segunda-feira, junho 03, 2013

Quando um botão decide a vida. Ou a morte.

                                                                                                                                     A vôvô

A velhice é a voz da experiência, um óculos redondo com olhinhos apertados por detrás e uma carinha fofa, apertável. 

Mentira. Tudo mentira. 


Quem pensa isso decerto nunca viu a velhice de perto, sem vestimentas, literalmente. A velhice não é bonita. Ela é degradante, deprimente e fedorente. Ela fede a mijo e pede pra não existir a cada reação. A velhice treme, teme, escorrega e se caga, toda. A velhice te faz velho demais pra querer ajuda e muito criança pra não aceitá-la. A velhice é uma droga forte e pesada. Palavras vazias, soltas. Velhice é uma cabeça que eu não tenho a mínima ideia de como funciona. São horas que demoram dias pra passar. Um quarto com quatro paredes. Um lençol sempre por trocar. São ferros por todo o banheiro. Velhice é não querer comer com a mão dos outros. Não querer mais falar um assunto desconexo. É ter uma eterna preguiça. Velhice, aquela já bem velha, é um olhar vago, vesgo. Um olhar que não vê. Um engasgo, um fiapo, um fardo enfadado. Velhice é aquele dia que tá sempre bem longe pra nós, jovens, e que mora no agora do meu avô. Velhice é tirarem o seu bigode e pulseira de uma vida inteira sem pedirem sua permissão. Na velhice, a decisão sobre sí mesmo já não vale mais de nada.   

2 comentários:

Maria disse...

Velhice é não querer comer com a mão dos outros

foda!

Julia Krüger disse...

estou chorando tanto que tu nem imagina. mas isso tudo só porque eu sei e-xa-ta-men-te do que tás falando (e tu sabe que eu sei) - e saber disso não me conforta. depois que passa, dá um alívio pela pessoa. mas não pela velhice em si. a velhice em si não passa, ela está nos perseguindo o tempo todo, chegando de mansinho. não sei, o que importa é que não enfrentar tudo isso sozinho já é algo que a faz menos horrível. temos que dar as mãos à velhice e aos velhos, o tempo todo. tem que fazer o que se pode. o resto é resto.