Possivelmente este é um dos textos mais fáceis que escrevo por aqui. Não tem como dar certeza, pois seria muita adivinhação em menos de uma frase concluir tal feito. Mas arrisco que sim, já que é a primeira vez em que o título é escrito antes de desenvolver a ideia, sem o risco de mudanças no pós texto. Um título escrito sem preocupações e tão rápido.
É que eu tenho uma dificuldade enorme com títulos e é comum que eu gaste mais tempo pensando nele do que escrevendo o próprio texto, inteiro. E essa deficiência existe desde que comecei a escrever, ainda menina. Meu primeiro poeminha, por exemplo, não tem nome. Já zerei uma prova da cadeira de redação jornalística por simplesmente ter esquecido de colocar o danado, já que deixei para o final. O texto, segundo meus amigos, tava foda. Muito foda. digno de 10 parabéns. Mas o professor alegou que nem chegou a ler a redação. 'me recuso a ler um texto que não tem título. Você é uma jornalista, se oriente" foi o que ele me disse naquela tarde, enquanto eu tentava, sem sucesso, salvar nem que fosse alguns pontinhos de nada pra que minha situação não fosse tão grave na prova final.
A questão é que no decorrer dos anos depositei uma responsabilidade gigante nos títulos. Do mesmo modo que posso comprar um livro ou chocolate pela embalagem, eu leio um texto pelo título. Natural. E com esse pensamento, sempre travo na hora do dito cujo. Nunca tá bom. Ou não consegue captar a essência geral do texto, ou é óbvio demais ou é brega. Ou pior: não tem relação com o texto. A verdade é que meus títulos são sempre muito ruins e meu trauma com eles só começou a passar do desespero para o cômico quando comecei a escrever pra uma TV. Eu era da editoria de economia e tinha que respeitar uma quantidade x de caracteres, uma quantidade ridiculamente curta e desesperadora pra minha prolixidade toda. O desafio era transmitir cada notícia em 4 cartelas de mais ou menos uma linha e meia cada uma. E os títulos obviamente precisavam acompanhar a estética - curta. O padrão da TV pedia que fossem duas palavras, o título que eu mais gostava de usar era Eike Prejuízo. Se o coroa perdesse grana em suas ações e empresas eu já lançava a piadinha. Mas algumas vezes eu exagerava - na não criatividade e no ridículo. A clássica, que ficou pra história da TV, foi quando escrevi sobre o lucro do cultivo de milho no sertão de não sei onde e intitulei a matéria de "Milho". Depois desse dia, qualquer pergunta idiota que faziam na redação as pessoas respondiam Milho. Milho também servia pra quando alguém tava em dúvida "fica melhor assim ou assim?" "coloca Milho!". Ainda bem que não virou apelido. Ainda bem!
O mais estranho é saber que, a partir de agora, quem lê este blog vai ficar atento aos meus títulos - que antes podiam até passar despercebidos - e concordar com minha fraqueza. Ou quem sabe esse texto não serve apenas de step pra mostrar de maneira sagaz e se pá inteligente que, a partir de agora, meus títulos podem continuar sendo desse jeito meio sem jeito sem culpa - ao menos tenho a desculpa de dizer que assumi essa falha em público.
quinta-feira, maio 30, 2013
terça-feira, maio 28, 2013
Um trem para o futuro
Cruzei o Nordeste do Brasil de trem. Apesar de ter levado alguns dias
pra atravessá-lo, a viagem me pareceu bem rápida. Era como se em
minutos eu me deslocasse de um estado para o outro. Comecei no Maranhão, desci
para o Piauí e quando cheguei na Bahia tomei um banho morno de mar, comi
umas coisas gostosas e não me saía do pensamento "que viagem do caralho, que viagem do caralho!!!" Eu queria muito que meus amigos tivessem junto, mas viajei sozinha. Depois da Bahia, segui subindo por Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraiba, Rio Grande do Norte e finalizei no Ceará, com um caranguejo bem
graúdo na Praia do Futuro e uma cervejinha gelada sendo acompanhados
por um repente muito louco daqueles moços que sempre ficam por alí tocando para os turistas.
O dilema era saber pra onde eu iria depois dalí. Pernambuco já havia passado fazia era tempo e eu só o ví pela janela, cheinha de saudade. Não teve parada pra uma tapioca na Sé e um reencontro com os amigos do peito. E o Rio de Janeiro? Me fiz de burra e disse ao motorista que a gente tinha que passar por lá, pra eu chegar em casa. Ele disse que Rio de Janeiro era em outro pacote, que eu tinha que fazer baldeação (odeio essa palavra) não sei onde e lá adquirir os tickets pra cruzar o Sul e Sudeste. Mas o ticket custava três vezes mais. Fiquei por alí, sem pressa pra chegar na patola, na esperança que alguém decidisse por mim.
Uma voz em outra língua que não nordestina sopra em meu ouvido e um catucão discreto me acorda "endireita a poltrona e coloca o cinto que a aeronave já vai pousar."
Olho pela janelinha e vejo o meu Rio de Janeiro todo iluminado. Fim do dilema.
O dilema era saber pra onde eu iria depois dalí. Pernambuco já havia passado fazia era tempo e eu só o ví pela janela, cheinha de saudade. Não teve parada pra uma tapioca na Sé e um reencontro com os amigos do peito. E o Rio de Janeiro? Me fiz de burra e disse ao motorista que a gente tinha que passar por lá, pra eu chegar em casa. Ele disse que Rio de Janeiro era em outro pacote, que eu tinha que fazer baldeação (odeio essa palavra) não sei onde e lá adquirir os tickets pra cruzar o Sul e Sudeste. Mas o ticket custava três vezes mais. Fiquei por alí, sem pressa pra chegar na patola, na esperança que alguém decidisse por mim.
Uma voz em outra língua que não nordestina sopra em meu ouvido e um catucão discreto me acorda "endireita a poltrona e coloca o cinto que a aeronave já vai pousar."
Olho pela janelinha e vejo o meu Rio de Janeiro todo iluminado. Fim do dilema.
domingo, maio 26, 2013
Dublin dando um tapa na minha cara
É muito fácil simplesmente dizer que "agora eu gosto de Dublin" justamente um dia antes de ir-me embora. E, apesar de não bater com nada do que sempre falei daqui, se hoje fosse meu primeiro dia na cidade, certamente iria pintá-la de outro modo, toda empolgada.Mas hoje foi mesmo um dia atípico, e não apenas pra mim que estou de partida em poucas horas. A alegria solar invadiu todo mundo. Era como se hoje fosse o primeiro dia do verão e a cidade, finalmente, começasse a existir. (mesmo sabendo que aqui não tem isso de bikini, batida de frutas, piscina azul. Apenas uns dias raros de sol, como hoje).
Foi a primeira vez em meses que vi pessoas - várias - na rua e que não fossem apenas brasileiros indo pra aula ou pra um pub qualquer encontrar outros brasileiros. A primeira vez que tinha gente de tudo quanto é tipo da porta pra fora. Felizes, sorridentes e com uma bebida na mão. Chega me esqueci que não se pode beber na rua. Eu e todo mundo. Primeiro dia em que o sol - forte - não significou mais frio ainda. Casaquinho leve só pra não ousar demais e Talha de havaianas, shortinho sem meia por baixo e um sorvete amarelo. A alegria era tamanha que arriscamos novos sabores de sorvete, como quem arriscca uma aventura amorosa.
A melhor parte foi chegar na Merrion Square e, no lugar de deserto, se deparar com um festival de soul bombante. Gente feliz, clima de paquera, gramado lotado, sol queimando a cara, competição de pernas brancas, estupidamente brancas de fora. Coisa linda. Coração chega se aqueceu. Fiquei contente, mesmo que no meu último dia, em ver que a cidade - sempre tão baixo astral - pode ter vida no lado de fora das portas e não apenas dentro dos pubs.
Foi bom ter visto isso
de perto! Se alguém me contasse, mesmo que fosse um alguém de confiança , eu ia pensar que tava de
sacanagem.
E dá-lhe verão pra meu povo!
sábado, maio 25, 2013
Amsterdam, 23 de abril
Aventura mesmo é estar em cima da linha do trem, em uma bike sem freio e
sem lanterna, com o trem buzinando atrás (podia sentir o ventinho) , carros de um lado da pista e gente gritando do
outro, na calçada. Um corte na canela, uns arranhões nas mãos e um abraço sincero de alguém que não conheço. A vida é o instante entre minha bike e o trem. Ou simplesmente um gramado frio, acolhedor e essa cerveja que bebo agora.
* papelzinho amassado e encontrado dentro do bolso da calça jeans.
sexta-feira, maio 24, 2013
25 de maio
* Carta escrita em 05 de agosto de 2012, no rascunho do gmail. Nunca te enviei e nem sei exatamente se teve motivo ou se o tempo apenas passou e passou. Hoje, teu aniversário e mais de 20 anos que nos conhecemos, lembrei da existência dela e decidi postar, mesmo sabendo que você não vai ler.
Minha querida,
Enquanto assisto ao nado sincronizado
na TV, me recordo da época em que tudo tinha gosto de leite ninho em pó
com nescau e cheiro de grama com terra. No tempo em que achávamos que
podia-se colocar as mãos no chão nas coreografias na piscina e nos
arriscávamos em uns passinhos tortos e cheios de felicidade no km 2 da Estrada de Aldeia. Nesse tempo
você insistia, com tamanha ousadia, que eu deveria ser campeã olímpica,
primeira bailarina de algum teatro importante e todas essas coisas que
eu nunca seria, nunca fui. E era com um imenso orgulho que você falava de mim para
suas amigas bailarinas, que eu dançava como nenhuma delas daquela tua escola importante no Recife. E eu morria de
medo de te decepcionar um dia. O tempo passou e os gibis foram
substituidos por livros de garota 'coisas que toda garota deve saber',
textos de agendas, depois por romances e posteriormente por livros que
eu não fiquei sabendo mais quais seriam.
E foi quando as brincadeiras de escoteiro, de bicicleta pela granja, de passeios escondidos pela mata, ensaios de quadrilha, diários escritos e secretos, aniversários, um deles com direito a cesta de guloseimas e declaração em uma faixa bem grande no meio da rua, com toda a breguice que o amor tem, carta de rolo, receitas dos livros da tuma da Mônica, bolos de cenoura, arroz, frango à milanesa e arroz (sempre), karaokê, espingarda de chumbinho, cobra de dois metros na frente da minha casa e todo o blá blá blá da infância foi guardado em uma daquelas duzentas caixas do porão da tua casa. E é quando me dá uma raiva danada de tu, raiva igual aquelas que a gente sentia quando era pequena e brigava por conta de alguma brincadeira de v ôlei ou de nome/objeto. Porque vejo que grande parte dessas coisas que vivemos, ao passo que fez com que eu me tornasse a pessoa que sou: cheia de boas lembranças da vida, se tornaram empoeiradas e lacradas. Sempre fomos tão craques em planos infaliveis e acabamos falhando no nosso próprio plano de amizade. E é quando, só pra juntar um tiquinho mais de raiva, me lembro de cenas ímpares, como fugir de missa de sétimo dia de algum amigo da tua mãe e de tio Yony pra uma festa de aniversário que tava rolando ali perto e dava pra ouvir a música, na Jaqueira, onde enrolamos o porteiro e entramos sem conhecer ninguém e so saimos depois de bater papo com os pais do garoto, comer cachorro quente e dançar sob os olhos de várias meninas com raiva da gente por estar chamando mais atenção do que elas. E foda-se quem eram elas. Ou eles. A gente queria era aventura no ápice dos 13 anos de idade.
Me lembro também de quando nadávamos no mar violento de Tamandaré até o mais distante que podíamos, até pra salvar um velhinho já mergulhamos, destemidas. Do beliscão na bunda de Virginia Cavendish e também do nosso primeiro beijo no trenzinho do parquinho em uma discoteca. DiscotEIA.
E foi quando as brincadeiras de escoteiro, de bicicleta pela granja, de passeios escondidos pela mata, ensaios de quadrilha, diários escritos e secretos, aniversários, um deles com direito a cesta de guloseimas e declaração em uma faixa bem grande no meio da rua, com toda a breguice que o amor tem, carta de rolo, receitas dos livros da tuma da Mônica, bolos de cenoura, arroz, frango à milanesa e arroz (sempre), karaokê, espingarda de chumbinho, cobra de dois metros na frente da minha casa e todo o blá blá blá da infância foi guardado em uma daquelas duzentas caixas do porão da tua casa. E é quando me dá uma raiva danada de tu, raiva igual aquelas que a gente sentia quando era pequena e brigava por conta de alguma brincadeira de v ôlei ou de nome/objeto. Porque vejo que grande parte dessas coisas que vivemos, ao passo que fez com que eu me tornasse a pessoa que sou: cheia de boas lembranças da vida, se tornaram empoeiradas e lacradas. Sempre fomos tão craques em planos infaliveis e acabamos falhando no nosso próprio plano de amizade. E é quando, só pra juntar um tiquinho mais de raiva, me lembro de cenas ímpares, como fugir de missa de sétimo dia de algum amigo da tua mãe e de tio Yony pra uma festa de aniversário que tava rolando ali perto e dava pra ouvir a música, na Jaqueira, onde enrolamos o porteiro e entramos sem conhecer ninguém e so saimos depois de bater papo com os pais do garoto, comer cachorro quente e dançar sob os olhos de várias meninas com raiva da gente por estar chamando mais atenção do que elas. E foda-se quem eram elas. Ou eles. A gente queria era aventura no ápice dos 13 anos de idade.
Me lembro também de quando nadávamos no mar violento de Tamandaré até o mais distante que podíamos, até pra salvar um velhinho já mergulhamos, destemidas. Do beliscão na bunda de Virginia Cavendish e também do nosso primeiro beijo no trenzinho do parquinho em uma discoteca. DiscotEIA.
E falo tudo isso só de ruim, pois tenho certeza que você não vai lembrar da metade dessas histórias que contei e das muitas
outras que eu poderia contar, mas isso nao me deixa chateada,
pois sei que você sempre teve uma memória ruim, além de toda sua
fuleiragem e o gene egoistinha de merda que corre em tuas veias. Tudo sempre na
hora que você quer e como você quer. Eu sei que sempre foi assim, mas
não sei se continua sendo e se sempre será. Eu sempre fiz das tripas
coração pra equilibrar meu jeito com o teu pra poder resultar no que
éramos, -Sonicas. Quem não entendeu nada, pelo visto, foi você. Não
entendeu que eu te amo mesmo assim, mesmo com todo esse desleixo de uma
vida inteira. Te amo em cada palavra de voz fina que ainda recordo e dentro
de cada espaço, o que passou e os que ficaram.
Me pergunto se hoje em
dia você ainda tem nojo de dividir o mesmo copo e me pego curiosa se
aprendeu a ouvir mais do que a chegar na eterna defensiva ou ainda se sua voz
continua maravilhosa... E percebo que pessoas que te conhecem de oi
devem saber mais dessas respostas do que eu que dividi contigo não só o
meu diário, mas a minha vida. Vejo nas fotos a mulher linda que você se
tornou, uma princesa, como sempre almejou: cabelos impecáveis, pele alva
mais do que a de Carolina Casting e magra. E é quando te digo com todas
as letras que, só de ruim, faço questão de recordar de todas as boas
coisas, quem sabe assim você, competitiva que só (tenho certeza que
nisso não mudou em nada), não toma juízo e vem aqui, pertinho de mim,
admitir (imagino que essa palavra ainda te doa) que apenas eu cumpri a
promessa de menina que você sugeriu: morarmos no Rio de Janeiro. Não
entramos pra Malhação, é verdade (ainda bem!), não virei campeão
Olímpica e você não se tornou uma cantora famosa de Ópera, e, claro, não
viramos levantadoras profissionais de vôlei (como já era de se esperar
com nossa altura de gnomo que com certeza não deve ter mudado tanto
assim). Kate winslet já não deve ser sua atriz preferida (apesar de
Rodrigo Santoro AINDA ser o que acho mais bonito de todos, ever and ever), aquele chaveirinho com a
casa de Santos Dumont que me desse, como se fosse uma coisa bem
distante da minha realidade, hoje faz parte da minha vida e de vários
finais de semana, pois meu namorado é de Petrópolis. A coleção de
areia, apesar de ainda existir, está toda maltratada e sempre que a vejo
tenho pena de jogar fora, principalmente quando olho aqueles grãos
escuros de terras tão distantes e a coleção que ficaria "uma semana na
casa de cada uma", acabou não saindo da minha.
Muita coisa mudou,
mudamos, mas uma coisa é certa, não vai mais doer, descobri que tenho
lembranças bonitas guardadas por mim e por você.
Beijos, sua vaca!
quinta-feira, maio 23, 2013
Hora de voltar
Nem voltei para o Brasil e já quero estar de volta. Não sei com que objetivo e nem quando, mas sei que quero e isso já me faz levantar da cama como se eu tivesse deixando de fazer algo para isso, nem que seja comer chicken filet a semana inteira pra economizar, mas logo em seguida dou uma risada bem óbvia já que tenho planos de gastar uns trocados com retiro artístico espiritual em Maricá no proximo mês , passagem para o carnaval de Recife e um macbook. So ai meu dinheiro já acabou faz é tempo, aliás , nem deu! Também não sei como vou voltar se antes quero fazer uma viagem pela America Latina, virar ano no Vale do Capão , comprar um skate, me matricular em um curso de inglês e ballet. Ah, isso tudo sem emprego. Mas, ainda assim, eu vou voltar. Vou voltar e vou conhecer a Bósnia, Croácia e a Sérvia . Não sei se antes ou depois do macbook. Se antes ou depois do Chile. Mas eu vou voltar, eu sinto, sabe?
Em poucos dias meu horário biológico passará a ser outro. Cinco horas de diferença e uma enxurrada de quilômetros me afastando daqui. De primeira isso me parece assustador. Como assim, né? Não tem a chance de comprar uma passagem Ryanair e estar ali do lado. Vai ter um mother fuck oceano do caralho separando 3 meses de história sem piedade alguma, como se isso fosse justo. E do nada o frio passa a ser calor. A cerveja volta a ser a mais modesta. O feijão mais gostoso. A carne, aaaah, a carne, vem que eu te quero, sua gostosa. Leo e Rafa ouvindo minhas aventuras. A cerveja gelada e mau humorada do Ze. A praia, os mergulhos, a bike. O chocolate - que volta a ser importado e caro - O cuzcuz que vira rotina mais uma vez. A feira do lado de casa dia de quinta-feira. A azeitona que nunca mais terá o mesmo gosto. O gosto das frutas e dos sucos. Um samba na Pedra do Sal com os bons. Mudar da confusão de língua para a confusão de sotaques.
E um relógio de celular por acertar - eu acordo, você dorme. você acorda e eu vou dormir.
dói e alivia. que bom poder viver tudo isso.
quarta-feira, maio 22, 2013
Deicys
O pior lugar pra sair em Dublin e, ainda assim, toda terça-feira, com ou sem chuva, a galera ta lá preenchendo todos os espaços. Todos os espaços dessa balada (a palavra balada combina com o lugar) ruim. Mas, ainda assim, no fim das contas a gente acaba indo já que não é todo dia que se bebe meio litro de guinness por 2,5 nessa terra cara de meu deus. Só na terça-feira e na Deicys.
Com a primeira guinness na mão, já começo a me perguntar o que diabos estou fazendo ali enquanto no último volume Gustavo Lima e você canta o tche tche rere tche tche e, antes que eu responda minha própria pergunta mental, sigo desesperada pra outro ambiente da boate e me deparo com todas as garotas com uma argamassa cor de laranja na cara, um sapato alto deste tamanho, uma sainha mostracú e dançando fazendo biquinho. E o pior? eu faço um bico maior ainda pra compensar o tênis, a meia de cada par diferente, o short jeans surrado e a blusinha caqué, só me sobra o bico, que não dura nem dois minutos pois os amigos não se aguentam na risada, nem eu.
No fim da pint, rola aquela vontadezinha de liberar o xixi e eis que naquela fila mais demorada que a espera pelo carnaval, você é obrigada a ouvir a colega de fila chamar a amiga de a-mi-ga. Ah, pelo amor de deus, né? amiga chamar amiga de amiga é demais pra mim. Depois de ouvir meia hora de assunto alheio entre - ele se agarrou com outra e eu preciso vomitar - você faz seu xixi bacana e volta pra comprar outra cerveja, afinal de contas, esse é o motivo pelo qual você e os seus estão ali. Acontece que no caminho entre o banheiro e o bar existem 587 cidadãos que chegam se pendurando em você. em você e na amiga. em você na amiga e em qualquer outra. todos querem todos o tempo todos, sem esse último s. mas é que é muito plural aquilo ali, muita informação.
Mas, calmae, além de toda terça-feira ao menos 5 pessoas serem furtadas por lá, o lugar ta sempre abarrotado de gente que derruba cerveja em você o tempo todo e se desculpa falando `desculpa` porque são quase todos brasileiros, meio litro de guinness custa 2,5. Ai a gente vai, né?
Mas não consigo respeitar um lugar onde um cidadão catuca minha cintura e diz - I know you! I know you de cú é rola, amigo, respondo sem me importar com sua nacionalidade e capacidade de entendimento. E, quando a gente acha que não pode piorar, o amigo do amigo de um amigo que é carioca e fica sabendo que moro por lá , me pergunta o que faço no Rio, pra onde gosto de sair e eu respondo que não sou de boate, que levo uma vida mais diurna. E então ele me diz - ah, diurna... diurna é um tipo de festa, ne? maneiro! (Meu deus do céu, pelo amor de deus me tire daqui.) Isso, é uma festa, sim... deu minha hora, vou mimbora, adeus.
Ontem foi minha última terça-feira na Deicys e foi ruim, muito ruim. Mas, sei lá... foi bom! a galera, a guinness, meio litro, 2,5...
terça-feira, maio 21, 2013
Confusão astral
sair à noite de shortinho jeans, tênis, blusinha fina e, na volta, tremendo de frio, quando vou desamarrar a meia calça da cintura no caminho do M pra Joanic, não só me dou conta de que estou na Irlanda, como percebo que a meia calça ficou em Barcelona. Eu também.
morning song
minha pele conheceu todos os espaços vazios da cama
a cama, vazia, se apoderou de toda a minha pele
essa pele, minha
(ainda)
cheia de você
a cama, vazia, se apoderou de toda a minha pele
essa pele, minha
(ainda)
cheia de você
segunda-feira, maio 20, 2013
segunda-feira, maio 13, 2013
Dipois
A Brecht
Ordinários daqueles que te têm todos os dias pelas ruas, no banco, elevador, farmácia e não te sabem. Aqueles que tem têm hoje na frente da universidade, amanhã na fila do banheiro, agorinha mesmo cruzando de bike e daqui a uma semana entre uma prateleira e outra do supermercado. Entre laranjas e lulas dorê congeladas. Ordinários daqueles que te esbarram, pedem desculpas, por favor, dá lincença e não te sabem. Te perguntam as horas, se queres com açúcar, te dão o troco, encostam dedo com dedo e não te sabem. Daqueles que te pedem uma informação, te dizem não com um aperto de mão, te pedem um trocado - negado - e não te sabem. Ordinários que te tomam uma caneta emprestada, te veem tropeçar na calçada, sentam ao teu lado - veja bem - ao teu lado no metrô e não te sabem.
E à mim, que te sei, te digo e te repito, só me resta este texto. Este texto quase bonito.
Ordinários daqueles que te têm todos os dias pelas ruas, no banco, elevador, farmácia e não te sabem. Aqueles que tem têm hoje na frente da universidade, amanhã na fila do banheiro, agorinha mesmo cruzando de bike e daqui a uma semana entre uma prateleira e outra do supermercado. Entre laranjas e lulas dorê congeladas. Ordinários daqueles que te esbarram, pedem desculpas, por favor, dá lincença e não te sabem. Te perguntam as horas, se queres com açúcar, te dão o troco, encostam dedo com dedo e não te sabem. Daqueles que te pedem uma informação, te dizem não com um aperto de mão, te pedem um trocado - negado - e não te sabem. Ordinários que te tomam uma caneta emprestada, te veem tropeçar na calçada, sentam ao teu lado - veja bem - ao teu lado no metrô e não te sabem.
E à mim, que te sei, te digo e te repito, só me resta este texto. Este texto quase bonito.
sábado, maio 11, 2013
Risoflora
Uma vez que se escolhe como estilo de vida sair de sí pra ir aos outros - pisos, pessoas, gostos, sensações - despedidas passam a ser companheiras de trajetória, caminham juntas à essa decisão. Conhecer o outro, o novo, é sempre gratificante, eleva a alma, colore o peito, dá sentido a isso que a gente chama de vida e que é tão mais grandiosa do que quatro letras de um alfabeto de 26.
Na teoria é bem simples, pensamento fechado, mas apesar de ter escolhido ser assim desde o instante em que saí de minha terra natal, as despedidas foram constantes e a elas eu não consigo me acostumar, não tem jeito. Não consigo contar quantas vezes já me despedi da minha mãe, do meu pai, dos meus irmãos e amigos, e aquela dorzinha no peito, invariavelmente, sempre chega.
Na teoria é bem simples, pensamento fechado, mas apesar de ter escolhido ser assim desde o instante em que saí de minha terra natal, as despedidas foram constantes e a elas eu não consigo me acostumar, não tem jeito. Não consigo contar quantas vezes já me despedi da minha mãe, do meu pai, dos meus irmãos e amigos, e aquela dorzinha no peito, invariavelmente, sempre chega.
É tão difícil só dizer byebye, see you, sorrisos e mão em movimento rápido da esquerda para a direita querendo mostrar que jájá a gente se encontra novamente. E, mesmo que esse até logo tenha um costume medonho de demorar tanto, sempre acaba passando rápido, pois quando se tem certeza "de", o quanto não importa. Tempo não importa. quilômetros não contam. Coração não tem a mínima ideia quanto a existência de números cardinais e ordinais, ele palpita de acordo com os estímulos que recebe e, em se tratando de amor, ele vai bem demais.
Minha irmã, minha galega, meu amor, se pra cada vez que eu te encontrar eu tiver que passar pela dorzinha do tchau, eu o faço trezentos e oitenta vezes. E a essa dorzinha - característica de quem se joga e não teme o balançado da vida - eu não quero me acostumar é nunca.
Te amo. Desde o dia, 9 anos atrás, em que estávamos sentadas no chão, uma de frente pra outra, conversando apenas com a linguagem do olhar e do tato, como duas crianças descobrindo a existência do outro, do novo.
Londres, maio de 2013 |
quarta-feira, maio 08, 2013
Timing
Quando ele disse finalmente estar apaichonado, minha paixão finalmente foi-se embora.
pra mamãe e suas aventuras antigramaticamorosas.
pra mamãe e suas aventuras antigramaticamorosas.
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