terça-feira, julho 14, 2009

Eu te amo?

"o amor, o sorriso e a flor... se transformam depressa demais" Vinícius de Moraes



Vai me roendo aos poucos.. primeiro a ponta dos dedos do pé, tirando pedaço do meu equilíbrio, o interior do meu umbigo e depois dá uma mordidinha no coração. (de leve). Vai sugando minha respiração de quando em vez e se não percebo, preciso de ar. Eu já disse certa vez que não sufoca, é leve. O ar é leve quando sem par, sem dois, sem essas coisas.
(um leve vazio você quis dizer,né?).
Não. Leve, leve. Ah, Maria... é inútil tentar te explicar. Preciso (acho que quero) ir. Um beijo, te cuida.

Não recordo com perfeição o que me afastou ou como afastei ela. Era inverno daqueles de abrir o guarda-chuva mesmo sem querer. De rodopios no pátio, águas no gramado, dedos em nó. Tempo de olhares e de olhos arregalados para dentro com um susto sutil de encantamento. Estávamos encantados, talvez fracos. Mas de um modo ou de outro, era ela quem andava debaixo de meu guarda-chuva preto enquanto meus braços a envolvia involutariamente. Não por necessidade, por querer. Mas de repente, em um vulto, o guarda-chuva fechou molhando a gente. Eu corri pra não estragar minha calça e até hoje não sei se ela ficou,se fincou ou partiu. A culpa foi decididamente da chuva.

* Um parênteses maior que o normal para um direito de resposta! É, até que ele me amou uma parcela entre as tantas que prometeu pelo olhar e pelos abraços afogados. Me deixou em partes, uma dissolvendo a outra em cada vestígio de não. E foi-se embora, de mim não teve piedade tampouco o perdão. (é que quando o coração toma o veneno prematuro do outro e logo é deixado na contra-mão, precisa correr e arrancar as sementes dos dias futuros que nem tiveram tempo de brotar mas que iam. É como um terreno perigo e arrancar sementes já plantadas em terra fértil, é um trabalho doloroso e às vezes inútil. Precisa ser com a ponta dos dedos, como quem tira espinho do pé. Agulha tortura, Pá espalha, mão consola e toca. Mão mastiga a outra num movimento genuino de perdão. Eu gosto de mão e na maioria das vezes a cura vem de dedos novos, frios e trêmulos, para que tudo comece outra vez.)







Ele me ama. Ele ainda me ama ( e muito). Talvez nem sáiba disso direito porque gosta de se enganar, mas no fundo eu sempre soube e o seu nervosismo só me fez confirmar: Riso a mais onde não há graça, palavras por cima da outra, mãos sem saber onde pousar e um breve silêncio de tchau. Apesar dessa certeza ter feito de mim moradia, por tempos temi o bastante que tudo isso fosse ilusão, mas não é, ele me ama sim! Ama sim, Maria. E eu nem sei se devia, mas admito que acho tudo isso muito mais interessante do que confuso.

Será que ela percebeu? Quando eu amo, sei mostrar até o osso. Quando finjo que amo, me esforço bastante e até me engano. Mas quando finjo que não amo fica tão óbvio... Pareço um pouco patético. Como é que pode, hein? Era melhor não ter fingido e nem desfingido. Era melhor não ter feito é nada. Tenho a impressão que o mundo inteiro notou e isso é doloroso demais para a minha vaidade. Sentimento de nudez e de segredos descobertos. Acho que agora, nem seis cordas e um copo graúdo de cachaça transbordaria essa danação até o fim.





Hoje a tarde, escapou um eu te amo até a pontinha da língua. Ficou meio dormente e quando graças a Deus voltei ao meu estado de frieza natural, engoli tudo e para despistar, perguntei se ele gostaria de um café bem quente. (Querida, ele esperava que você cuspisse tudo de uma vez, mas como não aconteceu, ele apenas disse que sim, aceitaria "um café bem quente com bastante açúcar,por favor"). Ora essa, porque só eu tenho que escapulir? por que não pode ser ele primeiro? Além dele ser o homem (e eu gosto que o homem seja mesmo o homem da relação), sempre que falo algo a mais, tenho a sensação de ter me saído a mocinha boba de um filme romântico. Por que ele sempre retribui com um sorriso curto e silencioso? Nunca com as palavras que ele deveria falar (ou que eu gostaria) de ouvir. Odeio isso, odeio!

Não concordo em ter que ser sempre o primeiro a dar o beijo, a pedir em namoro, a chamar para dormir na minha casa, a iniciar as preliminares para uma transa. Será que nem as palavras do que ela gosta de chamar de eu te amo pode vir primeiro dela? E além do mais não é por orgulho (um pouco talvez) e nem por pirraça (um pouco talvez) que eu não falo. Não sei se é por que não é ainda, por que quero ter a certeza que para ela é também (e por isso espero sua iniciativa) ou se é por que simplesmente sou tímido demais. O pior de tudo é saber que ela também pode usar exatamente essas mesmas justificativas ou desculpas,se assim preferir. Mas como tudo sempre sobra para mim, dessa vez eu me sinto em vantagem. Não que isso seja um jogo, mas de repente até é. Um jogo besta e desnecessário que chamam de amor. Eu preferia que não existisse nenhuma dessas etapas, que a gente amasse sem precisar saber que o nome é amor, que a gente não se preocupasse com todas essas regrinhas, que transasse quando tivesse afim, e, que se algum dia chegasse ao fim, terminasse sem precisar dizer que terminou. Mas ela gosta de complicar tudo e eu absurdamente gosto dela. Pronto,disse. (Então diz pra ela também!). hmm... Não.



"só mesmo sendo um tonto para ter acreditado que te colocando no lugar dela, eu ia esquecer o que restou. Sobras imensas, nem cabe em mim direito. Mario Quintana cansou de dizer que você não só não esquece, como lembra ainda mais. Infelizmente preciso concordar com ele. Gostaria que o fato de ser você quem me afoga de carinhos, de beijinhos e de surpresas bregas de amor, fosse o suficiente para achar que és a mulher da minha vida. Pelo simples fato de me dar tudo que eu gostaria de receber dela, em vão.
Não precisa me agradar assim. Não vai adiantar. Não tem a ver com merecimento, eu mereço sim. Mereço os bombons,o jantar e muito mais. Mas não de você. Vê se me deixa e me poupa da humilhação de te deixar, de inventar mil desculpas por não mais te querer. Lembra daquela vez que eu disse que te amo? Esquece. Me esforcei para que fosse verdade, você é uma pessoa bacana, mas nunca deixei de amar aquela. E por mais que eu tente, tenho a impressão que nunca vou deixar". Pronto, preciso criar coragem e dizer isso para ela, Maria. Preciso ser curto e grosso para não voltar atrás, mas toda vez que eu tento sou abordado de uma forma que me dá um nó bem no centro da garganta e sou envolvido por uma onda gelada de culpa. Sinto um carinho muito grande, ela é maneiríssima,moderna, inteligente, boa de cama e além de tudo, a gente tem muita coisa em comum: Gostamos de sair para os mesmos lugares, temos os mesmos amigos, assistimos aos mesmos filmes e tudo mais. Seria uma burrada deixar tudo pra lá e é por isso que vou levando. De repente, amar de verdade outra mulher não seja o bastante para reconquistá-la ou para viver infeliz por ai sozinho. E eu também sou covarde demais para admitir tudo isso que eu disse acima. Para mim, no fundo tá tudo certo, sempre tá. Se isso é uma crise, vai passar.


Carla Alencar

3 comentários:

Thaís Salomão disse...

deu um nó na minha garganta que até agora eu não consegui desatar...

Clareana Arôxa disse...

nossa!

tarsila disse...

já passou?