quinta-feira, julho 11, 2013

Além de delinquente é mal educada


Foi o que o moço do taxi pensou de mim. Primeiro entro no carro dizendo pra minha mãe que não sei se serei capaz de perdoá-la por ter me impedido de sair da loja com o carrinho de compras sendo empurrado os seis quarteirões até em casa. E, depois dela muito relutar em defesa própria, acabou caindo em tentação, pra desespero do motorista que devia ser de Deus - É, se bem que umas plantinhas alí dentro iam ficar lindas, né...  -Mas moça, como a senhora ainda influencia essas ideias na cabeça da menina? isso é roubo, um negócio que não é seu, ilegal, sei que lá, meia hora de sermão e de cara de bunda da minha mãe e de um descontrole emocional meu - não conseguia segurar o riso. Depois do discurso, respirei fundo e, nesse instante ingrato, um catarro daqueles desceu guela abaixo com aquele barulho estrondoso que a garganta faz nesses casos, barulho molhado. Barulho quase sólido e amarelado que a gente costuma ouvir nos botequins pega bêbo do Rio de Janeiro, daqueles homens só de bermuda meio sujinha, com um pé descansado na altura um pouco mais pra cima do joelho, enquanto o chinelo aguarda no chão. - Agora já era, foi o que pensei enquanto minha mãe, roxa de vergonha, escondia meu rosto contra seu peito. O motorista não conseguiu segurar e deu uma gaitada e eu, me perdoem caros, engoli o catarro, já que cuspir pela janela seria (ainda) mais bizarro. Pois é, provavelmente serei assunto do jantar daquele rapaz: uma menina delinquente, mal educada e injuriada por não ter aquele carrinho de compras (liiindo) agora, em casa, prazer.

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