terça-feira, setembro 29, 2009

O romance de Doralice e Tião

Debruçando em raivas

Debulhando o feijão

Lembrando do beijo

Chorando a traição


Das promessas que fizeram

Diante de tanta gente

Na igreja de catente

Que fica lá do meu sertão


O véu e a grinalda

O vestido emprestado

Os conselhos de maria

O sapato apertado


Brôa, sangria e bode

Cajuzinho de festa

Bolo com boneco em cima

O bucho do povo sai da miséria


Lua de mel na pensão de seu Donato

é assim:

Mil botões em uma cama é jogo

Um por um

Dois por dois

Quebrou três

três pérolas falsárias

Na anágua de Doralice

Nem remédio e nem tolice

Com Tião num cola não


Por detrás da porta ouvem tudo

Dona marta, romeu e a costureira

Com um terço na mão

E um inteiro de inveja:

É barulho, é gemido

Pra durar a noite inteira


E a noite se fez de boba...


A geladeira até hoje a gente paga

A aliança em dez vezes sem correção

O aluguel da casa atrasado


E os mil pedaços de meu coração

quinta-feira, setembro 24, 2009

Sim


A arte do não também é poesia
A poesia do não também é arte

Tudo se inverte
Tudo se repete
Tudo se envolve

Tudo se destina
Ainda que volte



domingo, setembro 20, 2009

Quase


Coisa boa é sentir saudade
De quem a gente não conhece

(Imaginar cada dor e prazer)

E assim,
Quase do nada
Achar que sentiu
Sem tanto sofrer



São ou não
Real ou repente
De mim ou de tu
De nós e da gente

É que saudade boa, menina
É saudade sempre



Carla Alencar

domingo, setembro 13, 2009

Três dias


Olhos em estado de rio, represa

Avião vôa tão depressa
Em quase três horas de agonia e penar
Gotícolas torneirinha
Gotinhas de Carlinha
À se requebrar na planta da bochecha

Quando acaba parece sonho:

Bocado de brisa no vento frio e azul
Sol seco
Sal corando a pele
Prainha
Chopp da brahma
Wisque
Matriz
Atriz

Gafieira e o samba
Na ponta do pé mais bonito
De lilás e laranja o vestido
Desregrado a rodar

Da morena cacheada
Que me engorda e que me mata
Que me bota pra chorar

Cócegas

Saudade durante o abraço
Antes e depois do abraço
Pendurada nos ossinhos gentis que ele tem

Fica lá depois do túnel
Pavão,Pavãozinho
Melância e carinho
Sorriso em desalinho
Destinado a acabar...

... Nas águas de setembro
E as águas vão fazendo
O tempo inteiro parar

No Estado do Rio
Em estado de rio
Nos olhos do Rio
Nos olhos de rio

em mim



Carla Alencar