No ônibus, um apito fino e contínuo atordoava nossos ouvidos, do meu lado, minha mãe reclamando a cada minuto.
- pqp, que porra é essa? (pela terceira vez)
- mama, pra mim vai ser ainda mais chato se além do apito, tu ficar perguntando sobre o apito a cada instante.
- mas é que tá demais, tá demais.
- quer descer do ônibus?
- não.
- então pára.
E o apito continuava. E minha mãe continuava a reclamar.
- Mama, bora fazer um combinado? Vamos tentar ficar sem reclamar de nada da vida por uma semana a partir de agora?
- Uma semana? Acho que um dia já tá de bom tamanho.
- Então combinado. A partir de agora, 11am, a gente não reclama de mais nada. Começando por esse apito.
- Combinado.
Descemos do ônibus, centro da cidade lotado, um calor medonho, lojas entupidas, gritaria, mal cheiro, sacolas batendo na gente e um sorriso irônico na cara "que ótimo não reclamar de nada!"
Volta para casa, meia hora esperando o único ônibus que deixa em casa no ponto errado. "ora, que bobagem, podia ser pior"
Caminhada até o ponto do taxi. Todos os taxis cheios. Um tempão depois conseguimos o nosso. Maravilha, "boa tarde, moço, vamos ao Bairro de Fátima!"
E, próximo ao nosso bairro, dentro do taxi, cheia de sacolas e uma fome de morder pedra, o taxista lembra da feira que acontece no nosso bairro. "Vocês terão que descer aqui, é impossivel passar por alí'.
E eis que mamãe fica roxa "meu deus, que merda, pqp, esqueci dessa porra de feira. Não acredito, andar isso tudinho? era melhor ter vindo a pé. pqp, que feira de merda!" E, enquanto pagava ao motorista, disse:
"Moço, hoje nós duas combinamos que não íamos reclamar de nada, bom, parece que o combinado acabou, né?"
"É. hehehehe"
E mamãe subiu a rua da feira, por entre abacaxis e ervas, falando e gesticulando todos os palavrões que aprendeu em toda a sua vida. Mas sempre com um risinho irônico na cara de quem havia acabado de quebrar um combinado que não passou de duas horas.
Agora, vamos ver até quando eu aguento.
sábado, novembro 30, 2013
sexta-feira, novembro 29, 2013
Efêmero, solar
Hoje lembrei que foi você quem me ensinou a manha de modelar o rosto na areia da praia, pra ficar um cochilo gostoso.
Por cima da canga, modelei meu rosto na areia, como modelei meu corpo em você.
Dormir era bom. Acordar era bom.Tudo era bom,
até
não
ser.
'Já é verão de novo!'
sol de noite. água de côco. mar. sal. morenicidade. cores no céu. cor de rosa. de laranja. de violeta. cerveja gelada. os bares dos morros para serem descobertos. uma praia mais distante. outra. o suor por entre os seios. pedalada. as curvas montanhosas do Rio de Janeiro. a indiscrição do indescritível. o trem do samba, o samba.
Já é verão de novo e você não se esforça pra ser a minha casa. No calor, sim. mas sem pudor e muito, muito a vontade.
quinta-feira, novembro 28, 2013
segunda-feira, novembro 25, 2013
Artemanhas do amor
Sofia - ô carlinha, mas tu vai simbora de que horas?
Eu - não se preocupe não que eu só vou depois que você dormir
Sofia - de verdade, carlinha?
Eu - prometo, meu amor. Só depois que você dormir
Sofia - então não vou dormir hoje, visse?
Eu - não se preocupe não que eu só vou depois que você dormir
Sofia - de verdade, carlinha?
Eu - prometo, meu amor. Só depois que você dormir
Sofia - então não vou dormir hoje, visse?
Avesso
Amanheci com o peito no estomago. É que abraço de despedida machuca um tanto, mas a ideia do abraço, aquele que não foi, machuca, descolore e ainda mancha.
sábado, novembro 23, 2013
"Que seja doce?" que seja real!
O medo de azedar um doce que ficou gostoso faz com que muita gente não mexa mais nele. Medo que comer mais perca o encanto, permita descobrir pequenas falhas na receita, uma borda um pouco mais queimada, um recheio que ficou cru.
Tem gente que não liga pra isso e mexe mesmo assim, prefere se lambuzar com o doce e correr o risco do azedo do que permanecer no quase intacto, bonito e superficial. Do que morar na lembrança do gosto que foi bom, até que ele se dissolva em outros gostos.
Eu me encaixo nessa segunda estrofe. Vou sem saber como é a volta, sem me preocupar com esse caminho tantas vezes doloroso ou frustrante. Prefiro a dor do que o vazio, "e se" é câncer pra mim. De suposições me bastam as irremediáveis.
Mas aprendi uma coisa cheia de importancia e que serve de lição pra tantas outras na vida. Existem pessoas, situações, coisas ou gostos que nasceram pra serem vividos apenas uma vez. Uma coisa estupenda e de uma vez só, feito fósforo quando riscado.
O aprendizado é entender que esse "apenas" nunca vai ser uma palavra menor.
quinta-feira, novembro 21, 2013
quinta-feira, novembro 14, 2013
O decreto do peito, fechado
Para as duas estranhas que um dia acreditaram que seriam, sempre
É triste perceber isso, assim, na cara, no duro e direto, um abuso abusado decretado por decreto. Por todos os lados, de mim, de tu, de dentro, de fora, de lado. Não é a primeira vez que acontece (em dez anos, também pudera) mas tem jeito de ser a última. Por uma "coisa boba" que de boba não tinha nada, que se tornou gigante e minou, azedou o que era doce, o que era vivo, acabou. Era amizade e virou palito, afiado. Era choro, era riso e virou buraco. Era beleza, era sadio e deu praga. O que era um silêncio cumplice se tornou puro constrangimento. O transparente ficou fosco, tosco, de plástico.
E a amizade antiga deu espaço pra uma amizade velha, desbotada e cansada. Demais.
quarta-feira, novembro 13, 2013
sábado, novembro 09, 2013
Pra curar
Quando falta rifocina para o machucado e sobra unha afiada pra arrancar as casquinhas, a gente divide a dor em duas partes:
cada um com a sua
em seu canto de mundo
cada um com a sua
em seu canto de mundo
quinta-feira, novembro 07, 2013
Pra guardar no peito
'Cansei de dar murro na ponta dessa faca afiada do Rio de Janeiro'
Foi a frase que disse à tarde com um nó bem preso no miolo da garganta. Essa afirmação foi injusta, injusta até demais, eu sei. É fácil falar isso quando se está desempregada contando as migalhas pra saber em quê pode gastar e quanto. Quando se volta by foot de laranjeiras até a Lapa todos os dias só pra economizar algum dinheiro para o fim de semana (tudo bem, tou achando ótima a caminhada, mas podia ser apenas pela saúde).
A frase foi injusta por muitas coisas, afinal, foi o Rio quem me trouxe a grande decepção desastroamorosa de minha vida e que me fez crescer cinco anos em dois meses. Que me colocou um menino lindinho e mais maluco e tinhoso do que eu bem no meio do meu já desassossego. E continuou, continua. Foi a ponte pra conhecer um dos grandes amores da minha vida, que por pouco não se tornou meu marido (quem hoje imaginaria eu, casada, (?) mas foi por pouco). Foi essa cidade quem me deu as maiores oportunidades profissionais e também os maiores contatos. E, pra completar minha injustiça, foi justamente por estar atuando aqui que cheguei na Europa, por conta própria, sem pedir um real a mamãe e a papai. E foi onde conheci gostos e sensações nunca antes experimentadas. Revivi pessoas e construi novas saudades.
Apesar dessa cidade nunca ter sido muito estável comigo, profissionalmente e amorosamente falando, tem um negocinho à parte que é gigante e que me fez chorar novamente (hoje tô chorona): os amigos. Pode tá tudo partido, o coração sempre remexido, a variedade nos ramos de trabalho mais instáveis que o câmbio na página da Uol, uma saudade que separa toda a minha família por esse brasilzão, mas quando penso em como era minha vida afetiva quando cheguei aqui e como ela se desenhou durante esses quase três anos, meu peito infla e eu só tenho vontade de chorar. Chorar de agradecimento sincero por tantas conquistas. Por tanto amor.
No último sábado uma amiga antiga de Recife veio me visitar e, no finalzinho do domingo, antes de partir pra terrinha, me falou com tom de emoção que estava muito feliz por mim, em ver as pessoas lindas que estão ao meu redor. E ver que elas também são merecedoras do meu afeto. Quase choro quando ela falou isso (eu tô de TPM?). E é exatamente assim. Em Recife não tenho do que reclamar, tenho amigos incriveis de lindos. De carregar no peito, de levar pra casa e pra bar. De dividir tuias de lágrimas e agonias, quando por ventura elas aparecem, e os risos sem fim, constantes. E aqui no Rio não é diferente. É tudo mais novo, mas é tão sólido que parece ser antigo. Parece não fazer diferença. Na verdade é até mais intenso, algumas vezes dá a impressão que nós, no auge dos vinte e muitos anos (sem contar com os trintões que são maioria), acabamos de descobrir o que é ter um amigo, um grupo de fé, tamanho é o agarro e a trança que a gente forma, cada dia mais amarrada.
Massa mesmo é quando os antigos e os novos se misturam , Recife/Rio, e quando isso acontece é um turbilhão, de vida, de luminosidade. Fica difícil distinguir onde termina uma terra pra começar a outra. Deu vontade de chorar de novo (hehe) quando penso em cada criaturinha que hoje faz parte dessa minha vida carioca. Dessa minha vida pernambucana. Dessa minha vida. E a emoção que é vê-los participando de mim enquanto eu faço o mesmo com eles, os sotaques se confundem e eu falo "cara" enquanto eles falam visse. Tem hora que a gente se perde, nas gírias e no amor. Amor transbordante. Na rua, nas festas, em casa, na vida.
Essa foto é de dois amados que representam muito bem toda a equipe a qual me refiro. Eu queria uma foto de todos eles, pra ilustrar essa declaração, como não tenho, transfiro toda a minha gratidão e carinho dessa foto para eles, todos, juntos e um por um. E ainda temos muito o que viver juntos, aqui, lá e em todo lugar!
Amo vocês!
Beijos no cu,
Carlinha.
Foi a frase que disse à tarde com um nó bem preso no miolo da garganta. Essa afirmação foi injusta, injusta até demais, eu sei. É fácil falar isso quando se está desempregada contando as migalhas pra saber em quê pode gastar e quanto. Quando se volta by foot de laranjeiras até a Lapa todos os dias só pra economizar algum dinheiro para o fim de semana (tudo bem, tou achando ótima a caminhada, mas podia ser apenas pela saúde).
A frase foi injusta por muitas coisas, afinal, foi o Rio quem me trouxe a grande decepção desastroamorosa de minha vida e que me fez crescer cinco anos em dois meses. Que me colocou um menino lindinho e mais maluco e tinhoso do que eu bem no meio do meu já desassossego. E continuou, continua. Foi a ponte pra conhecer um dos grandes amores da minha vida, que por pouco não se tornou meu marido (quem hoje imaginaria eu, casada, (?) mas foi por pouco). Foi essa cidade quem me deu as maiores oportunidades profissionais e também os maiores contatos. E, pra completar minha injustiça, foi justamente por estar atuando aqui que cheguei na Europa, por conta própria, sem pedir um real a mamãe e a papai. E foi onde conheci gostos e sensações nunca antes experimentadas. Revivi pessoas e construi novas saudades.
Apesar dessa cidade nunca ter sido muito estável comigo, profissionalmente e amorosamente falando, tem um negocinho à parte que é gigante e que me fez chorar novamente (hoje tô chorona): os amigos. Pode tá tudo partido, o coração sempre remexido, a variedade nos ramos de trabalho mais instáveis que o câmbio na página da Uol, uma saudade que separa toda a minha família por esse brasilzão, mas quando penso em como era minha vida afetiva quando cheguei aqui e como ela se desenhou durante esses quase três anos, meu peito infla e eu só tenho vontade de chorar. Chorar de agradecimento sincero por tantas conquistas. Por tanto amor.
No último sábado uma amiga antiga de Recife veio me visitar e, no finalzinho do domingo, antes de partir pra terrinha, me falou com tom de emoção que estava muito feliz por mim, em ver as pessoas lindas que estão ao meu redor. E ver que elas também são merecedoras do meu afeto. Quase choro quando ela falou isso (eu tô de TPM?). E é exatamente assim. Em Recife não tenho do que reclamar, tenho amigos incriveis de lindos. De carregar no peito, de levar pra casa e pra bar. De dividir tuias de lágrimas e agonias, quando por ventura elas aparecem, e os risos sem fim, constantes. E aqui no Rio não é diferente. É tudo mais novo, mas é tão sólido que parece ser antigo. Parece não fazer diferença. Na verdade é até mais intenso, algumas vezes dá a impressão que nós, no auge dos vinte e muitos anos (sem contar com os trintões que são maioria), acabamos de descobrir o que é ter um amigo, um grupo de fé, tamanho é o agarro e a trança que a gente forma, cada dia mais amarrada.
Massa mesmo é quando os antigos e os novos se misturam , Recife/Rio, e quando isso acontece é um turbilhão, de vida, de luminosidade. Fica difícil distinguir onde termina uma terra pra começar a outra. Deu vontade de chorar de novo (hehe) quando penso em cada criaturinha que hoje faz parte dessa minha vida carioca. Dessa minha vida pernambucana. Dessa minha vida. E a emoção que é vê-los participando de mim enquanto eu faço o mesmo com eles, os sotaques se confundem e eu falo "cara" enquanto eles falam visse. Tem hora que a gente se perde, nas gírias e no amor. Amor transbordante. Na rua, nas festas, em casa, na vida.
Essa foto é de dois amados que representam muito bem toda a equipe a qual me refiro. Eu queria uma foto de todos eles, pra ilustrar essa declaração, como não tenho, transfiro toda a minha gratidão e carinho dessa foto para eles, todos, juntos e um por um. E ainda temos muito o que viver juntos, aqui, lá e em todo lugar!
Amo vocês!
Beijos no cu,
Carlinha.
quarta-feira, novembro 06, 2013
Quando você deixou de ser sentido e passou a ser lembrança
A Mauricio
Qualquer coisa que eu fale ou que você murmure, não passa mais de frase. De letras unidinhas formando qualquer palavra. cebola, alicate, toalha, eu te amo. Todas iguais. O sentido se tornou lembrança. A lembrança se vestiu de dor, a dor em uma rotina estática, sem malemolência. Dor gosta de rebuliço, um rebuliço que nem existe mais. Coagulou. Pra não me arrepender depois, prendo-a num potinho com medo. A dor não gosta desse lugar comum e tá virando poeira. Escolho a dor à poeira. Porque sei que poeira voa longe. Voa pra bem longe e não volta, se esvai e não se recupera. Por que a dor à poeira? Quando eu conseguir responder essa pergunta e decidir por mim e por você sem piedade, vai ser sua vez de me perguntar isso, querendo decidir contrariamente, cheio de vontade e razão, cheio de palavras descabidas e desconexas para o momento. Vai tentar diferenciar, na emoção, cebola de eu te amo. Como sempre é. Pena que já estarei tão distante.
Qualquer coisa que eu fale ou que você murmure, não passa mais de frase. De letras unidinhas formando qualquer palavra. cebola, alicate, toalha, eu te amo. Todas iguais. O sentido se tornou lembrança. A lembrança se vestiu de dor, a dor em uma rotina estática, sem malemolência. Dor gosta de rebuliço, um rebuliço que nem existe mais. Coagulou. Pra não me arrepender depois, prendo-a num potinho com medo. A dor não gosta desse lugar comum e tá virando poeira. Escolho a dor à poeira. Porque sei que poeira voa longe. Voa pra bem longe e não volta, se esvai e não se recupera. Por que a dor à poeira? Quando eu conseguir responder essa pergunta e decidir por mim e por você sem piedade, vai ser sua vez de me perguntar isso, querendo decidir contrariamente, cheio de vontade e razão, cheio de palavras descabidas e desconexas para o momento. Vai tentar diferenciar, na emoção, cebola de eu te amo. Como sempre é. Pena que já estarei tão distante.
terça-feira, novembro 05, 2013
Primeira Manhã
A Mauricio
Crônica de agosto de 2013
Crônica de agosto de 2013
Ele fugia de mim. Pra mim. Mas na verdade era eu quem fugia dele. Pra ele.
Acho que nunca teremos como saber.
Eu estava sempre namorando, pra ele. Ele estava sempre namorando, pra mim. E quando não estávamos, fugíamos. A vontade de se enroscar acompanhada do medo era tanta que as desculpas se tornavam infindáveis para o não. Até que a matemática falou mais alto e negativo com negativo se tornou positivo e lá fomos nós. Mentira, lá fui eu, por volta das onze da noite pegar um ônibus e depois uma van de Copacabana diretamente pra Santa Teresa, lá no alto. Endereço escrito em um papel e o coração batendo mais rápido que a velocidade que o motorista percorria aquele caminho que nunca chegava. A hora é agora, pensei. A hora é agora, ele pensou. Finalmente pensamos, sincronicidade. É agora. Um agora que demorou coisa de dois anos pra acontecer. Já era bem tarde e a vontade de protelar aquele momento era tão grande que ficamos no estúdio que ele tem em casa. Alguns amigos chegaram e entre uma bebidinha e outra tocaram umas músicas.
Pra disfarçar minha cara de sem vergonha envergonhada, peguei minha câmera e comecei a filmá-los, como uma maneira de justificar minha existência nova naquele lugar. Mesmo sendo uma existência antiga na vida do dito cujo senhor das baquetas. O tempo foi passando, a bebida acabando, os meninos dando boa noite e até a própria noite se despediu dando espaço para os primeiros tons indicativos de dia. Era hora de foder. Não tinha mais pra onde correr. Não havia mais como fugir. Éramos só nós dois, Eric Clapton conduzindo a ebriedade do momento e um colchão para nossos corpinhos magros no meio do estúdio. Ele fechou a cortina.
Pra disfarçar minha cara de sem vergonha envergonhada, peguei minha câmera e comecei a filmá-los, como uma maneira de justificar minha existência nova naquele lugar. Mesmo sendo uma existência antiga na vida do dito cujo senhor das baquetas. O tempo foi passando, a bebida acabando, os meninos dando boa noite e até a própria noite se despediu dando espaço para os primeiros tons indicativos de dia. Era hora de foder. Não tinha mais pra onde correr. Não havia mais como fugir. Éramos só nós dois, Eric Clapton conduzindo a ebriedade do momento e um colchão para nossos corpinhos magros no meio do estúdio. Ele fechou a cortina.
Corta a cena
Acordamos. Quer dizer, acordei primeiro e parecia que éramos um casal antigo: as pernas enroscadas, o nariz no pescoço, o pescoço babado. Me mexi o menos que pude e ainda tateando aquele lugar não comum (tanto o corpo quanto a casa), procurei pelo copo d'água que tava perto. O estúdio tava bem escuro, derrubei meu celular no chão e ele acordou. Abriu os olhos e um sorriso de satisfação e bem sonolento me puxou de volta pra ele. Uma preguiça danada de levantar, as vozes lentas trocando carinhos sem vergonha do bafinho matinal. Lá fora tava um sol de rachar. Aqui dentro também tava, sol. Parecia que a gente não ia se desgrudar nunca mais. Depois desse dia, nos encontramos algumas vezes e depois fizemos questão de arrumar qualquer novo motivo para o não.
Agora ele foge de mim. Pra mim. Mas na verdade sou eu quem fujo dele. Pra ele.
Acho que nunca teremos como saber.
sábado, novembro 02, 2013
Sexta, Miles, água com limão, pijama e palavras
Houve um tempo, não muito distante, em que ficar em casa na sexta-feira à noite era sinônimo de derrota, tristeza e agonia. Era quase que hipotética a cena da rua lá fora, as pessoas, a ebriedade do momento e dos risos e eu não estar participando disso. Só se tivesse doente, não tinha essa de chuva ou coração machucado como fatores impeditivos. Sexta-feira era dia de rua, ponto final. Hoje, quase 1h da manhã deste emblemático dia, estou aqui, em casa, sozinha. Sozinha e contente. Não porque não tinha pra onde ir, aliás, eu tinha inclusive um convite pra um baile muito legal. Mas minha casa me ganhou, o cheiro de colônia, alecrim e manjericão do banho de ervas que fiz mais cedo me aconchegou, me fez escolher aqui pra ser hoje o meu lugar.
Tem cerveja na geladeira, aliás, têm muitas cervejas na geladeira. E tem vinho na prateleira da sala, mas estou na água com gelo e limão. Não, não é suco de limão, é outra coisa, é essa coisa. Por incrível que pareça, até estou com uns trocados que poderiam ser gastos noite adentro com os amigos, mas permanecem na carteira, que permanece na bolsa, que permanece pendurada no meu espelho de pé, bem lindo, que permanece no meu quarto, que me pertence. E eu pertenço a ele, hoje. Bebo minha água com essência de limão e Miles Davis embala minhas palavras pelo Grooveshark. É tão maravilhoso não precisar baixar música no meu computador com pouca memória e não ter que aturar as propagandas do youtube. Eita, agora começou a tocar "The man i love", me arrepio com essa música. Miles é um danadinho!
Tem cerveja na geladeira, aliás, têm muitas cervejas na geladeira. E tem vinho na prateleira da sala, mas estou na água com gelo e limão. Não, não é suco de limão, é outra coisa, é essa coisa. Por incrível que pareça, até estou com uns trocados que poderiam ser gastos noite adentro com os amigos, mas permanecem na carteira, que permanece na bolsa, que permanece pendurada no meu espelho de pé, bem lindo, que permanece no meu quarto, que me pertence. E eu pertenço a ele, hoje. Bebo minha água com essência de limão e Miles Davis embala minhas palavras pelo Grooveshark. É tão maravilhoso não precisar baixar música no meu computador com pouca memória e não ter que aturar as propagandas do youtube. Eita, agora começou a tocar "The man i love", me arrepio com essa música. Miles é um danadinho!
Comecei, finalmente, a escrever uns rabiscos sobre meu projeto. Decidi esquecer essa ideia de que porque nunca escrevi um projeto na vida, não posso começar nunca. Joguei pela janela da sala, que é bem grande, a desculpa de que não sei fazer orçamento e de que não sei qual é a linguagem específica a ser usada. É futucando que se aprende. Depois dei uma parada, comecei a ler a apostila do curso e viajar nos tilts, pans, travelings, chicotes, plongès e contra plongès. Voltar a estudar foi uma das decisões mais acertadas que o desemprego me trouxe. Me assusto em como não fiz isso antes, onde morava minha necessidade de aprender mais e mais e mais? Espero que depois dessa eu tome juízo e não pare de estudar nunca mais, mesmo que um dia eu tenha três empregos, um cachorro e um pomar pra tomar conta, cheio de pitangas graúdas.
Dei um um tempo no projeto e vou aproveitar pra terminar meu livrinho que tá parado tem tempo. Ah, nem queira saber a quantidade de livros que tenho interrompidos faltando 2 capítulos pra terminar, não sei que prazer é esse em não querer saber o fim. Vou mudar essa mania boba e terminar o que estou lendo de uma vez por todas, antes que ele vire estatística.
E agora, vendo minha cama quentinha e bagunçada, deu vontade que o sono não demorasse a chegar. É tão boinha a hora de desligar tudo e deixar só a luminária de luz ambar iluminando minhas últimas ideias antes de pegar no sono... Não sei como tem gente que não gosta desses instantes finais de antes de dormir, pra mim é quase um abraço. Um abraço deitado, suave e contínuo. Obrigada, sexta, água com limão e gelo, Miles, pijama e palavras.
E agora, vendo minha cama quentinha e bagunçada, deu vontade que o sono não demorasse a chegar. É tão boinha a hora de desligar tudo e deixar só a luminária de luz ambar iluminando minhas últimas ideias antes de pegar no sono... Não sei como tem gente que não gosta desses instantes finais de antes de dormir, pra mim é quase um abraço. Um abraço deitado, suave e contínuo. Obrigada, sexta, água com limão e gelo, Miles, pijama e palavras.
sexta-feira, novembro 01, 2013
Sobre uma tela que divide. Ou o oceano que separa. Ou não.
A Brecht
'Uma felicidade sem futuro
como qualquer felicidade que se preze'
de Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios
Eu te decorei. Os olhinhos mirando a parte superior esquerda. Os olhinhos, cerradinhos, cheios de brilho. Igualzinho como eu lembro. E o sorrisão querendo engolir esse cristal liquido que separa as nossas vistas do abraço, do aconchego, do cheiro cheirado. Três horas de diferença no relógio e o nosso sono igual. Bairro de fátima, Karlsruher, oceano, halloween, guapa, tas aí? Eu te decorei, o silêncio que precede a caretinha de boca, mostrando parte dos dentes, indicando que minhas bochechas vão ganhar um aperto sonorizado por um "aaaaarrrhhh", mas via isso, esse tal de skype, a caretinha de boca é interrompida pelo não ato e o rosto vermelho, frustração disfarçada. E minha caretinha de cumplicidade em querer tocar tua bochecha também. Eu te decorei. E eu também te colori, com lápis nos olhos e batom por tabela, por beijo. Você também é o mais lindo. E vai tá sempre fazendo bonito no meu coração, obrigada! Pela noite de halloween e pelos sentires incoisificáveis. Seremos sempre essa felicidade sem futuro. Que é como são as felicidades que se prezam: agora.
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