terça-feira, julho 23, 2013

Transa

O desejo é maior do que ouvir, cheirar, degustar, tocar, olhar, ter esse disco. 
Queria mesmo era transar com Transa. 





The one II

                                                                                                                                  A Igor

Não lembro com precisão quando decidi isso, mas eu só casaria com alguém que tocasse um instrumento de sopro. De preferência sax, mas qualquer outro já estava dando para o gasto. A verdade é que, apesar de já ter namorado e tido uns affairs com músicos, nenhum deles soprava seus instrumentos e em sendo assim estavam previamente descartados no meu subconsciente. Então comecei a namorar sério, quando digo sério me refiro àquele namoro onde as pessoas medem os dedinhos em outros anéis pra saber o tamanho certinho da aliança, e esse namorado podia ser tudo, inclusive um excelente escritor, mas não tinha nada de músico, a memória sequer permitia que decorasse mais que três frases de uma canção até então desconhecida sem que gastasse uma energia mental e esforço estrondosos. Foi bingo quando aprendeu o refrão de 'cintura fina' e passou uma semana inteira cantando pra mim como quem carregava um troféu na voz. Até que certo dia cheguei em casa e lá estava ele sentado no sofá, propondo com o olhar que tinha uma surpresa e dizendo 'senta aqui junto', enquanto sacava de uma caixinha vermelha uma gaita comprada escondida de mim há algumas semanas. Me faltou o ar e, antes que eu falasse que ele não precisava aprender gaita só porque eu acho bonito, ele me silenciou quando começou a soprar, ansioso, nervoso, contente e cheio de preciosas pausas pra pensar na próxima nota 'Felicidade foi-se embora e a saudade no meu peito ainda mora...'

Nesse instante desbancou todos os músicos quase famosos com quem já me enrosquei e constatei que o The One não precisaria tocar sax ou gaita ou trompete ou flauta, doce ou não. Precisaria me emocionar.

segunda-feira, julho 22, 2013

Fragmentos do fragmento de um todo chamado 'Vamo alí?'


'(...) e no caminho eu pensava: como será que ele é? Será igual àquela foto tão bonita? Não, não deve ser. Havia visto várias fotos e em cada uma eu concluia algo diferente. Eu podia já estar encantada sem nem conhecê-lo ou podia simplesmente acabar com essa ilusão em menos de um minuto, no primeiro contato. Se por um lado eu desejava que ele fosse a foto que eu não gostei, uma voz esquisita e um tênis de correr, por outro eu sonhava com ele daquele jeito que me fez dar um ou dois suspiros. Cheguei. O lugar era charmoso, entrei, sentei no balcão e pedi uma cerveja. Dei um 360 no olhar e logo o ví. Um alívio quase triste me bateu: ele era a pior foto de todas, um sorriso meio pevertido e um olhar que não diz nada, piscou pra mim. Dei um riso na intenção que ele viesse ao meu encontro e se apresentasse. Não aconteceu e persistiu no risinho do outro lado do balcão. E antes que eu esticasse meus lábios no tom mais amarelo que sou capaz de fazer, alguém cutucou meu ombro por trás: 'Carlinha?'. Me virei e um balãozinho imediato surgiu na parte superior esquerda da minha cabeça, escrito em letras garrafais: FUDEU. Ele era muito mais bonito do que a foto mais bonita que eu havia visto. Tinha os olhinhos brilhantes, o cabelo médio oleoso, uma combinação de blusa quadriculada com um agasalho um pouco formal que ficava no limítrofe da jeguice (a coisa mais linda), além de uma voz gostosa de ouvir tanta história e a necessidade que eu olhasse sempre pra cima pra observá-lo existir com seus longos braços que davam forma a tudo, a cada palavra. Saímos pra comprar cerveja traficada.

Dai em diante pouco importava o tênis que ele tava usando (...)'

domingo, julho 21, 2013

Tenderly

                                                                                                                                A Mauricio

-O abraço foi folgado pra você não sentir meu coração disparado. E saí apressado porque tava me sentindo sujinho e fedidinho

-Você tava lindo com blusa surradinha e cabelo oleoso. Quando você entender que eu gosto de você, vai passar a entender que fica bonito de banho tomado e roupinha legal e que fica bonito sujinho e fedidinho também


-Não consigo entender mesmo eu acho
Porque acho você tão linda, ai não bate, sabe? É como se eu não te desse o direito


-Me permitir conhecer o que pra você são fragilidades - o cabelo oleoso, a blusinha surradinha do miles e o coração disparado, só faz eu gostar (ainda) mais de você

-Você é essa música

Pudera eu ser essa música tão bonita, foi o que pensei



Não corre mais do meu abraço por coisas tão pequenas, sentir um coração disparado nunca vai ser pra mim um problema, bastava você sentir como o meu tá agora pra saber.






sábado, julho 20, 2013

Devir

era ontem
hoje não
amanhã
vá saber
do ir e vir 
de cada dia

sexta-feira, julho 19, 2013

Começou

Entro nas lojas Americanas e me deparo com uma fila gigante e atipica para o horário. Música de Deus trilhando meus pensamentos. Na fila, uma garotada alegre com salgadinhos e latinhas de refrigerante nas mãos e acessórios JMJ por todos os lados. "Puta que me pariu, essa merda começou" foi o que pensei em voz enquanto os jovens me olhavam quase metralhando. Sai da loja sem meu diamante negro e sem a chance do perdão on-line do Papa, amém.

quinta-feira, julho 18, 2013

Correos CTA Barcelona


Eu ainda tô tremendo, mas vou escrever tremendo mesmo. Porque se eu não escrever agora, vou ser orgulhosa e não vou escrever nunca mais. Vou dizer algo como obrigada, fiquei contente e passar adiante. Vou escrever porque gosto da capacidade de me surpreender e te digo que, mais do que a surpresa desse envelopinho branco com um selo da Espanha e teu nome todo importante seguido do endereço do pis Joanic mais louco da vida, foi a surpresa que tive em sentir o que eu, ainda ontem, pensei não mais sentir, cheia de um orgulho bobo. Esse rebuliço todo. Essa foto é linda, é linda! O postal é aquele quadro que tirei mil fotos tua na frente e nenhuma prestou, né? Saísse com cara de tanga de sereia em todas elas. Mas aviso logo que revelei, afinal, a gente não precisa sair feito modelo em todas, né? Ainda te digo que esse postal fui eu quem encontrou no La Escocesa e te dei. Te dei não, você, amarrando o cadarço, me pediu quase ordenando quando me viu descobrindo eles: "pega um de cada pra mim!!!". Só não sabíamos que ele voltaria às minhas mãos. A tua letrinha é feia e tremida mas o conteúdo é, pra mim, dos mais preciosos. Senti daqui, oito dias depois de tua partida, o peso que foi dar tchau pra Joanic, pra Mathieu, Laura, Axel, Laia, Marina, Sandra, a galera, os sofás e a mesa da sala, os chapéus das festas de fim de noite, a cozinha de todos, ao teu último andar na geladeira (que você também ocupava o penultimo andar na cara de pau), como deve ter sido pesado usar a manteiga de mathieu escondido pela última vez (hehe) Como foi tirar aquelas blusas penduradas na arara e do varal e guardá-las em uma mala. Guardando as coisas em uma mala como se isso fosse normal. Esvaziar tudo e deixar só aquela cortina azul que tanto gosto. Espero que tenha sido que nem no dia em que eu fiz minha bolsa aí, entre beijos, agarros e uma festa badalada na sala. Entre a mala e o licor de café. Deixar Barcelona é coisa que ainda não sei bem como lidar, por que deixar Barcelona foi te deixar também. Faz pouco tempo que consegui digerir tudo isso, que consegui colocar cada coisa em seu lugar, cada pessoa no seu país, que parei de contar cinco horas à frente pra te imaginar sorrindo e sorrir junto em algum lugar legal. Faz pouco tempo que meu coração parou de bater feito metralhadora ao ver alguma foto tua, ao ler alguma linha tua. Faz pouco tempo. Foi quando você voltou pra Alemanha e então não saber da tua nova rotina foi a maneira que meu coração encontrou de não mais calcular as horas do fuso, pois não fazia mais diferença alguma se fossem nove da noite ou nove da manhã, eu não imaginaria mais nada. Barcelona ficou e você ficou em Barcelona. E agora faz pouco tempo, menos de meia hora, que vejo que vou precisar de mais um tempo pra inventar mais alguma coisa pra enganar o pobre do meu coração. E acreditar novamente nessa nova coisa. Mas, mesmo que eu acredite nessa coisa nova, eu fico com essa tua frase final do postal:

"sei que um dia nos encontraremos"

besito muy grande, brechtinho!




Entra pra ver


Não mudei as certezas de lugar. 

Acho que fui um pouco mais adiante pegando quase todas elas e dissolvendo-as em possibilidades. Entra pra ver, mas deixa as certezas na porta.

A guerra é apenas pra quem quer

É muito maluco isso que a gente tá vivendo. No dia 20 de junho lá estava eu nas redondezas da Prefeitura do Rio tomando bomba de gás lacrimogêneo por todos os lados e ontem, menos de um mês depois, ouvia toda a movimentação de dentro do meu apartamento, de banho tomado, pijama, um copo de água ao lado da cama, um livro nas mãos e a cortina cerrada. (Quase) que como se nada tivesse acontecendo. Ter a opção de escolher se quer ou não estar em uma guerra que acontece do nosso lado é um conceito que ainda não estudei.

Insônia?

Não, dessa vez são os helicopteros de Cabral sobrevoando minha casa como se bandido eu fosse. Peguei meu livro pra puxar o sono como de costume e não vou me render. O barulho das hélices a todo vapor vai ser tão e somente o efeito especial pra dar mais emoção ao Processo de Kafka.

quarta-feira, julho 17, 2013

Problema resolvido

Uma média e um pão na chapa, foi o que pedi naquela noite, na padaria de esquina com o hospital São Lucas. O clima tava tenso, uma noite com mais horas que o normal. Enquanto eu tomava meu lanche em pé e com pressa no balcão, um mocinho varria o chão da padaria freneticamente. Começou a varrer próximo aos meus pés e, como se fosse um jogo, começou a contornar meus pés. Eu tava por demais cansada, tensa e triste pra dar atenção a tamanha falta de tato do rapaz que mais tarde percebi ter sido falta de tato meu, em não reparar que ele tinha algum problema mental. E em pé continuei, engolindo aquele lanche forçado.

- Casa mais eu, casa?
- Oi?? 
- Apôis também num casa com mais ninguém!

O rapaz encerrou o diálogo assim enquanto varria meus dois pés sem piedade.

Ele mal sabia que tava resolvendo pra mim uma questão. Pronto, não caso mais!

terça-feira, julho 16, 2013

Os próximos amores


A Igor


É fundo. É muito
É muito fundo 
Cava até a pontinha do último dedo do pé 
e depois continua a percorrer 
por caminhos que não conheço


Os próximos amores poderão ter os cabelos escuros e grisalhos, mas nunca com caspas pra eu arrancar uma por uma cuidadosamente

Poderão adorar minha comida, mas nunca mentir que é a melhor do mundo

Os próximos amores poderão morar em rua com nome bonito, mas que não cheire a dama da noite

Poderão acordar de mãos dadas comigo e com sede de sexo, mas nunca com fome de pão na chapa

Os próximos amores poderão ter problema nos joelhos, mas nunca dizer que 'hoje dei um tranco'. A questão não é machucar o joelho hoje, a questão é usar a palavra tranco

Poderão quebrar o dedo e ficar com a mão que escreve imobilizada por muito tempo, mas não deverão me escrever uma carta de duas páginas com a outra mão (a que não escreve) de maneira impecável como prova de amor

E, sobretudo, os próximos amores poderão e preferencialmente terão os olhos ou o sorriso infantis. Mas nunca - eu disse nunca - poderão ter os dois ao mesmo tempo. Olhos apertadinhos e brilhantes e sorriso com dentes graúdos e em estado de graça, em estado de semente. Olhos e sorrisos conversando em uma linguagem que não passa das vogais por extrapolarem na linguagem do amor. Não poderão ser assim, pois se por acaso vierem a ser, correrão um risco imenso de ser um amor feito aquele

Feito aquele, sim, só que menor




segunda-feira, julho 15, 2013

Das memórias afetivas - Cartas



Fazer uma mudança, além do novo tão óbvio, também é se encontrar com o passado. Com o que fomos e com o que somos graças àquilo tudo, à toda essa bagagem. Dentre todas as coisas que guardo, minhas cartas são as mais preciosas. Guardo-as com todo amor do mundo. Elas têm o mesmo nível de valor das minhas fotografias, na verdade elas são fotografias em forma de voz, mesmo as vozes que a gente já não ouve há tanto tempo e sequer lembra do timbre, mas ela tá alí, registrada em linhas tão íntimas, certas, reais. Agora, agorinha mesmo, enquanto escrevo esse texto, estou entre caixas de papelão, fita cor parda, livros e cartas. E, ao embalar essas coisas, acabei não resistindo e lendo-as mais uma vez na vida - não sei quantas vezes já vivenciamos esse momento, eu e elas, mas foi gostoso poder rever que o amor muda, se transforma mesmo, mas que fica eternizado alí. E como é bom mergulhar nessa nostalgia vez por outra. Pra casa nova eu quero deixar todas as quinquilharias pra trás. Qualquer coisa que pese demais na bagagem. Que não acrescente. Abro mão de tudo, mais uma vez. Apesar de nem ter mais tanta coisa, eu abro mão das roupas e sapatos que não uso faz tempo, de uns acessórios bobos e levo apenas meus livros, discos, fotografias, a coleção de areia e, claro, minhas cartas. 

Abaixo, um bilhetinho bonito do meu amigo Thales. De um amor que já mudou tantas vezes mas que, de alguma maneira, continua a existir.

"Você é encontro com alguém e comigo, na busca por te encontrar completa - com o mais de seis e o escambau que gente assim funda carrega no mistério. Não sei bem dizer o que esse encontro fez explodir na minha vida e na não-vida, mas posso afirmar que trombar com você é coisa que toma de assalto uma existência. Te amo sempre, mas sempre te odeio antes e depois."

Batom vermelho



Não é pra qualquer mulher
qualquer lábio 
qualquer dia 

Do que vale uma boca carmim 
e o espirito não?

domingo, julho 14, 2013

"Carlinha quer fazer carreira solo!"

- Carlinha já fez todo tipo de dança, dança de tudo essa menina! (é o que costumo ouvir)
- Mentira, eu nunca fiz dança de salão. E o tango só foi um mês, não conta (é o que costumo responder)
- Tu que tas mentindo, você vivia se amostrando e dando show na Cubana da Bela Vista. (é o que costumo ouvir)
- Sim, uma coisa é uma coisa. Outra coisa é outra coisa. (é o que costumo responder)

Mas quando me perguntam o motivo de eu não fazer dança de salão, eu sempre esqueço! Ai hoje, ao ouvir "Carlinha quer fazer carreira solo" em uma aula de salsa e bachata, quando dei continuidade em um passo antes de receber o comando, me lembrei: Salto alto é o inimigo que se mostra primeiro. Mas o principal e mais feroz é o parceiro. A expressão "A dama tem que ser conduzida pelo cavalheiro" me deixa de cabelo em pé. É dependência demais pra mim. Ser conduzida por alguém. Respira fundo e vai. 
Vou me esforçar, ao menos na dança.



sábado, julho 13, 2013

Clapton song


Quando uma música (já bem gasta) deixa de ser 4`35 de entretenimento e passa a contar uma história (bem bonita) e maior que 4`35.




sexta-feira, julho 12, 2013

history of my life

Fui alí fazer uma coisa mas acabei fazendo outra(s). Qual era a coisa inicial mesmo?

quinta-feira, julho 11, 2013

Além de delinquente é mal educada


Foi o que o moço do taxi pensou de mim. Primeiro entro no carro dizendo pra minha mãe que não sei se serei capaz de perdoá-la por ter me impedido de sair da loja com o carrinho de compras sendo empurrado os seis quarteirões até em casa. E, depois dela muito relutar em defesa própria, acabou caindo em tentação, pra desespero do motorista que devia ser de Deus - É, se bem que umas plantinhas alí dentro iam ficar lindas, né...  -Mas moça, como a senhora ainda influencia essas ideias na cabeça da menina? isso é roubo, um negócio que não é seu, ilegal, sei que lá, meia hora de sermão e de cara de bunda da minha mãe e de um descontrole emocional meu - não conseguia segurar o riso. Depois do discurso, respirei fundo e, nesse instante ingrato, um catarro daqueles desceu guela abaixo com aquele barulho estrondoso que a garganta faz nesses casos, barulho molhado. Barulho quase sólido e amarelado que a gente costuma ouvir nos botequins pega bêbo do Rio de Janeiro, daqueles homens só de bermuda meio sujinha, com um pé descansado na altura um pouco mais pra cima do joelho, enquanto o chinelo aguarda no chão. - Agora já era, foi o que pensei enquanto minha mãe, roxa de vergonha, escondia meu rosto contra seu peito. O motorista não conseguiu segurar e deu uma gaitada e eu, me perdoem caros, engoli o catarro, já que cuspir pela janela seria (ainda) mais bizarro. Pois é, provavelmente serei assunto do jantar daquele rapaz: uma menina delinquente, mal educada e injuriada por não ter aquele carrinho de compras (liiindo) agora, em casa, prazer.

Decidi, decidido



Decidi que não vou (mais) machucar meu coração com pontadinha por coisa pequena, ou ao menos menor que eu.
Decidi que pontadinha nessa região é incômoda, pois se espalha até a garganta e depois volta rasgando bem lentamente, feito veneno, um veneno que não quero tomar.

Decidi que, pontadinha, só de cólica ou gases. Decidi, decidido está. 




quarta-feira, julho 10, 2013

aquele corpo

Reconhecer o corpo enrolado naquele lençol branco com fita crepe foi, de longe, a coisa mais deprimente que fiz na vida. meu avô já não tava alí. podia ser qualquer outro. só um corpo abatido empacotado por inteiro em um lençol branco amarrado com fita crepe das grossas. podia ser meu avô, fiscal da receita federal e seus 20 mil reais mensais que vão bancar aquela vagabunda ou podia ser o moço que dorme em frente ao hospital, no chão frio. frio feito o corpo do meu avô. que podia ser o corpo de qualquer outro. mas era o dele. e, naquele hospital, naquela sala tão sem ar, não poderia ser qualquer outro pra reconhecer aquele corpo que não fosse eu, aquele corpo feito de carne - quase podre. a carne é podre, rasa. a alma é vasta. amém.

terça-feira, julho 09, 2013

duas linhas e toda a nossa paciência

E ainda tem gente que me pergunta o motivo de eu ter gostado tanto dessa tal de Europa. 

segunda-feira, julho 08, 2013

talvez migrar


Se algum dia alguém me mostrar algo mais cafona coração que o amor, eu deixo o amor de lado pra escrever sobre essa outra mesma coisa.

meus 20 anos de boy, that`s over, baby!

Observo que a idade ta chegando quando, no lugar de acordar com uma ressaca de uma garrafa de uísque pra dois, acordo doente. é a segunda vez que procede assim. deve ser um sinal. não. deve mesmo ser um fato.

sexta-feira, julho 05, 2013

doisemum

Fotógrafo é aquele que enxerga moldura em cenas do cotidiano que outras pessoas não veem

Poeta é aquele que escreve sobre isso


Guga Pimentel emoldurando com classe

nova moda

Olha a empada, olha a empaaaaada!

- buenas tardes, chica!
- boa tarde!
- ué, você fala português?
- sim, sou daqui, rapaz
- nem parece...
- por que não?
- esse amarrado no cabelo e também... que a moça ai ta de calcinha, né???? isso é coisa de gringo.

- eita! é que eu vim de última hora
- aiai se essa moda pega....

confissão


passo protetor solar com objetivo primeiro de sentir o cheiro

quinta-feira, julho 04, 2013

blueful



the blue has gone ...
... the blue is coming

i'm blue, i'm blue. can you catch me, baby? i'm blue. i'm blueful.

my beatles song

De alguma maneira que acho que nunca vou e nem pretendo explicar, for no one sempre ganha com um espaço absurdo de distância! Melodia, letra, sensações.




quarta-feira, julho 03, 2013

maratonista

Pensei que se eu corresse o mais rápido que pudesse, poderia escapar de mim por alguns instantes e escapar de mim seria uma maneira de escapar de você. Até me alcançar novamente, eu e o eu que corre atrás de mim, juntos e renovados. Corri Copacabana inteira, mas acho que não corri rápido o suficiente. 

à vida

Até hoje eu nunca havia doado sangue. Motivo não me faltava: o peso pena, a anemia, o fato de sempre passar muito mal quando tiro sangue (que dirá uma bolsa de 450 ml) e, por mais vergonhoso que pareça, preciso ser sincera: sei que mesmo que se tivesse o peso e o sangue forte, provavelmente não teria doado por medo, por não ver alguém meu precisando ou pelo dia tá mais bonito pra praia do que pra um consultório médico. Mas era mais confortável dizer que não podia doar por pesar 49 quilos e isso tirava toda a culpa. Hoje o quadro mudou. Meu avô tá internado faz mais de um mês e até agora já usou 68 bolsas de sangue. Sei que ele não vai deixar de receber um sanguezinho bom caso a gente não consiga a quantidade (grande) de doadores que o hospital pede. Mas a consciência bateu pesado, 68 bolsas? Caramba, tem que doar. Todo mundo tem que doar! Como assim as pessoas não fazem desse ato de dez minutos uma rotina de 3 em 3 meses? E, enquanto me perguntava isso, me sentia um ser menor que aquela bolsa transparente sendo preenchida pelo meu líquido vermelho: até hoje eu era parte desse todo mundo. Deixei o medo em casa, aproveitei os dois quilos que angariei em 3 meses de viagem e fui. As médicas me pesaram e, ao verem meus 50.4 falaram que era melhor não. Que 0.4 era só de roupa e que 50 cravado podia ser arriscado, que eu quase não tinha veia (???) e que eu podia passar mal. "Moça, se passar mal, passou, ó minha cara de preocupada com isso", foi o que disse enquanto ela ria e concordava finalizando com um "Tudo bem, a gente tira o mínimo que dá pra aproveitar, que é 360 ml, tá certo?" "tá certo". E, entre um assunto e outro, sotaques, Recife, carnaval, Arrail d'ajuda, emprego, namoro, minha bolsa foi enchendo lentamente. "Seu fluxo tá tão baixo, 20 ml por minuto. Abre e fecha as mãos!" Tonteira. "Mais uma vez." melhorou. "Eita, agora tá ótimo! 45 ml por minuto. Faltam apenas 70 ml." "Coloca o resto, moça, preenche essa bolsinha toda". "seu peso só permite no máximo 400" "manda bala" "meniiina..." "vai, moça, oxe!" "oxe haha ok". Bolsa quase toda preenchida, soro na veia, veia que não aguentou todo o soro, ardor, algodão, gelo, "até logo". "até daqui a três meses!" "Alí tem um lanche gostoso." "Obrigada!"

E aquele suco de laranja desceu com o mesmo sentimento de quando bebemos aquela cerveja estupidamente gelada em uma sexta à noite quando não temos nada de específico pra brindar e simplesmente brindamos a vida! à vida, cheers!   

segunda-feira, julho 01, 2013

irremediável

O fim da tarde chega e a melancolia se deita na minha janela em cor laranja, rosa, azul petróleo, cinza e, por fim, vai embora tingindo um escuro quase negro. Na maioria das vezes eu não tô aqui pra ver, mas a melancolia se debruça em minha janela entre cinco e seis da tarde. Mesmo quando chove ou o leque de cores é reduzido, ela vem. Todos os dias.

olhos solares

(...) me disparo a falar e quando vejo, não vejo mais nada. Fico cega de minha própria luz. É que meus olhos viram dois faróis incandescentes que se movimentam em rotação e translação quando o assunto é você. 

domingo, junho 30, 2013

pedido

meu coração pede sossego
um bocadinho de tédio nos sentires
precisa descansar

esvaziar pra poder preencher 

talvez só esvaziar

(é mais difícil colocar ou retirar sensações do peito?)

sexta-feira, junho 28, 2013

memoria de la cabeza x memoria del corazón

                                                                                                                               A Brecht

Terei esquecido esse negocinho que ainda insiste em acender, esquecido assim - à vera -  quando parar de uma vez por todas de, vez em quando, calcular que horas são aí só pelo prazer de te imaginar cinco horas à frente em algum lugar que gosto. E ver teu sorriso. E sorrir junto.  

Então restará 'apenas' as fotografias cheirosas em um álbum que, depois de um tempo, ficará dentro do movelzinho branco que pintei muito tempo atrás uma árvore e uma frase de Carlos Pena Filho. E então colocarei um monte de coisas em cima - do álbum e do meu coração. Do meu coração porque na verdade a minha vontade é deixar o álbum em cima da mesinha da sala ou do quarto, pra quem chegar em casa ver. E eu contar tudo de novo e meus olhos acenderem mais uma vez. mais uma vez. mais uma vez. mais uma vez. Até que as visitas se repitam e eu não precise mais re-falar. E aí sim eu poderei guardar o álbum no móvel pintado de árvore e Carlos P. Filho.

Mas antes, veja bem, preciso falhar nas contas das horas, revelar as fotos, transcrever os poemas e cartas no álbum, cheirar cada fotografia - e sentir o cheiro - dar uma choradinha de leve - ou nem tão leve assim, vá saber - deixar o álbum na mesa, correr o risco de rever algumas vezes, dipois guardar o álbum lá dentro do movelzinho branco que pintei uma árvore blá blá blá e, por fim,  arrumar umas quinquilharias pra pôr em cima dele. 

Bem que a ordem do processo podia ser de trás pra frente. 

Arrumar umas quinquilharias me parece o mais fácil!


quarta-feira, junho 26, 2013

6 am

a leleo


- Carlinha?!
- Oi! 
- Aceita o fim!

Eu costumo aceitar numa boa o fim de muita coisa - do salario do mês, de uma viagem, de um romance, de uma refeição gostosa, o fim do calor. Mas pra mim, algumas vezes é difícil demais aceitar o fim de uma noite.

Varal

Quando menina, entre uma brincadeira e outra na grama fria de Aldeia, eu ficava contente na hora que dona moça pendurava as roupas no varal à tardinha. Atravessava os varais correndo, dançando ou andando e todas as vezes com o rosto passando pelas roupas úmidas. Afogava o rosto e parte de meu corpo miúdo principalmente nos lençóis e cheirava bem fundo, era tão bom! Depois de tantos anos, mais de 15, fiz isso novamente. Cruzei o varal andando devagar, refresquei a face e cheirei, voltou tudo por alguns segundos. O mesmo varal, no mesmo lugar, apenas roupas de outras pessoas. O cheiro continua o mesmo, cheiro fresco.
-
Apenas hoje me dei conta de uma coisa tão antiga em mim -  sou invadida por uma felicidade quase que infantil quando cheiro profundo as coisas que gosto. 

segunda-feira, junho 24, 2013

Contagioso

Smartphone é feito bocejo. Em uma festa, na mesa de bar, no jardim ou no sofá - o primeiro pega e todo mundo pega junto.

Eu sempre sobro. O jeito é buscar mais uma cerveja!

quinta-feira, junho 20, 2013

Anamaria Teixeira Carvalho

Há pouco conheci Anamaria. Ela tava sentada na mesa ao lado da minha e, enquanto todos assistiam ao jogo de futebol, nós duas nos olhávamos. Eu olhava mais, também pudera, com aquela rosa enorme azulada no lado direito dos cabelos escorridos e aquele rosto tão firme, não tinha como não admirá-la. Dei um sorriso, puxei uma conversa, pedi uma fotografia: ganhei. Uma fotografia linda de sua imagem intrigante. 

Anamaria foi modelo fora do Brasil, fala mais de quatro línguas, tem uma voz afinadíssima e era considerada uma das mulheres mais bonitas de Ipanema na década de 60 (e também uma das mais ricas), nessa mesma época casou-se com o compositor Marcos Valle e tempos depois levou um pé na bunda daqueles. Há quem diga que enlouqueceu de amor. Há quem diga que foram as drogas. Eu não sei, talvez nem ela mesmo saiba. Hoje em dia é popularmente conhecida como A louca de Ipanema,  vive perambulando pelas ruas do bairro e pela areia da praia com seu biquini branco, o celular imaginário, a flor na cabeça e um carrinho de compras carregado de sacolas vazias brancas e azuis.




musa dos anos 60 da praia de Ipanema


Hoje essa mulher me deu o prazer de uma conversa leve, sorriu pra mim e falou que o cigarro não tava fazendo fumacinha bonita pra foto por conta do vento. 

Abaixo o retrato que tirei e a música Os Grilos, composta pra ela por Marcos Valle. A versão inglês se chama 'crickets sing for anamaria' com participação dela. 


https://www.flickr.com/photos/carla_alencar/9088684565/

Em 2011 o jornalista Chico Canindé lançou o documentário 'Anamaria - A mulher de Branco de Ipanema'. Até agora encontrei apenas trechos na internet, mas só sossego quando tiver esse vídeo em mãos. 

Agora estou tão excitada com tudo isso que, apesar de cansada, não consigo dormir. Já passeei pela alegria de tê-la conhecido até a angustia por sua história, triste. É incrível como existe um mundo gigante fora do nosso. E esse tava ali, do meu ladinho, esperando apenas que eu batesse à porta.

 

quarta-feira, junho 19, 2013

Pra quando passar

Vai ter um dia 
Em que eu e você
Não passaremos de poeira

Mas calma
Não se apresse
Hoje temos a vida inteira

Ficar triste é tão banal
Mau
Ficar triste é comer pão
É logo alí
É ir na beira
Que besteira

Larga disso
Vem comigo, com a gente
Que ainda tem a quarta
A quinta, a feira, a vida
As contas, os casos, os amigos
Os fracassos

Que ainda tem alegria

terça-feira, junho 18, 2013

a gente cresce, o mundo também


Quando criança, pouco importava a nacionalidade daquela gente que falava uma língua esquisita, usava chapéu e se mantinha passeando com uma câmera pendurada no pescoço. Se eram espanhóis, árabes, franceses, russos, nigerianos ou israelenses. 

Pra mim, todos eles eram americanos ou, no máximo (se houvesse um olhinho mais puxado), japoneses. 

Ruas lindas, ruas cheias

"Ainda vão me matar numa rua.
Quando descobrirem,
principalmente,
que faço parte dessa gente
que pensa que a rua
é a parte principal da cidade"


Leminski


Quinta-feira tem mais, muito mais gente na rua!

segunda-feira, junho 17, 2013

domingo no Aterro







- o que é um piquenique?
- quando chegar lá você vai ver!

na volta


- agora eu sei o que é um piquenique

- e o que é?
é um lanchinho divertido!



<3

A Quadrilha de Drummond

Explicação poética pra cadeia alimentar.

surreal

a verdade é que eu tô muito beba. nem é tão gtarde da madrugada e ainda assim eu deveria chegar em casa,. pegar a coberta, jogar em cima de meu corpo quente de sol de dia inteiro e dormir. mas não vou fazer isso. foda-se, preciso conta o que me aconteceu, nao é todo dia que a pessoa é quase infeliz ao máximo pra sempore e ao mesmo tempo tem a maior felicidade do planeta terra. passei um fim de tarde e inicion de noite em uma felicidade que eu nem esperava pra um dia de hoje. uma coisa abusruda de linda. uma coisa,. que nem esperava e pronto. meu pai, meus irmaos, minhas amigas, leleo e seu povo, mau. mau!! veja bem, qe grave. as pessoas que determinam que o domingo precisa morrer moram embora enquanto as outras ficaram com um casco de original a mais na mão. ficaram, ficamos. "leleo, depois dessa cachaça eu quero é festa", foi o que disse enquanto seus olhos brilhantes sorriam nos meus. fudeu. fudeu mesmo. a questão é quie to a linhas tentando contar o ocorrido e não falo. fim de noite, depois de horas, danças, piadas, conversas, risos e instante máximo de noite de domingo nós vamos embora. já na lapa, percebo que minha bolsa com a câmera (somente) ficou no bar. MEU DEUS. QUE VACULO. PQP. TO MUITO TRISTE VOU VOLTAR.  a essa hora todos ja estavam em casa me monitorando pelo celular. voltei no bar tendo a certeza que isso seria um batismo tristonho de minha volta para o rio. no caminho de volta no taxi eu pensava: o que sera de mim nessa cidade sem minha camera? isso pesou tão mais do que eu pensava... antes dessa necessidade de pensamento isso nem existia e nesse instante a minha câmera passou a ser minha melhor amiga, que me traía nesse instante de não, de perdeu, menina... de procura outra coisa pra viver nessa cidade, nessa vida. tão grave. pensei em chorar. o taxista me disse que poderia estar lá. e creia. ESTAVA. chorei, quase gozei naquele sofá de fim de noite, sozinha. nunca vi um fim de noite tão bonito. nesse instante eu pretendia pagar 137 reais de taxi, afinal, o que sao 137 reais perto de todo meu aperreio e do moço que foi tão bacana em dizer que minha bolsa - que ele nem sabia do que se tratava - taria no mesmo canto com a minha câmera e minha cinquientinha querida????

Entrei de volta no taxi sorrindo de um modo infantil e falei - segue copacabana. 433 é o caralho. vou de taxi, eu mreceço. e ele falou, te deixo lá. e eu falei, sim. rodolfo dantas, proximo a cardeak arcoverde, vamos lá. não, te deixo lá de graça. não moço, já voltamos da lapa e estamo inso pra copa, vamos lá, corrida normal. não, eu te deixo lá, tranquilo, passarei esse caminho de todo modo. não moço, eu pago, oxe. não, não precisa. desespero. mensagem pras meninas. e enquanto mau manda mensagem dizendo que coisa linda sou eu, eu respondo dizendo que to desesperada. fica de olho. santa teresa- copacabana de taxi de graça. quero não. desespero. medo.  fudeu. fica de olho. a noite foi tão boa. quase perdi a câmera, recuperei.

Tensa. tensa pra caralho. mensagem das amigas. mensagem do colega. minto attendendo o celular falando com voce e concordando que sei que meu celular é rastreaado como se isso fosse uma bobagem tao comum nos nossos celulares espertos de gente rica (???????). 

Resultado?

noite do caralho. câmera em mâos. Taxi de graça e essa história pra contar. beijos,.

sábado, junho 15, 2013

madrugada de sexta

memória das amigas
(eu sempre desconfio)

Taxista - moça, cuidado pra não derrubar o copo no carro
Eu - não há de quê

Taxi inteiro rindo

sexta-feira, junho 14, 2013

Através




à Maria

Ontem eu te vi me vendo por dentro e acompanhando com ar de surpresa cada palavra que eu falava. Palavras molhadas de cerveja. Ao menos já não são mais de lágrimas. E o que mais me impressionou foi a constatação de que você, minha amiga próxima há longos dez anos, desacreditava até ontem em minha capacidade de ser humana a ponto de sofrer. Era como se isso não fosse possível comigo, 'com calinha não', ou ao menos não desse jeito, com essa maturidade no ato de sentir, dor. Confusa (admitindo a confusão) e em carne viva. Viva! 

'Nunca te vi falando assim', foi o que você me disse com palavras e esses seus olhos enormes. E, ao mesmo tempo que te ví surpresa, te ví também contente. Parece que pela primeira vez nos encontramos nesse ponto máximo da vida e finalmente pra mim sofrer podia ser uma coisa natural. Como é pra você, como é para as pessoas que a gente conhece e também para as desconhecidas. 

Na verdade me espanta o teu espanto. Passei o dia pensando sobre isso. Eu tenho 25 anos e já passei por tanto nessa vida, tristezas profundas, traumas, perdas irremediáveis e você, que sabe minha história de cor e que dela poderia sair um filme cheio de lágrimas, duvidasse de minha capacidade de sentir vazios. Por que? Já me visse triste várias vezes. Já choramos juntas outras tantas. Mas parece que ontem foi mais real, né? Eu sai da condição de suporte, daquela que sempre tem os conselhos mais sábios, desapegados e leves para ser o outro lado, o lado por igual. Eu não sou de aço e apesar de levar a vida da maneira mais leve que se é possível, com esse otimismo que você admira tanto, eu ainda sou feita de carne, osso, coração e um bocado de músculos involuntários que eu sequer sei os nomes. Alguém que também sente necessidade de tanta coisa, inclusive desse vácuo. Por mais absurdo que pareça, também sei arredar, parar, acalmar e, quem diria, aceitar. Aceitar esse negócio estupendo, solúvel e volúvel que é a vida. Assim, da maneira como ela é e se mostra a cada nuance. 

Não reclamo mais, miro e sou alvo dela. A cada tiro, a cada queda. Levanto. E cá estou, contente da vida por ter te mostrado isso no alto dos nossos 10 anos de amizade. Quem sabe agora não podemos caminhar (ainda) mais próximas? Eu também sei sofrer, tas vendo? Você que nunca viu. Ou eu que nunca mostrei. Um a zero pra gente.

Toma o teu, otário!

Voltando da praia, canga transformada em vestido que amarra no pescoço só pra lembrar que a década de 90 existiu. Moço passa com uma bicicleta enorme de carga perguntando se quero namorar com ele. Você é linda. Morena delícia. Pedalando lentamente e olhando pra trás. E, enquanto eu desejava sua morte - lenta - ele, ainda virado em minha direção, bate no muro lateral do Copacabana Palace. Bicicleta de um lado, homem do outro. E você é feio, muito feio. Foi o que eu disse de boca cheia enquanto ele levantava amoado e envergonhado. Toma o teu, otário! Gritou o rapaz que carregava uma quantidade gigante de rosas pra dentro daquele hotel de luxo.

quinta-feira, junho 13, 2013

Dia dos namorados

                                                                                                                                   A Jorge

ou `DnR: Discussão de não-Relacionamento` titulo sugerido por Bruno Abdon.

Quando percebi a emboscada que topei me meter, já era um pouco tarde pra desistir.

- olha, não é um pouco irônico esclarecer detalhes do fim de um ex futuro namoro justo no dia dos namorados?

-Ih, cara... Eu nem tinha me atentado pra isso. Mas é que amanhã eu tenho um evento e sexta eu viajo.

uma hora de conversa sobre qualquer coisa, como sempre acontece quando pessoas têm um assunto a tratar e a prévia se torna mais longa que o ponto em sí. Silêncio. Olhares que esperam uma palavra. A palavra que não é dita. Pergunta você, é o que penso, já que ele quem sugeriu a conversa. Estou esperando você me falar alguma coisa, é o que ele pensa, já que eu decidi tudo tão depressa e sem uma consistência esperada. Não estar mais gostando tanto assim não é motivo suficiente. É sim. Não é. Mais silêncio. Uma palavra que leva a outra. Uma espera. Uma pergunta, uma resposta. Um princípio de raiva. Uma lágrima, várias. Você devia isso. Você que não devia. Pausa. Não vamos brigar. Não vamos. Você é especial. Você também. Eu te amo. Silêncio. Um abraço forte. Outro. Valeu a pena. Sim. Estou com sede. Eu também. Um chopp da Devassa? Por que não? Dois chopps, por favor. Mesa com vela, casais se declarando, você na minha frente, garçom com dois chopps: ruiva pra você, sarará pra mim. 

-Garçom, ex futuros namorados têm desconto? 
- Não, minha filha. Deveria pagar até mais por ocupar uma mesa. 
- Ok. 

Risos. Outros risos. Olhar. Desvio. Silêncio. Um assunto qualquer. Vou embora. Te deixo no ponto de ônibus. Fui pra casa. Você também. Cada um pra sua casa. A vida é uma loucura.

quarta-feira, junho 12, 2013

Mind the gap

Mais perdida que qualquer objeto caído no vão entre o trem e a plataforma.

terça-feira, junho 11, 2013

Em aberto

Pensei que os objetos poderiam, de repente, ter vida própria. Imagina você acordar atrasado por que seu celular/despertador foi dar uma volta nas ramblas ao invés de tocar aquela sinfonia calma próximo às sete da manhã? Na hora H com a gatinha a sua camisinha estar no quarto do compañero? Os tomates e temperos na varanda. O guarda-chuva na farmácia da rua de baixo. A sunga no armário de Marina ou Sandra. As chaves da corrente da bike na biblioteca da faculdade, entre psicanalistas e economistas. Mas, claro, haveria de ter uma ordem. Os objetos poderiam ficar sumidos por até uma hora e só teriam serventia para o próprio dono, de modo que não adianta um engraçadinho cruzar com sua calça listrada de estimação pela Plaza del Sol e querer dar o ganho - não. E também que essa nova onda de vida própria aos objetos não estaria valendo para artigos públicos, como semáforos e lixeiras. Nos questionamos se esse novo mundo teria algum beneficio pra nós, seres humanos, e chegamos a conclusão de que seria o verdadeiro caos e que as pessoas teriam que trabalhar em cima da tolerância e da paciência. O que não decidimos, pois já estavámos chegando em casa - famintos e  molhados de uma chuva de dia inteiro - foi se seria possível uma relação de brodagem e negociação com os objetos. 'Bro, não sai de casa entre tal e tal hora não que vou precisar de tu, visse?' É, isso ficou em aberto.

sábado, junho 08, 2013

Paissandu

É a primeira vez em muito tempo que volto nessa rua, rua essa que sempre me levou até você. 'tô descendo do ônibus, já chego!' 'tá, eu te encontro no meio do caminho!' era o que você, ansioso que só, sempre fazia mesmo sabendo que passaríamos a noite inteira juntos. E fazia não por algum motivo decretado como perigo ou frescura, mas pelo prazer de estar quinze ou dezesseis minutos a mais comigo. E passávamos no mercado, cervejinha diferente, ingredientes para o jantar, parmesão, vinho, tomate italiano, chocolate do frade.

Dessa vez eu não ia ao seu encontro. Eu não estava voltando do trabalho. Não ia ter mercado, beijos e vinhos. 

A Paissandu é ainda tão bonita, mas com um sentido meio perdido. Me senti estranha a cada passo, como se não fosse de direito meu caminhar por ela agora, um guarda com caderneta em mãos pra me multar. 

Não consigo redesenhá-la com outro cheiro, outro gosto, outra vivência. E nem quero. Essa rua, depois de tantos meses, continua sendo a que me leva até você, mesmo que você não esteja lá. Mesmo que eu não queira ir. Mesmo que. Essa rua não carece de outro significado se ela já é carregada de tanta lembrança que eu, à época, nem prestava atenção.

MARIA MÃE DE DEUS e toda sua falta de nexo continua escrita em tinta branca naquela árvore. Mais desconexo do que isso, somente não te ver no meio ou fim desse caminho. Mas te encontrar no final da rua, isso sim seria coisa maluca. E foi.

Temperado

Não tem jeito. A hoje quando leio ou escuto "vidro temperado", de pronto eu vejo a noz moscada, pimenta do reino, orégano, sal, azeite e tomilho transformando aquele material cortante em um verdadeiro banquete.

quinta-feira, junho 06, 2013

Não confundir mobilidade com modinha

Faz algum tempo que o grande barato dos recifenses aos domingos é passear de bike pela ciclofaixa e, no fim do dia, postarem em suas redes sociais como isso é bacana, fotinhos da magrela, capacete, lancheira e uma caralhada de coisas típicas de quem passeia de bicicleta e não de quem anda. Não estou reclamando da iniciativa na cidade e muito menos da empolgação das pessoas, mas o que deveria ser levado como um movimento sério de mobilidade, acaba virando mais um entretenimento para as famílias cansadas do tédio dominical e para casais que querem ser saudáveis, nem que seja aos domingos. 

Não quero entrar no fato de que grande parte de meus amigos que estão nessa onda nem sabem que é necessário pedalar na mesma mão dos carros (algo tão elementar) e quando eu falo isso ainda acham que é frescura. 

Não quero falar sobre iluminação e segurança nas vias, no caso, na não segurança.

Não quero entrar nas questões que considero importantes a serem inseridas no contexto bike-recife antes de meterem uma ciclofaixa pra muitas pessoas que (ainda) não foram educadas pra lidar com ela - principalmente os motoristas de carro.

Não entro nesse debate simplesmente por saber que se é iniciativa, precisa começar de algum ponto. E quem sou eu pra dizer que ponto certo seria este. Apesar de achar que já começaram na metade de um processo.

Mas uma coisa não tem como não colocar em xeque: Enquanto os numerosos carros dos meus amigos continuarem transitando pela cidade durante  toda a semana e ficando na garagem apenas aos domingos enquanto eles (agora atletas) pegam a bicicleta emprestada do vizinho (ou aquela que acabaram de comprar ou ainda a que estava encostada no quartinho dos fundos) pra dar um rolé pelo Recife Antigo nesse dia ensolarado, a mobilidade vai continuar sendo modinha.

Mau

Pensava que meu blog nunca pudesse receber esse texto. E ainda estou um pouco sem jeito de como escrevê-lo, com medo de cair, mesmo sabendo que não, no nosso antigo vício de 8 e 8.000. É que foi tão leve que nem parecia você. Nem parecia eu. E o problema - sabemos - nunca foi cada um de nós, mas sim essa mistura ariana demais. Ao menos não culpo mais os astros, apenas menciono. 

Nem sei quantas vezes tentamos, em vão, qualquer coisa parecida com isso, esse negócio que ainda não sei nomear. Sei que vem depois de entendimento e antes de cumplicidade. É parecido com quase vontade mas não é, vontade tem. Acho que esse troço não tem nome por ainda estar se formando. Criando corpo, roupagens e pernas pra andar com os próprios pés, sem os nossos pra atropelar tudo, todos, a gente.


O que sei é que quando eu ía você corria tão depressa... Quando você finalmente vinha eu estava no outro quarteirão impondo entre nós uma muralha maior que a da China. Foi preciso um problema teu e meses de distância geográfica pra esse abraço? Não sei, o motivo não me parece fazer diferença alguma. A diferença tá no abraço. Não falo do abraço ato de quatro braços em comunhão se enroscando, pois sempre fomos bons nisso, mas falo de todo o entorno que esse abraço bem apertado pode envolver. O antes e o depois. O abraço no chão gelado de Santa Teresa com cheiro de Raica gordinha e silenciosa entre nós, recebendo e dando todo o carinho do mundo com sua linguinha de presunto.


'Queria tanto ficar te abraçando e te dando carinho', foi o que você me disse.


Quem sabe agora, depois de tudo, depois de todos, depois da gente, a gente não possa ser amigos. 
Quem sabe a gente não possa apenas ser.

terça-feira, junho 04, 2013

The one




Enquanto não vens
sigo o caminho torto
de tanta gente
e ninguéns

segunda-feira, junho 03, 2013

Quando um botão decide a vida. Ou a morte.

                                                                                                                                     A vôvô

A velhice é a voz da experiência, um óculos redondo com olhinhos apertados por detrás e uma carinha fofa, apertável. 

Mentira. Tudo mentira. 


Quem pensa isso decerto nunca viu a velhice de perto, sem vestimentas, literalmente. A velhice não é bonita. Ela é degradante, deprimente e fedorente. Ela fede a mijo e pede pra não existir a cada reação. A velhice treme, teme, escorrega e se caga, toda. A velhice te faz velho demais pra querer ajuda e muito criança pra não aceitá-la. A velhice é uma droga forte e pesada. Palavras vazias, soltas. Velhice é uma cabeça que eu não tenho a mínima ideia de como funciona. São horas que demoram dias pra passar. Um quarto com quatro paredes. Um lençol sempre por trocar. São ferros por todo o banheiro. Velhice é não querer comer com a mão dos outros. Não querer mais falar um assunto desconexo. É ter uma eterna preguiça. Velhice, aquela já bem velha, é um olhar vago, vesgo. Um olhar que não vê. Um engasgo, um fiapo, um fardo enfadado. Velhice é aquele dia que tá sempre bem longe pra nós, jovens, e que mora no agora do meu avô. Velhice é tirarem o seu bigode e pulseira de uma vida inteira sem pedirem sua permissão. Na velhice, a decisão sobre sí mesmo já não vale mais de nada.   

domingo, junho 02, 2013

Sobre a morte II

Poucas coisas são tão certas quanto a morte e, apesar disso, uma vida inteira é sempre muito curta pra tornar essa ideia - quase que hipotética - real, natural e palpável.

quinta-feira, maio 30, 2013

Título

Possivelmente este é um dos textos mais fáceis que escrevo por aqui. Não tem como dar certeza, pois seria muita adivinhação em menos de uma frase concluir tal feito. Mas arrisco que sim, já que é a primeira vez em que o título é escrito antes de desenvolver a ideia, sem o risco de mudanças no pós texto. Um título escrito sem preocupações e tão rápido. 

É que eu tenho uma dificuldade enorme com títulos e é comum que eu gaste mais tempo pensando nele do que escrevendo o próprio texto, inteiro. E essa deficiência existe desde que comecei a escrever, ainda menina. Meu primeiro poeminha, por exemplo,  não tem nome. Já zerei uma prova da cadeira de redação jornalística por simplesmente ter esquecido de colocar o danado, já que deixei para o final. O texto, segundo meus amigos, tava foda. Muito foda. digno de 10 parabéns. Mas o professor alegou que nem chegou a ler a redação. 'me recuso a ler um texto que não tem título. Você é uma jornalista, se oriente" foi o que ele me disse naquela tarde, enquanto eu tentava, sem sucesso, salvar nem que fosse alguns pontinhos de nada pra que minha situação não fosse tão grave na prova final. 


A questão é que no decorrer dos anos depositei uma responsabilidade gigante nos títulos. Do mesmo modo que posso comprar um livro ou chocolate pela embalagem, eu leio um texto pelo título. Natural. E com esse pensamento, sempre travo na hora do dito cujo. Nunca tá bom. Ou não consegue captar a essência geral do texto, ou é óbvio demais ou é brega. Ou pior: não tem relação com o texto. A verdade é que meus títulos são sempre muito ruins e meu trauma com eles só começou a passar do desespero para o cômico quando comecei a escrever pra uma TV. Eu era da editoria de economia e tinha que respeitar uma quantidade x de caracteres, uma quantidade ridiculamente curta e desesperadora pra minha prolixidade toda. O desafio era transmitir cada notícia em 4 cartelas de mais ou menos uma linha e meia cada uma. E os títulos obviamente precisavam acompanhar a estética - curta. O padrão da TV pedia que fossem duas palavras, o título que eu mais gostava de usar era Eike Prejuízo. Se o coroa perdesse grana em suas ações e empresas eu já lançava a piadinha. Mas algumas vezes eu exagerava - na não criatividade e no ridículo. A clássica, que ficou pra história da TV, foi quando escrevi sobre o lucro do cultivo de milho no sertão de não sei onde e intitulei a matéria de "Milho". Depois desse dia, qualquer pergunta idiota que faziam na redação as pessoas respondiam Milho. Milho também servia pra quando alguém tava em dúvida "fica melhor assim ou assim?" "coloca Milho!". Ainda bem que não virou apelido. Ainda bem!


O mais estranho é saber que, a partir de agora, quem lê este blog vai ficar atento aos meus títulos - que antes podiam até passar despercebidos - e concordar com minha fraqueza. Ou quem sabe esse texto não serve apenas de step pra mostrar de maneira sagaz e se pá inteligente que, a partir de agora, meus títulos podem continuar sendo desse jeito meio sem jeito sem culpa - ao menos tenho a desculpa de dizer que assumi essa falha em público.