sábado, novembro 08, 2014

para a maria que não rolou

ela não sentia mais nada. ela sentia uma dor tão profunda que adormecia tudo. por dentro e por fora. o corpo agora era só um corpo. o ar entrava pouco pelos pulmões. ela acabara de desacreditar no ser humano e no coração. não conseguiu a revolta ou mesmo um grito. eram tantas coisas que internalizar foi o melhor remédio. ao menos por enquanto. um amontoado de roupas jogado no chão e uma coletânea de palavras fortes e definitivas. sim, de-fi-ni-ti-vas. se não eram agora são. uma mochila. duas sacolas. eram os seus pertences. e a vergonha no peito. não por ela, mas por aquele moço silencioso que, sentadinho naquela cadeira defronte a porta, lamentava no olhar com a cena que vira. um castelo desmoronado diante de seus olhos. ou a humilhação e constrangimento públicos que tanto tentou disfarçar. ele já viu e viveu muita coisa nessa vida mas algumas, pelo olhar que fez, preferia não acreditar, porque ainda apostava mesmo que timidamente no amor dos homens. e a única coisa que maria carregava na mente, além daquela cena que talvez demore muito tempo pra dissolver do coração e dos olhos, era o desejo de que aquele moço sentado defronte a porta não tenha entendido nada e, dentro de sua ignorância genuina, continue a crer naquilo que maria mais gostava de mostrar a ele através de sorrisos, palavras e lanchinhos da madrugada: no amor dos homens.

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