segunda-feira, março 10, 2014

Bem ditas palavras. Bem ditas?


Houve um tempo, por um bom tempo, onde a vida era um negócio tão aberto que as lágrimas escorriam antes mesmo das palavras. E durante. E depois. Era uma espécie de contentamento em poder apenas ser e compartilhar, o que quer que fosse. Os ouvidos sempre atentos e o coração aberto. Não havia medo e nem medição: nas palavras ou no afeto. Dos dois lados. Você era de longe uma pessoa que era só coração e incapaz de qualquer ato baqueado de falsidade. Até tudo virar não. Mas se fosse um não anunciado, te aplaudia, respeitava e me recolhia. Mas aconteceu de ser um não que não foi anunciado e, não satisfeito, se mostrou o oposto: abraço apertado seguido de acalantos "coronários", "pois quando vem do coração Deus abençoa" e sei lá mais o quê de tanta palavra junta. De tanta palavra vazia. 

A Rainha-Deusa-Mãe das palavras e do amor se engoliu no próprio desato e a vida do próximo virou a coisa mais interessante do mundo. Talvez por uma vida própria vazia. Talvez por puro esporte. Ou pelo desejo de ver um circo tão pequenino tocando fogo. O motivo em sí não me importa, não mais. Mas o não - que não foi anunciado e pelo contrário foi acalantado por palavras bonitas, porém encontradas em dicionário qualquer, veio seguido de palavras feias, também encontradas em dicionário qualquer. A diferença entre os dois conjuntos de palavras, é que um não teve a mesma coragem que o outro. As feias, aquelas que você não conseguiu segurar e nem mesmo medir - mesmo dentro de tantas incertezas no que estava falando - não tiveram coragem de se mostrar pra mim. Não tiveram coragem de se despir. Não passaram de linhas avulsas e destrambelhadas escritas para outra pessoa, não viraram voz. Esses olhos - que em outrora eram amor (?), não tiveram coragem de dizer pra mim. A força foi canalizada apenas para o negativo -  por trás, feito faca nas costas, enquanto as palavras continuaram de afago, amor e afeto. E ainda com direito a fotografia.

Isso foi de longe uma das coisas mais deprimentes que um ser humano pôde me mostrar, em quase 26 anos de vida. A parte divertida de tudo (porque sempre tem) é ver que o mundo dá voltas. E como dá, hoje eu vejo isso sem necessidade de lupa. E o ser que um dia julgou, não se iluda, uma hora ou outra vai cair na própria cilada e ser julgado. Até aprender que julgar é de longe uma das maiores babaquices e armas contra sí mesmo que se possa existir. Um prévio tiro no pé. Aprender isso foi como descarregar um revolver com um pente atolado de balas para o céu, libertá-las. Tem gente, no alto dos 30, 40 anos que ainda não aprendeu. Que bom que aprendi isso aos 25, ganhei uns anos a menos de sofrimento. Mas uma hora todo mundo aprende. O tempo e a maturidade ensinam essas coisas.

2014 começou agora e com a leveza e felicidade de ter por perto apenas gente de coração em comunhão. Algumas vezes é preciso que algo aconteça pra gente ver quem de fato tá junto e quer bem. Pior seria passar a vida inteira se enganando entre sorrisos bombásticos de emoção em cada fotografia - e tão superficiais. Hoje me envergonho dessas fotos que um dia participei, melhores amigos por conveniência. Mas sei que não é assim. Dei tudo de mim e é isso que importa. Cada fase é uma fase e tem coisas e pessoas que apenas cruzam com a gente nessa vida e passam. Do mesmo modo que outras também  virão. E que o importante é ver quem realmente é concreto, os que sempre foram e sempre serão.

É muito fácil ser amigo em mesa de bar e em almocinho em casa. Amigo de bar a gente arruma, tem em cada esquina do Rio de Janeiro, de Recife, da Europa, até.

Alegria na vida é olhar pra trás e perceber que os seus, aqueles seus de sempre, de fé, de doença, de falta de grana e de coração partido são os mesmos que compartilham dos gozos, dos sucessos, do uisque do bom. E eles continuam exatamente no mesmo lugar. E é um lugar que não fica estático e empoeirado, um lugar que não é nem atrás e nem na frente, mas do lado. Do lado lateral, lado a lado e do lado de dentro, como tem que ser.

Em resumo: além de tudo o que me aconteceu de bom e que me vem acontecendo a cada dia, que não quero compartilhar para que o recalque passe bem longe (com direito a funk e tudo) veio de quebra uma peneira gigante e gratuita (mesmo que na pancada) do que e de  quem eu devo ou não levar pra vida. Nem precisei me dar ao trabalho de fazer isso na retrospectiva 2013, a vida mesmo se encarregou me dando esse presente em forma de realidade. Até na hora de bater a danada de algum modo me alisa.  

Na hora, a pancada dói sólida, mas a dor vem seguida de mágoa líquida, que finaliza em formato de alívio gasoso. Um processo chato, lento, que machuca mas que é necessário passar sem pular etapas. E a leveza que invade varrendo o fim desse ciclo não tem nome. É um troço muito bom e que se eu pudesse, eu engarrafava e dava de presente para o mundo todo. Se é impossível uma sustentável leveza do ser, a gente busca o mais próximo que pode. E essa busca é diária.

Axé, 2014! Obrigada por todos os momentos que em pouco mais de dois meses você já me proporcionou! Vemtimbora que tem é muita vida lá fora (e aqui dentro também). Vibrante. E suave.

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