sábado, junho 21, 2014

Tropicália

Como pode uma única música dar uma cambalhota na cabeça e te levar a outro lugar, tempo, pessoas? O mais incrível é que acontece sem que a gente tenha controle a respeito. 

Hoje é sábado de manhã de junho de 2014 e, ao colocar Caetano pra embalar minha manhã de arrumações, sou cortada na veia por Tropicália. Parei tudo. Ouvi e cantei inteira, não acreditei no que tava acontecendo. Lá estava eu dentro do 308 voltando do Condado de Cascais pouco depois de ter deixado o papo gostoso com Ana paula no ponto de ônibus em frente ao Porcão. O almoço havia sido macarrão com molho pesto e mais fofocas, a Lê visitando a gente no restaurante só pra que a gente pudesse falar mal do chefe em paz. 

Dentro do ônibus, sentido Flamengo, ele me liga de dentro do Zona Sul pra saber o que falta comprar para o jantar. Tá um trânsito tão imenso, nem tão cedo vou chegar por aquelas bandas, mas não importa, no meu fone de ouvido Caetano canta Tropicália em looping, eu canto tropicália em looping. Decoro ela inteira, rapidíssima, tiradíssima, genialidade em música. E me balanço dentro do ônibus. E vejo a hora do ônibus passar direto naquela curva e mergulhar dentro do mar de São Conrado. Penso que seria uma maneira bonita de se morrer, ao som de Tropicália, no mar. Dá vontade de sair correndo, de gritar, de amar.

É cedo da manhã e preciso pegar o metrô e o ônibus de integração para a Barra da Tijuca. Sento na cadeira (com sorte) e dou o play. Escuto mais algumas pra disfarçar meu atual (e demorado vício):Trem das cores, Podres poderes, Água, Lua e Estrela, Cor Amarela, Tigresa, Odeio, todas as demais da lista que já foram e voltaram e foram vícios e viraram eternos amores. 

Era fim de namoro, fim decretado por decreto, sem dó e nem piedade, com poucas palavras ecoando em um quarto, lágrimas descrentes e muitas bagagens para serem levadas embora dalí: físicas e emocionais. Tavez a manhã mais dífícil da minha juventude. 

Indo encontrar os amigos, Tropicália no fone de ouvido. Tropicália durante os espaçamentos de conversas durante a noite ecoando na cabeça. Noitadas, madrugadas, chegar no trabalho ressacada, um sentimento esquisito, quase culposo mas também aliviante de liberdade. Era preciso. Tropicália, agora, revezava com Água. Pelo momento, pela melodia, pelo vídeo lindo de Caetano cantando tão sereno. Uma serenidade que eu queria pra mim e para o outro algum dia, mas que era impossível de alcançar naquele período de praia, festas, amigos, mar, bicicleta, uísques e decisões. 

A liberdade de Tropicália e o desejo do melhor ao outro de Água precisaram dividir o espaço com Deusa do Amor na voz do filho de Caê. E os sentimentos foram se misturando. E dando espaço pra Água de côco de Marcos Valle, Deixei Recado de Donato e For no One, dos lindos. Minha quadrilha viciante tava formada naquele verão que custou a acabar. 

Hoje, ouvindo apenas essa música, pude perceber que nem eu sabia o quanto essa música havia sido importante nesse período de transição de sentimentos. O mais instigante é sentir, nesse sábado de manhã de 2014, o quanto esse período Tropicália foi importante pra chegar até aqui, hoje, nessa manhã tranquila de inverno, tintas, obra quase concluída em casa, de coração cheio, de novas músicas, conquistas, histórias, sabores, esperanças, projeções e expectativas.

Obrigada Caê por sempre trilhar musicalmente as minhas fases, desde que eu era tão pequenininha.

<3

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