domingo, abril 20, 2008

Ausência


Ausência me devolve prisão em instante vazio
Vazio dentro dos braços, pernas e próprias mãos
Perdidas em quarto escuro


Se bole, se dorme, se para

Se

Partícula de condição
Partículas de pequenas angústias
e dúvidas


Parede branca de solidão
Telefone sem conexão
Travesseiro,

-Travessão


Graças

Dia de sol, Rio de Janeiro
Passo na favela e já sinto o cheiro
Do traficante esperando a playboyzada
Que vai buscar no morro de coca a raxa

O bagulho é do bom
O menino é do bem
Só não imagina o que pra ele vem

Chega em casa meio tenso
Com embrulho na mão
A mãe já fica perturbada
Cheia de aflição

Entra no quarto, porta fechada
Pode bater quem for
Não abro nem para o papa

Pesos e medidas
Balança e quilograma
Tudo escondido por baixo da sua cama

Chega nas festinhas
Cheio de moral
Bermuda da cyclone
Uísque Jonny pra geral

Faz logo a cabeça da rapaziada
É doce, maconha, raxixe e bala

Dinheiro no bolso
Cartela na carteira
E a PF já ligada na próxima rasteira

Mas o moleque é esperto
E não deixa vacilar
Comanda bem o game
Pra depois desopilar

É rodízio, grife, uísque do bom
E um carro zero tirando onda pelo Leblon


A vida até parece boa
Mas a paz vai acabando
Telefone na mão
Gurizada ligando

Zé Henrique, Giovana, Mateus, Juliano
-Tem uma cinquentinha meu parceiro?
-Espera que tô chegando

Ruim é na hora da cobrança
Fim do prazo, fim do mês
Do dinheiro, nem lembrança

Os malucos ficam logo envenenados
Ameaçam o garoto
O guri ta pirado

Ele já não sabe o que fazer
Tem que vender, tem que pagar
Tem que parar de dever

-Deitado na cama, com o filho na cabeça
Era o sonho da mulher, da sua princesa
Com o tempo, afastou tudo o que amava
Nem mulher, nem princesa, nem filho
Nem nada-

Sua mãe já não sabe como chorar

Já gritou, já pediu e só faz rezar

Telefone toca
-ô, desce ai que é importante
Nove fitas na mão, polícia no volante

-É crime federal
-É crime, marginal!

Entra no carro,
Não vale mais perdão
Pelo menos cinco anos
Trancafiado na prisão

É crime federal
É crime, marginal!
Cadeia animal

quarta-feira, abril 09, 2008

Filtro

Filtro do teu pensamento
E o que sai a tua água
Filtro do teu café
Teu cigarro,pigarro, amargo, amado
A mando, desmando
Teu filtro eu amo
Não filtro é nada
Teu filtro me rasga a carne podre, enfim, adentro
Infiltra o outro lado até causa ferimento
Mãos em carência
Peito libertino
Corpo árido

Amo no filtro
Do meu filtro baleado


*Poesia antiga, sem data, porém, antiga.

terça-feira, abril 01, 2008

No lençol

Uma cerveja por vez, uma dose ou três.

Ela precisava disso, precisava ficar mais amarga de bebida do que de amor,
da falta de amor, do pouco amor, do seu amor muito, do amor em falta, do amor outro.

Mas não tinha dose, cerveja... Nem nada.

O que restou da noite foram umas páginas de livro,
Coletânea de lágrimas,
O amor
e suas estórias mal contadas.