É a primeira vez em muito tempo que volto nessa rua, rua essa que sempre me levou até você. 'tô descendo do ônibus, já chego!' 'tá, eu te encontro no meio do caminho!' era o que você, ansioso que só, sempre fazia mesmo sabendo que passaríamos a noite inteira juntos. E fazia não por algum motivo decretado como perigo ou frescura, mas pelo prazer de estar quinze ou dezesseis minutos a mais comigo. E passávamos no mercado, cervejinha diferente, ingredientes para o jantar, parmesão, vinho, tomate italiano, chocolate do frade.
Dessa vez eu não ia ao seu encontro. Eu não estava voltando do trabalho. Não ia ter mercado, beijos e vinhos.
A Paissandu é ainda tão bonita, mas com um sentido meio perdido. Me senti estranha a cada passo, como se não fosse de direito meu caminhar por ela agora, um guarda com caderneta em mãos pra me multar.
Não consigo redesenhá-la com outro cheiro, outro gosto, outra vivência. E nem quero. Essa rua, depois de tantos meses, continua sendo a que me leva até você, mesmo que você não esteja lá. Mesmo que eu não queira ir. Mesmo que. Essa rua não carece de outro significado se ela já é carregada de tanta lembrança que eu, à época, nem prestava atenção.
MARIA MÃE DE DEUS e toda sua falta de nexo continua escrita em tinta branca naquela árvore. Mais desconexo do que isso, somente não te ver no meio ou fim desse caminho. Mas te encontrar no final da rua, isso sim seria coisa maluca. E foi.
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