quarta-feira, outubro 28, 2009

O último choro de Maria (parte I)

Primeiro me ligou, estremeci. Demorei uns três toques para atender pensando em qual timbre de voz iria usar, a tanto não me ligava...
E com um tom tímido e gentil, falou que precisava conversar comigo,ao vivo. Meio sem jeito, concordei. - cinco horas no delta café.

Quando cheguei ele já estava tomando um capuccino. Passamos uns 40 minutos conversando sobre tudo e qualquer coisa que nada tivesse a ver com o assunto principal. Como em um meio de fugir do foco, desviar a atenção, diminuir a tensão ou até de desistir da conversa. Não aguentei tanta agonia e pedi para que ele fosse direto, que fosse no ponto.

"Vou me casar, é isso"


"vou me casar, é isso". É isso??? Como assim É ISSO???

Nesse instante minha cabeça virou um turbilhão de pensamentos e fatos e loucuras. Tantas coisas juntas e ao mesmo tempo que no final não consegui enxergar nada, apenas sentia a maior febre da minha vida. Uma fogueira bem no centro da cabeça. Um misto de frio e fogo. Isso deve ter demorado uns cinco segundos. Os cinco segundos mais duros do ano. Não gosto nem de imaginar como deveria estar minha feição. Acho que faltando algum semblante, morta por cinco segundos.

Acho que sim.

Depois que retornei ao meu estado de consciência, senti a maior raiva que em um peito pode caber. Eu queria ter dito tantas coisas, coisas que talvez o fizesse desistir, mudar de idéia ,e, quem sabe até fugir comigo,dali mesmo... do delta café diretamente para um mundo sem frio, fogueira ou febre. Mas apenas respirei fundo e disse: "parabéns", me virei e sai andando rumo a qualquer coisa que molhasse, que misturasse lágrima com chuva.

Não choveu. Nem a chuva estava a meu favor.


Não saiu nas colunas sociais, não foi uma amiga em comum e mexeriqueira quem disse,não foi uma inimiga. Foi ele. ELE!
Como em um acordo infantil inventado por nós. Odeio esse acordo e a nobreza cruel que ele exala. Mas não tem como não amar sua consideração mesquinha que em nada ajuda e o fato de ter me dado a oportuniadade de gritar, mesmo que não intencionalmente.

Eu que não gritei.


Continuação no próximo post.


Carla Alencar

2 comentários:

Thaís Salomão disse...

menina, adorei essa idéia de cenas do próximo episódio.
novela dá ibope, visse? adoro isso! hahahaha

Unknown disse...

eu sou Manoela Carla.

ai rola desses dramas familiares/amorosos