terça-feira, julho 16, 2013

Os próximos amores


A Igor


É fundo. É muito
É muito fundo 
Cava até a pontinha do último dedo do pé 
e depois continua a percorrer 
por caminhos que não conheço


Os próximos amores poderão ter os cabelos escuros e grisalhos, mas nunca com caspas pra eu arrancar uma por uma cuidadosamente

Poderão adorar minha comida, mas nunca mentir que é a melhor do mundo

Os próximos amores poderão morar em rua com nome bonito, mas que não cheire a dama da noite

Poderão acordar de mãos dadas comigo e com sede de sexo, mas nunca com fome de pão na chapa

Os próximos amores poderão ter problema nos joelhos, mas nunca dizer que 'hoje dei um tranco'. A questão não é machucar o joelho hoje, a questão é usar a palavra tranco

Poderão quebrar o dedo e ficar com a mão que escreve imobilizada por muito tempo, mas não deverão me escrever uma carta de duas páginas com a outra mão (a que não escreve) de maneira impecável como prova de amor

E, sobretudo, os próximos amores poderão e preferencialmente terão os olhos ou o sorriso infantis. Mas nunca - eu disse nunca - poderão ter os dois ao mesmo tempo. Olhos apertadinhos e brilhantes e sorriso com dentes graúdos e em estado de graça, em estado de semente. Olhos e sorrisos conversando em uma linguagem que não passa das vogais por extrapolarem na linguagem do amor. Não poderão ser assim, pois se por acaso vierem a ser, correrão um risco imenso de ser um amor feito aquele

Feito aquele, sim, só que menor




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