terça-feira, janeiro 27, 2015

Um sábado pra não esquecer

Existem algumas maneiras de iniciar esse texto. Enumerar as figuras encontradas neste dia, num raio tão curto de distância, seria uma delas. Mas seria a mais óbvia, a mais quadrada. Então não incluirei todos os personagens pra que esse post não vire um livro, pois foram muitos.

Vou começar, então, do começo. No começo bem feto quando esse dia nem ia existir pra mim, pelo menos não do jeito que foi. E bastou uma decisão pra tudo mudar. Eu estaria em casa, provavelmente vendo um bom filme, curtindo o ar-condicionado e respeitando minha conta bancária magra, mas não foi assim que ocorreu e, por conta disso, lá estava eu e a galera no Coelho, tomando uma caipivodca que nem tava das melhores, olhando para todos os lados em busca de Anne. Loura de cabelos cacheados era a referência que eu tinha, afinal, fazia nove anos que não nos víamos. A irmã da minha irmã. Ela era tão criança, era gordinha e com rosto rosado. E ria do meu inglês fudido enquanto velejávamos num pedaço de oceano distante dentro do Canadá. Quando ela finalmente chegou e a vi, tive que conter as lágrimas: seria muito deselegante chorar em sua frente mas não por causa dela em sí, mas pela emoção a qual fui tomada em ver como ela se tornou uma mulher tão semelhante fisicamente à minha nossa irmã Samantha. A abracei como se abraçasse um pedaço de Sam e de fato era mesmo. Desatei a gastar sua lingua natal, enquanto ela desatava a falar também. Deu certo, nos divertimos e recordamos do dia em que confundi sobremesa com deserto e isso deu o maior rolo! E também da vez em que vi uma foca pela primeira vez na vida (talvez a única), no alto mar e comecei a imitá-la ridiculamente pra dizer que a vi, ja que não sabia como era a palavra. E também quando catávamos todas as berries do quintal e das florestas. 

É quando na pausa entre nossas lembranças, surge o primeiro elemento masculino da trama: meu ex, dessa vez sem ser on-line como de costume. Dessa vez sem bermuda quadriculada e todo contente, dizendo com ar de quem foi o único a conhecer Sam, que Anne era tão, tão igual a ela. "Mesmo sorriso e mesmo brilho nos olhos que são muito azuis." O único naquela roda que teria propriedade pra falar isso. Bruno, enciumou discretamente e perguntou onde escondi ela no periodo em que veio ao Brasil. De costas, escuto uma voz e identifico o segundo elemento da roda e da noite: meu quase ex namorado.  Em segundos um abraço sem graça e afastado, como sempre é desde a época em que ele decidiu me odiar, como se isso fosse mudar o que eu sou ou o que ele é. Pensei que, meu namorado, meu ex e meu quase ex na mesma roda de amigos era sinal de que ou ia dar merda ou ia ser, no mínimo, interessante. No fim foi mais que isso, foi massa. Fiquei tão feliz que bebi outro Coelho. No show, um puxava assunto, outro fazia uma brincadeira ou queria interagir. O abraço sem graça se tranformou em um cutucão em fração de poucas horas pra contar alguma coisa. Éramos, todos, mais que ex qualquer coisa. E Gustavo era mais que o atual namorado administrando uma situação que poderia ser chata. Fomos mais que pessoas civilizadas compartilhando da mesma alegria. Havia no ar a sensação de que todos se reconheceram ali, se relembraram ao vivo. E que um monte de coisa menor ficou menor ainda diante de todos os sorrisos. De todas aquelas danças e cantorias, diante de tantos amigos em comum saboreando de todas as presenças ao mesmo tempo, sem facções.

Ao menos naquela noite de sábado.

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