigante. Neilton toca na banda Devotos, que coincidentemente está em meio as comemorações de 20 anos de carreira juntamente com Cannibal e Celo.

Cannibal é uma figura conhecida em Recife, e, mesmo os que possivelmente não conheçam sua história, já devem ter ouvido falar alguma coisa a respeito daquele cara de dreads enormes e que, juntamente com Celo, idealizou a ONG e rádio comunitária Alto Falante.

Celo é o batera, e faz com suas baquetas um som pesado, um hardcore de raiz, verdadeiro.

O que nem todo mundo sabe é que eles são mais que meninos que passaram por dificuldades e hoje estão ai, é mais que uma história bonita, eles vão além de uma banda, são agentes sociais dentro de uma comunidade que conseguiu levantar seu nome a partir da música.

Hoje em dia as pessoas têm orgulho de dizer que moram no Alto, coisa que há 15 anos não era possível "Antigamente quando o pessoal tomava um taxi pro Alto, dizia que estava indo pra Casa Amarela, só quando chegavam na entrada do Alto é que avisavam, porque tinham vergonha... hoje em dia todo mundo tem orgulho de dizer que mora lá", fala Hugo Montarroyos.

O Alto saiu das páginas policiais diretamente para o caderno de cultura.

É claro que a marginalização ainda existe e que ninguém vive em contos de fada. Todo trabalho social e toda mudança só é possível a partir de um envolvimento coletivo, mas foram eles a raiz disso tudo, há muitos e muitos anos... Duas décadas para ser mais precisa.

E se os três juntos compõem a banda, por que não um documentário sobre a Devotos?

Então vamo nessa!

3 comentários:

Clareana Arôxa disse...

Engraçado, tava em uma palestra do Continnum com esse Neilton. Ele falava sobre os amplificadores valvulados, é super interessante e, acima de tudo, é fantástica a quantidade de conhecimento que ele tem sobre música e como se faz a tal da música.

Esse negócio vai ficar muito bom, gorda.

Anette Alencar disse...

eu ainda tou com uma vontade vadia de fazer um filme só sobre ele... pq como só temos 20 minutos e tem muito o que ser contado, só vamos dar uma pincelada em neilton... Mas é assim mesmo, quem sabe eu não ganho um edital,né? :P

Andreane Carvalho disse...

Quero dizer que eu tenho o maior orgulho de fazer parte dessa história. Vai ficar do caralho!