Fazer uma mudança, além do novo tão óbvio, também é se encontrar com o passado. Com o que fomos e com o que somos graças àquilo tudo, à toda essa bagagem. Dentre todas as coisas que guardo, minhas cartas são as mais preciosas. Guardo-as com todo amor do mundo. Elas têm o mesmo nível de valor das minhas fotografias, na verdade elas são fotografias em forma de voz, mesmo as vozes que a gente já não ouve há tanto tempo e sequer lembra do timbre, mas ela tá alí, registrada em linhas tão íntimas, certas, reais. Agora, agorinha mesmo, enquanto escrevo esse texto, estou entre caixas de papelão, fita cor parda, livros e cartas. E, ao embalar essas coisas, acabei não resistindo e lendo-as mais uma vez na vida - não sei quantas vezes já vivenciamos esse momento, eu e elas, mas foi gostoso poder rever que o amor muda, se transforma mesmo, mas que fica eternizado alí. E como é bom mergulhar nessa nostalgia vez por outra. Pra casa nova eu quero deixar todas as quinquilharias pra trás. Qualquer coisa que pese demais na bagagem. Que não acrescente. Abro mão de tudo, mais uma vez. Apesar de nem ter mais tanta coisa, eu abro mão das roupas e sapatos que não uso faz tempo, de uns acessórios bobos e levo apenas meus livros, discos, fotografias, a coleção de areia e, claro, minhas cartas.
Abaixo, um bilhetinho bonito do meu amigo Thales. De um amor que já mudou tantas vezes mas que, de alguma maneira, continua a existir.
"Você é encontro com alguém e comigo, na busca por te encontrar completa - com o mais de seis e o escambau que gente assim funda carrega no mistério. Não sei bem dizer o que esse encontro fez explodir na minha vida e na não-vida, mas posso afirmar que trombar com você é coisa que toma de assalto uma existência. Te amo sempre, mas sempre te odeio antes e depois."
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